domingo, abril 03, 2011

Vende-se, eternidade!

Vende-se eternidade! Há corpos esquecidos no granito do chão. No frio condensado dos passeios gastos. Há fim. E há princípio. Há esquecimento onde começa um e fina outro. Há frio, tanto frio, feio, aflito nos gritos reverberados das mordaças de gente. Ali, ali. Ali estendida. Vende-se, um pedaço de infinito sem fim. Vende-se o pleonasmo da hipótese de labirinto infinito. Endless! Infindo! 

Vê. traduz: sem fim. E o que não tem fim pode ter salvação. Vê. Quantas imagens de memória cá dentro. Como se guilhotina um país com a ameaça do corte fatal de uma política algoz, implacável, predadora, voraz, pertinaz no rasgo impetuoso em bolso alheio. Vê o sufoco dos outros e talvez estejas em espectro na parede espelhada. Vê a hipótese. Pensa: quantos de nós sufocam estendidos? Quantos de nós se rendem ao aflito silêncio da cinza das horas. E quando as horas são cinzas é porque não há tempo. É porque deixamos de ser na cadência aflitiva de um calendário imaginário. Folheia-o. 

Vá, folheia-o e verás o gesto estendido da eternidade. Sem fim. Verás sempre um rasto. E um rasto é pedaço do que foi. Viste tudo isso ali estendido, no frio granito da calçada calada. Porque nunca falou. Porque a pedra desgastada nunca há-de falar até que nela repares, para que te fale da erosão. E erosão é vida. 

Onde há erosão há pedaços de vida. Refractárias vidas de alguém que por ali passou. Sim, há-de haver sempre corpos esquecidos no chão. Porque há. Digo-te que há. Há sempre etéreas existências carnais no caminho por onde passamos. Vidas alheias, não interessa. Basta sermos, para que queiramos comprar a eternidade. Hei-de ver o letreiro, num mundo onde tudo se compra. Vende-se, eternidade. 

Há-de ser um algoz implacável, em letras garrafais, a não ser que a compremos às parcelas. Aceita cartão de crédito?

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