domingo, março 13, 2016

Gatunagem, por causa do dia envelhecer

Poderia este texto relacionar-se com a ordem dos dias, falando de política, ocupando-se das notícias e das inquietações da Feira da Ladra em que se tornou a arena pública em Portugal. Poderia. Mas impuseram-se as conversas de um Domingo de sol dourado, como a querer despedir-se do Inverno, porque o olor a magnólias e orquídeas já entra assim pelas narinas. Toda uma sinfonia. Poderia, e eu nem sequer pensaria escrever este texto num domingo à tarde, não fosse o senhor Manuel, homem de mãos tremidas, herança de Parkinson, servindo chávenas de café, falar-me de gatunagem e solidão. 

Tudo começa com o desabafo:

- O meu melhor cliente de whiskey e aguardente deixou de beber. Era um bom cliente, daqueles de deixar dez a doze euros por semana. Agora com o Glaucoma que lhe detectaram só pede água e café, já me avisou. O dinheiro já não é muito, mas eu não faço isto por lucro. Não fosse a vontade de passar o tempo, eu nem abria o café ao domingo. É só gatunagem. Olhe ainda a semana passada, deviam vir da noite, desses discotecas, uns três mandriões, chegaram aqui às oito da manhã, pediram cafés e um deles caminhou até ao fundo do café, voltou e disse: 'Mas aqui não há nada para roubar!' Pediram que colocasse um cheirinho de whiskey no café e eu recusei, foram-se embora e não pagaram. Menos mal. Pior foi depois: veio um sujeito, pediu-me duas tostas mistas, um queque, duas meias de leite e um maço de cigarros. Na hora de pagar revistou os bolsos todos e fez de conta que se tinha esquecido da carteira. Eu agarrei o maço de cigarros para não ter o prejuízo todo e ele foi-se embora. Não apareceu até agora. Lá se foram sete euros do meu bolso. E é isto. Há tantas histórias. Não fosse a vontade de matar a solidão não me sujeitava a isto. Mas ainda é melhor do que ficar em casa a ver o dia envelhecer.


sábado, março 12, 2016

(Sábados) Urbanos#3

A natureza a fazer arte desde a origem da vida.
Foto: Vanessa Rodrigues

(Sábados) Urbanos#2

Passeios pelo Porto |Foto: Vanessa Rodrigues

(Sábados) urbanos#1

Passeios pela cidade do Porto|Foto: Vanessa Rodrigues

domingo, fevereiro 07, 2016

Um mar de guarda-chuvas





A primeira vez que descobri a magia da fotografia foi com uma Canon analógica da família, que foi responsável, durante muito tempo, pelos momentos eternizados em dezenas de álbuns guardados hoje no armário da sala. Por isso, a minha primeira missão oficial enquanto aspirante a jornalista foi documentar os acontecimentos familiares, que não variavam muito entre aniversários, viagens e festas.

Hoje partilho menos o que fotografo, talvez porque creio que a fotografia é um olhar muito pessoal e íntimo. E fui-me apercebendo que me interesso mais pelo arquivo de outros tempos, folheando livros de fotógrafos, na esperança que essa viagem pela memória dos outros me leve a desvelar misteriosas formas de estar e ser.
Aconteceu há uma semanas enquanto folheava o livro “História da Imagem Fotográfica em Portugal” (Porto Editora), de António Sena, encontrando uma imagem de 1912, da qual me tornei visitadora diária. Nela, “um mar de guarda-chuvas numa avenida orlada por árvores” impõe o ponto de fuga para um horizonte que parece inalcançável. 

A fotografia é do conceituado fotógrafo Joshua Benoliel, que curiosamente nasceu a 13 de janeiro de 1873 [dia em que escrevo este texto] e cujo sobrenome em hebraico significa filho do sol. Essa imagem tem tanto de magnético, como de belo e assombroso. Vemos árvores despidas com galhos esguios e invernais, que aprisionam, e vemos guarda-chuvas negros, encaixados como um puzzle, que são ali o tecto de vários homens e mulheres, que aguardam a chegada de Afonso Costa, chefe do Governo Provisório da República.
Durante dias, tentei entender por que razão esta fotografia me alimentou tanto de inquietações, exercendo uma espécie de hipnose voluntária. Juro que poderia ouvir o silêncio das vidas ali expectantes, garanto que ouvi o rumorejar do vento, o beijo gélido da invernia, e uma certa esperança na quietude dos corpos, unidos num mar, como massa liquefeita em que parece materializar-se a multidão. Olho-a e percebo a atualidade deste mar de guarda-chuvas numa via pública, sobretudo porque o temporal das últimas semanas liquidou-me dois guarda-chuvas, um deles fustigado pela fúria do vento que dobrou as mais resistentes varas que conhecera até então.

Levantei a cabeça nesta peleja eu-versus-natureza e deu-se a epifania: vi homens e mulheres a lutarem contra o vento feroz, e um mar de guarda-chuvas dobrados e estraçalhados, sem salvação possível, numa rua orlada por árvores nuas. Imaginei logo tratar-se de um cemitério de guarda-chuvas, onde o vento assobiava um requiem baixinho; e recordei-me da imagem de Benoliel. Juro que fotografei mentalmente este momento, mas para já ainda não há impressoras com ligação wi-fi ao cérebro.

Crónica publicada no Porto24, a 14 de janeiro de 2016, dia do meu aniversário.

sábado, janeiro 02, 2016

Bucólicas, ilha de Paquetá (Rio de Janeiro)

Vanessa Rodrigues

Vanessa Rodrigues
Vanessa Rodrigues


Vanessa Rodrigues

Vanessa Rodrigues

sexta-feira, janeiro 01, 2016

Amanhecer

O ano passado houve queixas de que fotografei "poucochinho" (aliás uma das palavras do ano).. Não é verdade, partilhei foi pouco no planeta online. Que não seja por isso: Boa tarde 2016! Ilha de Paquetá, Novembro de 2015.


Foto de Vanessa Rodrigues
Foto de Vanessa Rodrigues