tag:blogger.com,1999:blog-244835612024-03-14T03:01:13.110+00:00Crónica Luna SambaE outros lugares de Bossa Nova.
Blog de vanessa rodriguesAnonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.comBlogger1198125tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-7932455292256007262016-03-13T18:49:00.002+00:002016-03-13T18:49:38.051+00:00Gatunagem, por causa do dia envelhecer<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Poderia este texto relacionar-se com a ordem dos dias, falando de política, ocupando-se das notícias e das inquietações da Feira da Ladra em que se tornou a arena pública em Portugal. Poderia. Mas impuseram-se as conversas de um Domingo de sol dourado, como a querer despedir-se do Inverno, porque o olor a magnólias e orquídeas já entra assim pelas narinas. Toda uma sinfonia. Poderia, e eu nem sequer pensaria escrever este texto num domingo à tarde, não fosse o senhor Manuel, homem de mãos tremidas, herança de Parkinson, servindo chávenas de café, falar-me de gatunagem e solidão. <br />
<br />
Tudo começa com o desabafo:<br />
<br />
- <i>O meu melhor cliente de whiskey e aguardente deixou de beber. Era um bom cliente, daqueles de deixar dez a doze euros por semana. Agora com o Glaucoma que lhe detectaram só pede água e café, já me avisou. O dinheiro já não é muito, mas eu não faço isto por lucro. Não fosse a vontade de passar o tempo, eu nem abria o café ao domingo. É só gatunagem. Olhe ainda a semana passada, deviam vir da noite, desses discotecas, uns três mandriões, chegaram aqui às oito da manhã, pediram cafés e um deles caminhou até ao fundo do café, voltou e disse: 'Mas aqui não há nada para roubar!' Pediram que colocasse um cheirinho de whiskey no café e eu recusei, foram-se embora e não pagaram. Menos mal. Pior foi depois: veio um sujeito, pediu-me duas tostas mistas, um queque, duas meias de leite e um maço de cigarros. Na hora de pagar revistou os bolsos todos e fez de conta que se tinha esquecido da carteira. Eu agarrei o maço de cigarros para não ter o prejuízo todo e ele foi-se embora. Não apareceu até agora. Lá se foram sete euros do meu bolso. E é isto. Há tantas histórias. Não fosse a vontade de matar a solidão não me sujeitava a isto. Mas ainda é melhor do que ficar em casa a ver o dia envelhecer. </i><br />
<br />
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-36368685454847170652016-03-12T19:57:00.001+00:002016-03-12T19:57:19.985+00:00(Sábados) Urbanos#3<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
A natureza a fazer arte desde a origem da vida. <br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeW7D78cKIRBFXs5ZWlphOvgj8xljvvMTE56mh2a7NfvAeKw9EndF6dtIvBoV6LERD1QDEqioMfTSsRnNK8UEzzs8d2LifN6NVgf51Z4gCtXDm3GObOhT2hBYKDwJv20CDdK1G9Q/s1600/suburbanos+%25284+de+1%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="478" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeW7D78cKIRBFXs5ZWlphOvgj8xljvvMTE56mh2a7NfvAeKw9EndF6dtIvBoV6LERD1QDEqioMfTSsRnNK8UEzzs8d2LifN6NVgf51Z4gCtXDm3GObOhT2hBYKDwJv20CDdK1G9Q/s640/suburbanos+%25284+de+1%2529.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto: Vanessa Rodrigues</td></tr>
</tbody></table>
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-86587780289010153162016-03-12T19:48:00.000+00:002016-03-12T19:48:42.182+00:00(Sábados) Urbanos#2<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8gP9vYSQP-IuxQ94dtfV4riiYbtM9fQO-ydagD7rijWoqcyGeruhu_Gr_vRvf5TV3xcjZkTcYhHF4I9VBRa5Z2PCmzyHpSz6BbF-X8eV8tIhwakBjWBZFDv6giGwwtOvijsVBrw/s1600/suburbanos+%25282+de+1%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="478" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8gP9vYSQP-IuxQ94dtfV4riiYbtM9fQO-ydagD7rijWoqcyGeruhu_Gr_vRvf5TV3xcjZkTcYhHF4I9VBRa5Z2PCmzyHpSz6BbF-X8eV8tIhwakBjWBZFDv6giGwwtOvijsVBrw/s640/suburbanos+%25282+de+1%2529.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Passeios pelo Porto |Foto: Vanessa Rodrigues</td></tr>
</tbody></table>
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-57646155824127422992016-03-12T19:33:00.000+00:002016-03-12T19:33:39.707+00:00(Sábados) urbanos#1<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7UwC3vIZRfWuRkLU8-euReR0UlhZ_EIaecc4dFwRuDnetkkiE7LIBHThuGx9Q_2_Qo6uWUKgrknn0_L5QJJw_KSFLsbQSAe48gNEwzhn7EFnfI9O_PFzzo-2fv4JYUMcINSzlcw/s1600/suburbanos+%25281+de+1%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" border="0" height="476" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7UwC3vIZRfWuRkLU8-euReR0UlhZ_EIaecc4dFwRuDnetkkiE7LIBHThuGx9Q_2_Qo6uWUKgrknn0_L5QJJw_KSFLsbQSAe48gNEwzhn7EFnfI9O_PFzzo-2fv4JYUMcINSzlcw/s640/suburbanos+%25281+de+1%2529.jpg" title="Vanessa Rodrigues" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Passeios pela cidade do Porto|Foto: Vanessa Rodrigues</td></tr>
</tbody></table>
<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br /></div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-14437935382200948722016-02-07T19:46:00.001+00:002016-02-07T19:52:03.812+00:00Um mar de guarda-chuvas<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<style type="text/css">P { margin-bottom: 0.21cm; }</style>
<br />
<div style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">
</span></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">
</span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_jYPDe6zSWEK5KZgJxR5b4KUuUOE5aI5W2BjkScjni2pPwGJBhld6sQOKJoTkNIui8iIa4l44TtZ-3XZQT8YgFb3EGCtjSwVHzTzBhScSmJ1961wzPOYgoWuDHyMkbOzrzAr8XA/s1600/12524004_10208224139820127_4426909126684422052_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="296" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_jYPDe6zSWEK5KZgJxR5b4KUuUOE5aI5W2BjkScjni2pPwGJBhld6sQOKJoTkNIui8iIa4l44TtZ-3XZQT8YgFb3EGCtjSwVHzTzBhScSmJ1961wzPOYgoWuDHyMkbOzrzAr8XA/s400/12524004_10208224139820127_4426909126684422052_n.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: normal;"><span style="font-size: normal;">A
primeira vez que descobri a magia da fotografia foi com uma Canon
analógica da família, que foi responsável, durante muito tempo,
pelos momentos eternizados em dezenas de álbuns guardados hoje no
armário da sala. Por isso, a minha primeira missão oficial enquanto
aspirante a jornalista foi documentar os acontecimentos familiares,
que não variavam muito entre aniversários, viagens e festas.</span></span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: normal;"><span style="font-size: normal;"><br />Hoje
partilho menos o que fotografo, talvez porque creio que a fotografia
é um olhar muito pessoal e íntimo. E fui-me apercebendo que me
interesso mais pelo arquivo de outros tempos, folheando livros de
fotógrafos, na esperança que essa viagem pela memória dos outros
me leve a desvelar misteriosas formas de estar e ser.<br />Aconteceu há
uma semanas enquanto folheava o livro “História da Imagem
Fotográfica em Portugal” (Porto Editora), de António Sena,
encontrando uma imagem de 1912, da qual me tornei visitadora diária.
Nela, “um mar de guarda-chuvas numa avenida orlada por árvores”
impõe o ponto de fuga para um horizonte que parece inalcançável. </span></span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: normal;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: normal;"><span style="font-size: normal;">A
fotografia é do conceituado fotógrafo Joshua Benoliel, que
curiosamente nasceu a 13 de janeiro de 1873 [dia em que escrevo este
texto] e cujo sobrenome em hebraico significa filho do sol. Essa
imagem tem tanto de magnético, como de belo e assombroso. Vemos
árvores despidas com galhos esguios e invernais, que aprisionam, e
vemos guarda-chuvas negros, encaixados como um puzzle, que são ali o
tecto de vários homens e mulheres, que aguardam a chegada de Afonso
Costa, chefe do Governo Provisório da República.<br />Durante dias,
tentei entender por que razão esta fotografia me alimentou tanto de
inquietações, exercendo uma espécie de hipnose voluntária. Juro
que poderia ouvir o silêncio das vidas ali expectantes, garanto que
ouvi o rumorejar do vento, o beijo gélido da invernia, e uma certa
esperança na quietude dos corpos, unidos num mar, como massa
liquefeita em que parece materializar-se a multidão. Olho-a e
percebo a atualidade deste mar de guarda-chuvas numa via pública,
sobretudo porque o temporal das últimas semanas liquidou-me dois
guarda-chuvas, um deles fustigado pela fúria do vento que dobrou as
mais resistentes varas que conhecera até então.</span></span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: normal;"><span style="font-size: normal;"><br />Levantei a
cabeça nesta peleja eu-versus-natureza e deu-se a epifania: vi
homens e mulheres a lutarem contra o vento feroz, e um mar de
guarda-chuvas dobrados e estraçalhados, sem salvação possível,
numa rua orlada por árvores nuas. Imaginei logo tratar-se de um
cemitério de guarda-chuvas, onde o vento assobiava um requiem
baixinho; e recordei-me da imagem de Benoliel. Juro que fotografei
mentalmente este momento, mas para já ainda não há impressoras com
ligação wi-fi ao cérebro.</span></span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: normal;"><br /></span></span></div>
<div style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="font-size: normal;"><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><span style="font-size: normal;"><i><a href="http://www.porto24.pt/opiniao/um-mar-de-guarda-chuvas/" target="_blank">Crónica publicada no Porto24</a>, a 14 de janeiro de 2016, dia do meu aniversário.</i></span></span> </span></span></div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-39875484617048108172016-01-02T15:45:00.002+00:002016-01-02T15:45:38.469+00:00Bucólicas, ilha de Paquetá (Rio de Janeiro)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgocUf_Rn2r5UCSf7CCgO6NnOcBQmlAG9yZQ-PdtnayOrzemMO_BewAYRDgZrJki6Jr6psHe-blRHmxgnvD5G-BF56zVp_2JkYSPiJ6RmONZMXAjTrntUnYPtfcmHEvgZESPiG7ww/s1600/paqueta+%25283+de+5%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="476" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgocUf_Rn2r5UCSf7CCgO6NnOcBQmlAG9yZQ-PdtnayOrzemMO_BewAYRDgZrJki6Jr6psHe-blRHmxgnvD5G-BF56zVp_2JkYSPiJ6RmONZMXAjTrntUnYPtfcmHEvgZESPiG7ww/s640/paqueta+%25283+de+5%2529.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Vanessa Rodrigues</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKmDIeWeN_wNo3x51ln6kZSfZMMGSeg6xHJlaORDx9RSi_Wg9NrVp_tQjwLvgPf_z2RmX9PqxMlba2PQPTjTTpX1Ql-18qePrDShlFWF3PHy-j3AecB7l03hLZYOlc1lDmD6zPhA/s1600/paqueta+%25284+de+5%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="481" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhKmDIeWeN_wNo3x51ln6kZSfZMMGSeg6xHJlaORDx9RSi_Wg9NrVp_tQjwLvgPf_z2RmX9PqxMlba2PQPTjTTpX1Ql-18qePrDShlFWF3PHy-j3AecB7l03hLZYOlc1lDmD6zPhA/s640/paqueta+%25284+de+5%2529.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Vanessa Rodrigues</td></tr>
</tbody></table>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFouKzK0ZHD__rnH1ULVtmOReuQZS-KoF1LS2yfhxuJTEPDOwfUv_UnAT1STF62miREb0VYAi1weZQ2jmPpWX4qiae1FJr0kGh1SjW4GdGai6Y5_MsvxDL9Y1GpYy_SbPpIjy5sQ/s1600/paqueta+%25285+de+5%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="476" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFouKzK0ZHD__rnH1ULVtmOReuQZS-KoF1LS2yfhxuJTEPDOwfUv_UnAT1STF62miREb0VYAi1weZQ2jmPpWX4qiae1FJr0kGh1SjW4GdGai6Y5_MsvxDL9Y1GpYy_SbPpIjy5sQ/s640/paqueta+%25285+de+5%2529.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Vanessa Rodrigues</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLTllfXQSImf0c07drvkSxAX07e9blBTaUKpN3FLY5oVMnhxiuWkXYaW91hUovemN1Oc7lCE2KCT1UR1bBq3rNCjH7FliY5dcg_-go3zfdaaVp7ohRcDza6wV6Wu97_6vD7p30dA/s1600/paqueta+%25286+de+5%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="476" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLTllfXQSImf0c07drvkSxAX07e9blBTaUKpN3FLY5oVMnhxiuWkXYaW91hUovemN1Oc7lCE2KCT1UR1bBq3rNCjH7FliY5dcg_-go3zfdaaVp7ohRcDza6wV6Wu97_6vD7p30dA/s640/paqueta+%25286+de+5%2529.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Vanessa Rodrigues</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSVkjSe6ZvOVWC_GArc7aH47ShFINpzRli9-jDsu7dp4s5JPoVBAtZZsDsDaQTxU7HVf5ObcJso6sWxxryfJY6UUnYgmuXOOVSg6JNPPKUwb8yZmbynpyCHBFig00FN7ftl682zQ/s1600/paqueta+%25287+de+5%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="476" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiSVkjSe6ZvOVWC_GArc7aH47ShFINpzRli9-jDsu7dp4s5JPoVBAtZZsDsDaQTxU7HVf5ObcJso6sWxxryfJY6UUnYgmuXOOVSg6JNPPKUwb8yZmbynpyCHBFig00FN7ftl682zQ/s640/paqueta+%25287+de+5%2529.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Vanessa Rodrigues</td></tr>
</tbody></table>
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-76874138631887372322016-01-01T14:20:00.000+00:002016-01-01T14:23:09.166+00:00Amanhecer<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><span style="font-size: small;"><span class="fbPhotosPhotoCaption" data-ft="{"tn":"K"}" id="fbPhotoSnowliftCaption" tabindex="0"><span class="hasCaption">O
ano passado houve queixas de que fotografei "poucochinho" (aliás uma
das palavras do ano).. Não é verdade, partilhei foi pouco no planeta
online. Que não seja por isso: Boa tarde 2016! Ilha de Paquetá, Novembro
de 2015.</span></span></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb2nf86AjVr0dWqNXXkQpxVx45nkdTvpBNNR9bVlVChZfUKhyphenhyphenuKM12ZdouMfKMOhKdfim1q2GluB_tGJLxptMHiKMuPPfiTvOHc5nadadr7P-24WqEP2CKpEhjgoIYXHXOw_IK0g/s1600/paqueta+%25282+de+1%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img alt="" border="0" height="481" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjb2nf86AjVr0dWqNXXkQpxVx45nkdTvpBNNR9bVlVChZfUKhyphenhyphenuKM12ZdouMfKMOhKdfim1q2GluB_tGJLxptMHiKMuPPfiTvOHc5nadadr7P-24WqEP2CKpEhjgoIYXHXOw_IK0g/s640/paqueta+%25282+de+1%2529.jpg" title="" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto de Vanessa Rodrigues</td></tr>
</tbody></table>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWpwU-tA9tcKRtZ6aQ343Kd5rSF7ZELB2jGHW7dww4eJfgxcatBSNXlSUY4bcY1F5oe3YAUBLaKq8JYkmRYE2T03NOO2rNwOgbDPH-Hd_pqC_sCqkh2Bd2zG4TKzbds0Pi0DHZHw/s1600/paqueta+%25281+de+1%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="476" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWpwU-tA9tcKRtZ6aQ343Kd5rSF7ZELB2jGHW7dww4eJfgxcatBSNXlSUY4bcY1F5oe3YAUBLaKq8JYkmRYE2T03NOO2rNwOgbDPH-Hd_pqC_sCqkh2Bd2zG4TKzbds0Pi0DHZHw/s640/paqueta+%25281+de+1%2529.jpg" width="640" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="color: #0000ee;"><u>Foto de Vanessa Rodrigues</u></span></td></tr>
</tbody></table>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-81889788716303023112015-12-16T15:47:00.000+00:002016-01-02T15:48:01.774+00:00Onde andará Ingrid?<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">1. No primeiro Natal de Alberto, os ratos roubaram o bacalhau da pia,
onde o peixe estava de molho. Toda a família, que poupara o ano inteiro
para poder ter um pedaço de Portugal na vida emigrada no Brasil, ficou a
pão, batatas e cebola. Dias depois, como o cheiro nauseabundo
infestasse o ar com a sua pestilenta marca de podridão, foram descobrir
restos de bacalhau por baixo dos tacos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">2. Chego ao Brasil e a vida parece ser mais lírica. Senão vejamos:
durmo num quarto onde as estantes são albergue do mais excelso legado
literário do Brasil com edições lindas, antigas, ornadas de pó
implacável e as cicatrizes amareladas no papel. Mais: viajo para a Ilha
de Paquetá com as Anas e vamos a ler em voz alta “A Moreninha”, romance
do século XIX de Joaquim Manuel de Macedo que se terá passado nesse
pedaço de terra. Depois, chego a conhecer um descendente do escritor
Guerra Junqueiro; outra: consigo uma edição rara do livro “Emigrantes”
do Ferreira de Castro, com ilustrações de Júlio Pomar. Há qualquer coisa
no ar dos trópicos!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">3. Alberto foi um dos que inauguraram a estrada que rasga o Brasil do
Rio de Janeiro até Brasília, em 1960, ao volante de um camião,
transportando os móveis dos políticos que estavam de mudança. Achou que
voltaria com o serviço pago, mas tudo o que lhe deram foi um tal de
cheque. Nesses 15 dias, a mulher, que lavava roupa para fora, amealhara o
suficiente para comprar o fogão que cozinharia o primeiro jantar de
Natal. Ele que fosse trocar esse tal de cheque porque era preciso ir,
finalmente, comprar o bacalhau. Alberto não poderia adivinhar que, dois
anos depois, voaria num pássaro gigante para Portugal e que traria o
bacalhau escondido numa mala.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">4. É a primeira vez que Ingrid viaja de avião e que passará o Natal
sem os pais, diz-me. Testemunho o seu batismo de ar, com nove horas de
viagem, atravessando o Atlântico, aos 16 anos. Ela conheceu uma amiga
portuguesa pela internet, os pais certificaram-se que essa amiga existia
e que não era um homem mal intencionado. Lá a deixariam passar um mês
em Portugal. Aterramos, separamo-nos com a promessa que nos
encontraríamos do outro lado, cumpridas as formalidades fronteiriças;
passo com o meu passaporte eletrónico mais rápido do que ela;
perdemo-nos. E recordo a frase do livro “A menina quebrada” de Eliane
Brum: “hoje, sou povoada pelos homens e mulheres extraordinários que
escutei como repórter. E agora tudo o que vivi dará sentido ao que
virá”. Ocorre-me, talvez por isto: “Onde andará Ingrid?”</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><a href="http://www.porto24.pt/opiniao/onde-andara-ingrid/" target="_blank"><i>*Crónica publicada a 16 de Dezembro de 2015 no Porto24, Bairro dos Livros. </i></a></span></div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-4655211914197402402015-11-19T11:54:00.003+00:002015-11-19T11:55:56.709+00:00O feitiço<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div align="JUSTIFY">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: small;"><span style="font-size: xx-small;">Há qualquer coisa de
esperança na luz do fogo. Apesar da raiva destrutiva. Apesar do rasto
avassalador. Quando o escritor Ray Bradbury escreveu </span><span style="font-size: xx-small;"><i>Fahrenheit 451,</i></span><span style="font-size: xx-small;">
remetendo para a temperatura a que ardem os livros, e colocou uma cena
em que os homens falam, de cor, sobre eles, à volta de uma fogueira,
porque a censura condenara as obras a ser pó, pela língua da labareda,
ele queria era metaforizar a esperança. Quando Guy Montag, o bombeiro
dissidente, protagonista do romance escrito em 1953, os encontra,
clandestinos, a falarem dos livros que leram, é como se sentíssemos, que
apesar da desesperança, há uma perspetiva. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<div align="JUSTIFY">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: small;"><span style="font-size: xx-small;">Se quando nos tiram todos os
livros – privando-nos da sabedoria escrita e desse alicerce cinzelado
pela mão do Homem-, algo acontece nos mecanismos de resistência de
alguns homens que, com avidez e sageza, se unem à volta de uma fogueira,
é porque há uma possibilidade. É que eu vejo o horizonte dessa
humanidade sempre que estou à volta de uma fogueira. Uma espécie de
feitiço em que os homens são somente homens, em que as mulheres são
somente mulheres, estendidos à condição de existir, ali e naquele
momento, usando a mais bela das tecnologias: as vivências como
repositório de aventuras e relatos de ser. Talvez seja isso o que nus
realmente possuímos. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: small;">
</span>
<div align="JUSTIFY">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: small;"><span style="font-size: xx-small;">E esse feitiço
acontece-me desde pequena. À luz de fogaréus respeitosos no chão da casa
dos meus bisavós fiz a minha entronização. Sem televisão e depois de
sopas de cavalo cansado, contavam-se histórias reais, misturadas como o
imaginário popular e telúrico. Façanhas de homens que chegavam a casa
com coelhos à cintura porque a caça fora boa; histórias de mulheres que
criaram filhos sozinhas porque os homens à guerra foram e lá ficaram;
relatos de noites em branco por causa dos lobos; contos de resistência,
como o fogo. Talvez por isto, hoje, sempre que me sento ao redor delas,
não resisto a perguntar aos que lá estão:</span></span></div>
<div align="JUSTIFY">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: small;">
</span>
<div align="JUSTIFY">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: small;"><span style="font-size: xx-small;"><i><b>- Lembras-te de alguma história?</b></i></span></span></div>
<div align="JUSTIFY">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: small;">
</span>
<div align="JUSTIFY">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: small;"><span style="font-size: xx-small;">É como se padecesse
de uma maleita dos bichos carpinteiros pelo corpo inteiro, como se a voz
fosse mais rápida do que a timidez. Aconteceu a semana passada,
enquanto a Sara e o Anselmo alimentavam o fogo para as castanhas e os
pimentos da horta do Éden, esse Jardim do Pólo de Indústrias Criativas
do Porto. Havia folhas secas a estalar como ingredientes nobres dessa
labareda; havia cheiro a aldeia nos nossos cabelos, na nossa roupa, nas
nossas mãos. Havia tocos secos acamados no meio do carvão. E nós a
costurar no ar os fios invisíveis que deixam essas estórias soltas, pelo
éter. Uma espécie de liberdade bruxuleante. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY">
<span style="font-size: small;"><br /></span></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: small;">
</span>
<div align="JUSTIFY">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Numa horta de um pólo
de indústrias criativas creio que não poderá haver algo mais de
tecnológico do que esta condição humana do que a magia da fogueira e da
memória oral à volta dela. Apesar de o rasto das gestas narradas não
serem visíveis, creio que é a única coisa que o fogo não destrói mas
motiva: o feitiço inextinguível de sermos natos contadores de
histórias. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; font-size: small;"><i><span style="font-size: xx-small;"><br /></span></i></span></div>
<div align="JUSTIFY">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><i>*Crónica publicada a 19 de Novembro de 2015 no<a href="http://www.porto24.pt/opiniao/o-feitico/" target="_blank"> Porto24</a></i></span></span></div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-33115759714985589082015-11-01T20:20:00.001+00:002015-11-01T20:20:41.099+00:00Domingos suburbanos<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: small;"><span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Podem vir as HDDSLR. Podem vir os iphones. Podem vir as compactas com os seus invejáveis píxeis. Fui ao resgate. Naufragada no armário, tal qual Rapunzel esquecida, ou carcerária do esquecimento (mea culpa, seduzida pela tecnologia da imagem like a candy shop), a minha "velha" Nikon D70 (com todas as suas limitações etcetera e tal) voltou ao activo. Diz que é uma espécie de resgate vintage. É isso: a D70 virou vintage. E saiu à rua numa tarde de domingo assim; suburbana! Back to war. The hunter is back!</span></span>Ladies and gentleman a vida num domingo ao fim da tarde, pelo Porto. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrwikedYNWetx9qNPJmrWPWs0CY8O7kyi4G9B_mSeeBSR9tIHsMBqK6ehFrLAHnRrptV6Oo0FneeHk1jfC5djtGVTnANFtnnO4R8zCMJb2YOzU4XqBDddvYzO29U7bQdUSQIXu9A/s1600/domingosuburbano+%25284+de+1%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrwikedYNWetx9qNPJmrWPWs0CY8O7kyi4G9B_mSeeBSR9tIHsMBqK6ehFrLAHnRrptV6Oo0FneeHk1jfC5djtGVTnANFtnnO4R8zCMJb2YOzU4XqBDddvYzO29U7bQdUSQIXu9A/s640/domingosuburbano+%25284+de+1%2529.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2MyHtwlP4jIGqs5WgNLgYQfdISmFDH43RSOPUjNDMTmmXg-Qf_f_6l35pC9AvvNHOtR5-l6Q1QnThA_UjyA6-Ys03EmGoiuWP3C0GxZO-mM6cvkRybyzTNceiDMY2d2NtAOImfg/s1600/domingosuburbano+%25283+de+1%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2MyHtwlP4jIGqs5WgNLgYQfdISmFDH43RSOPUjNDMTmmXg-Qf_f_6l35pC9AvvNHOtR5-l6Q1QnThA_UjyA6-Ys03EmGoiuWP3C0GxZO-mM6cvkRybyzTNceiDMY2d2NtAOImfg/s640/domingosuburbano+%25283+de+1%2529.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<br />
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhx11eDT7D8X6PsLmnQB7tSOOOeIhM_vGN_gVwzIeA779QTTygd3XBhjAwbKfzOEgPoYGYx1HsWD9aRjDp8kuXMqb33tIWzM72h0Fdy8pjmGubR10JZ9SA2IeOGObnKLds-UL8RGw/s1600/domingosuburbano+%25281+de+1%2529.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhx11eDT7D8X6PsLmnQB7tSOOOeIhM_vGN_gVwzIeA779QTTygd3XBhjAwbKfzOEgPoYGYx1HsWD9aRjDp8kuXMqb33tIWzM72h0Fdy8pjmGubR10JZ9SA2IeOGObnKLds-UL8RGw/s640/domingosuburbano+%25281+de+1%2529.jpg" width="640" /></a><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEga69nc9ISgfDtbNCqYA6jNE9UR644Wi-I8PwBvZ_WsvQj6czLitkvOLdIGzhoQxQ4RITgPUKj9rXubEk5vtq5nFUKW8BL_01j3iQCUuT7IjjgyYfBm98VOYg2S7ilsfyv7Cxtacg/s1600/domingosuburbano+%25285+de+1%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEga69nc9ISgfDtbNCqYA6jNE9UR644Wi-I8PwBvZ_WsvQj6czLitkvOLdIGzhoQxQ4RITgPUKj9rXubEk5vtq5nFUKW8BL_01j3iQCUuT7IjjgyYfBm98VOYg2S7ilsfyv7Cxtacg/s640/domingosuburbano+%25285+de+1%2529.jpg" width="424" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxOeb7k6ImCm_p1ZzxqGt1gVbqjZd9pN-zCWWz5D1ENf_Tx2QJIRh3UH5D1USQG3hARyAG1zT4D0h1vcux8wAkaQBZnZbMbq6YWN_vkL6P82dJsUbHyTx3AwaeGsPKlbYZ0DIfCA/s1600/domingosuburbano+%25286+de+1%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxOeb7k6ImCm_p1ZzxqGt1gVbqjZd9pN-zCWWz5D1ENf_Tx2QJIRh3UH5D1USQG3hARyAG1zT4D0h1vcux8wAkaQBZnZbMbq6YWN_vkL6P82dJsUbHyTx3AwaeGsPKlbYZ0DIfCA/s640/domingosuburbano+%25286+de+1%2529.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh73YZOwi4RPidPMsoHD5_djXKLJUPij5aDWbWq3nEKMohPRnqcRYpBPE9bGC19nYt9HSAj5ouXfpNSDNj3xL6ZEINlB7PWRdtZQ4Nab0Xm4cUGX1qjC7bxAN6EnlWc4_4jen-pmA/s1600/domingosuburbano+%25287+de+1%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh73YZOwi4RPidPMsoHD5_djXKLJUPij5aDWbWq3nEKMohPRnqcRYpBPE9bGC19nYt9HSAj5ouXfpNSDNj3xL6ZEINlB7PWRdtZQ4Nab0Xm4cUGX1qjC7bxAN6EnlWc4_4jen-pmA/s640/domingosuburbano+%25287+de+1%2529.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhm_-iVk-qqzyZOkIQ2qroAKDj71kv4C67Q49EnUZGgHnNwo97IWydoA5huH1XlEjZNY9UZj2jkCQcbIRH44V3QEJxZYkwOvycUvQ3FfheXnafuUIWXC9dAhnXw87umEFPeilWssg/s1600/domingosuburbano+%25288+de+1%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhm_-iVk-qqzyZOkIQ2qroAKDj71kv4C67Q49EnUZGgHnNwo97IWydoA5huH1XlEjZNY9UZj2jkCQcbIRH44V3QEJxZYkwOvycUvQ3FfheXnafuUIWXC9dAhnXw87umEFPeilWssg/s640/domingosuburbano+%25288+de+1%2529.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR9aPUQIq3eTdIh-AVwdccb5hAY-uSwz0LbHLbgpRzuQx3Ha9twVT0ek5A2ja1UsmSqjHZ7KuzbsRAT2L38IcB65A7p-8vBBebyMnJQmzYf2jg2k19y3l2BaBMsvFE4n3Q_w4Qpg/s1600/domingosuburbano+%25289+de+1%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR9aPUQIq3eTdIh-AVwdccb5hAY-uSwz0LbHLbgpRzuQx3Ha9twVT0ek5A2ja1UsmSqjHZ7KuzbsRAT2L38IcB65A7p-8vBBebyMnJQmzYf2jg2k19y3l2BaBMsvFE4n3Q_w4Qpg/s640/domingosuburbano+%25289+de+1%2529.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5I3gi60jg-K3HDMGXiyJbJ2MCwd9Luw0gwIdrimhD_o8ZwNHVCPEm0HIerogb0kOiRC7fwOmFQinepghsmbojZvsdJ3Z_L21Cz_pnxsbTwmL0x2iAR1OSKwH1Fj6PCbsJAOYkFA/s1600/domingosuburbano+%252810+de+1%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5I3gi60jg-K3HDMGXiyJbJ2MCwd9Luw0gwIdrimhD_o8ZwNHVCPEm0HIerogb0kOiRC7fwOmFQinepghsmbojZvsdJ3Z_L21Cz_pnxsbTwmL0x2iAR1OSKwH1Fj6PCbsJAOYkFA/s640/domingosuburbano+%252810+de+1%2529.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBJt2qWxwGDj2tknXeaZRCoivaKPco6Onq7W2Q_TvmU3rixZ49V81Z1aM_7-kBVHOima0lvf4kTIuZQPGTHtYXy98b6nhtXnZyRDricaw7BA_RY0Zvi9ej2pVL7Kz3leOdZxNNRg/s1600/domingosuburbano+%252811+de+1%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBJt2qWxwGDj2tknXeaZRCoivaKPco6Onq7W2Q_TvmU3rixZ49V81Z1aM_7-kBVHOima0lvf4kTIuZQPGTHtYXy98b6nhtXnZyRDricaw7BA_RY0Zvi9ej2pVL7Kz3leOdZxNNRg/s640/domingosuburbano+%252811+de+1%2529.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1w4pkDL5aoeaXkaH068nP_AWaG7TiPxs4mqTvg5BvtFgzERX6bta6G7eiqEsEHzRbWylSHAzndcq_XYzoh-kFaa-AyuhiAegMNKTddKEk4eWkhxjFPojmFmx6rwy6KA7ZY2zThg/s1600/domingosuburbano+%252812+de+1%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1w4pkDL5aoeaXkaH068nP_AWaG7TiPxs4mqTvg5BvtFgzERX6bta6G7eiqEsEHzRbWylSHAzndcq_XYzoh-kFaa-AyuhiAegMNKTddKEk4eWkhxjFPojmFmx6rwy6KA7ZY2zThg/s640/domingosuburbano+%252812+de+1%2529.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjueULRWBBf94vTL9GrmJutb7Uf3MpwVFsxZAhE9WsPWD24FlcGhZZqrCNY9mUVAcTBkHHD6UQJ8tTUTgBSTguheyNJumBHBxBjOkNi1QQrS0nrCgc-LMfvfr5ln1KbHzIP1JnEmw/s1600/domingosuburbano+%252813+de+1%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjueULRWBBf94vTL9GrmJutb7Uf3MpwVFsxZAhE9WsPWD24FlcGhZZqrCNY9mUVAcTBkHHD6UQJ8tTUTgBSTguheyNJumBHBxBjOkNi1QQrS0nrCgc-LMfvfr5ln1KbHzIP1JnEmw/s640/domingosuburbano+%252813+de+1%2529.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEid5vigN9UL64mhs9UUGaCdrLqaUSl_jqJVZrDWBVqlfzsEc6c6XQ0QQ90Z5gYNDMU2XL9i4Ig4BFlJn070sXOWdEsx2C54UkwjRvMF1tcGLVDsNVBJ7w1qTADRcLWN5Z23tgNW2A/s1600/domingosuburbano+%252814+de+1%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEid5vigN9UL64mhs9UUGaCdrLqaUSl_jqJVZrDWBVqlfzsEc6c6XQ0QQ90Z5gYNDMU2XL9i4Ig4BFlJn070sXOWdEsx2C54UkwjRvMF1tcGLVDsNVBJ7w1qTADRcLWN5Z23tgNW2A/s640/domingosuburbano+%252814+de+1%2529.jpg" width="640" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjU8er9aZhFeYqgk1KMSLGXzumg1NcmCbWI32zbZiWBm-MuU8MmIGd8nPE1hephTD3gY2ESHrqOgp75r9hDLPPBN9LltCVZN4uGKQgLrZZS9jZrOGiQR5gmK_xPItRTjwg0Xcb-KQ/s1600/domingosuburbano+%252818+de+1%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjU8er9aZhFeYqgk1KMSLGXzumg1NcmCbWI32zbZiWBm-MuU8MmIGd8nPE1hephTD3gY2ESHrqOgp75r9hDLPPBN9LltCVZN4uGKQgLrZZS9jZrOGiQR5gmK_xPItRTjwg0Xcb-KQ/s640/domingosuburbano+%252818+de+1%2529.jpg" width="424" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYyaXYJiZE-s0RLpcro1iSgpYkNMCThYElhr74BvfrOzYHPc-aUGjK9FjvIxAkqXf8CrpXRdyBaP1t3TK6YUfITUJoF9Oo_abtmX5_YLPbrEg79zN76gbC2FmBfhnwOAWyVm1MUw/s1600/domingosuburbano+%252819+de+1%2529.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="424" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYyaXYJiZE-s0RLpcro1iSgpYkNMCThYElhr74BvfrOzYHPc-aUGjK9FjvIxAkqXf8CrpXRdyBaP1t3TK6YUfITUJoF9Oo_abtmX5_YLPbrEg79zN76gbC2FmBfhnwOAWyVm1MUw/s640/domingosuburbano+%252819+de+1%2529.jpg" width="640" /></a></div>
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-60746239459868102782015-10-13T22:32:00.001+01:002015-10-13T22:32:41.045+01:00Todo o Ruído<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnTr28LLyp0RcHS5gdkolkOrkmOcGRoFJj4gRoCzOIKhyphenhyphen6xtE_tQFSyOLGOAK1GQYHyxD-TL6gXfPH1i9y8dk9dUzW0eR0SGjPzuCte77xwqU_SFhOXEqerEYM4UgLdudBjDmfJw/s1600/bus.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="298" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnTr28LLyp0RcHS5gdkolkOrkmOcGRoFJj4gRoCzOIKhyphenhyphen6xtE_tQFSyOLGOAK1GQYHyxD-TL6gXfPH1i9y8dk9dUzW0eR0SGjPzuCte77xwqU_SFhOXEqerEYM4UgLdudBjDmfJw/s400/bus.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Foto de Vanessa Rodrigues</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Há os e-mails para ler, as mensagens de Facebook, os telefonemas não
atendidos, as notificações de notícias, as pendências no caderno, os
pop-ups de mensagens por responder. As imagens rápidas de uma realidade
que acontece na televisão cortam da desigualdade social para o anúncio
de automóvel sexy, do mega desconto do supermercado para o champô que
promete revolucionar o couro cabeludo dos desprovidos de fios de cabelo.</span></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Há todo este bulício intersticial que acontece, imposto, contundente,
cortante, violento, antisséptico. Um estardalhaço que nos esfrangalha a
capacidade de pensar. Este fragor sensorial que nos higieniza. Que não
me deixa, sequer, inventar personagens para esta crónica, porque me
oferece uma miríade de vidas reais com estórias que parecem inventadas.</span></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Por exemplo, há todo este zunzum de festa psicadélica que entorpece
quando leio sobre Alfred Postell, o sem-abrigo com diploma de Harvard,
que acabou na rua vencido pela esquizofrenia, conta o Washington Post.
Se calhar a culpa foi de todo este estrondo que nos endoidece. A
história dele recorda-me a de um outro sem-abrigo, que diziam ter sido
um diplomata francês, que vagueou, durante longo tempo, pela Praça da
República, no Porto, há um par de anos. Arrastava-se, com um barba
generosa, de esconder faces, de tornar um homem espectador da sua vida,
como se habitasse outro corpo.</span></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Tantas são as voltas retorcidas, as vontades vencidas, o rasgo de
solidão, desespero e dimensão mental que, de repente, nos levam a
transpor a fronteira entre algo e o nada. Entre a dimensão de uma vida
que parece destinada à correnteza de um sufoco. Ténue é a fronteira da
impermanência, da vulnerabilidade, deste texto e das mãos vazias. Ténue e
enredada pode ser a invisível barreira de um surto psicótico, de um
esgotamento nervoso, de uma afamada depressão, de um esquecimento, até
de como é o barulho das coisas ao cair. Lembrem-me, por favor, de
inventar um personagem que colecione sons sem endoidecer, que tal como
japim imite os sons à sua volta, e que seja capaz de reproduzir o
silêncio. Já imaginaram todo o silêncio?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">*Crónica publicada a 7 de Outubro de 2015, no <a href="http://www.porto24.pt/opiniao/todo-o-ruido/" target="_blank">Porto24 </a></span></div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-25787569542417927472015-09-15T22:36:00.000+01:002015-10-13T22:36:37.052+01:00A eterna condição de ser vento<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">O Homem carrega em si uma insatisfação prosaica, um dilema ancestral,
que é o amor à terra e, simultaneamente, a vontade de se desprender
dela, em busca de felicidade, de um eldorado, escapando a opressões,
guerras e misérias, ou apenas para chegar ao pão para comer. Tamanha
ilusão essa, de que podemos esquecer-nos da natureza de nós, só poderá
ser filha de uma quimera mundana, em que os sonhos podem o infinito e o
éter, o desamor e a esperança, tal como o palpitar de um coração
apaixonado. Parece, desconfia-se, que, nesse logro de tentar enganar-se a
si próprio, a vida sentencie ao Homem o cárcere maior, paulatino e
contundente, que é a saudade. Mácula da insatisfação perpétua e
condoída, um vazio interno que se vai alimentando com o tempo. É essa a
condição intermitente daquele que migra, quaisquer que sejam as razões.</span></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Cremos, porém, quase como militantes convictos, que o mundo salta e
se adianta progressista, que de geração em geração tudo muda
sofisticadamente, numa regra tácita de civilização maior, mais
tecnológica. Síndrome crónico da nossa quimera ilusória de superioridade
absoluta sobre a ancestralidade. Falácia!</span></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Eu própria, embrenhada nesta reflexão, apercebo-me que embalo nesse
limbo do descontentamento geográfico, apenas dissipado quando se cumprem
as duas terras no mesmo ano: Brasil e Portugal. Encarcerada nessa
condição de ter sido emigrante, de ter voltado, e de firmar esta ponte
aérea que, felizmente, se tem cumprido. Eu, relendo um texto de 2010,
onde desvelava o amanhecer em Ipanema, olhando para as Ilhas Cagarras,
constato que firmei um pacto com a cidade de que voltaria, e constato
esta insatisfação prosaica de precisar da dupla geografia, entre os ais e
os ois. Apercebo-me, porém, que já não consigo olhar o Brasil como
estrangeira, sendo-a, e que já não me desliza a caneta perante o
deslumbramento, porque passou a ser terra que se estende a mim,
intrínseca. É curioso, porém, que regresse ao Rio de Janeiro, na
condição de insaciada emigrante que volta ao país emigrado, já com
vontade de partir e saudade de cá estar, sentindo na pele o arrepio
telúrico, com um projeto sobre … emigrantes. E estes dias, olhando as
fichas consulares, os passaportes de outrora e agora, é como se
revisitasse um passado-presente, a minha própria vida. É como se,
através dos olhares das fotografias tipo passe – às vezes a preto e
branco, outras a sépia –, de milhares de mulheres e de homens que
vieram, também, à procura de um novo mundo, se configurasse uma imagem
clara do futuro. Cristalina imagem que se cadencia com o latejar do
peito, de quem sente a dupla terra, a insatisfação prosaica que se
repete: essa eterna condição de ser vento.</span></div>
<br />
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><i>*Crónica publicada a 15 de Setembro no <a href="http://www.porto24.pt/opiniao/eterna-condicao-de-ser-vento/" target="_blank">Porto24, com a chancela Bairro dos Livros</a></i></span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-46791244827677739652015-08-27T22:38:00.000+01:002015-10-13T22:38:57.409+01:00Respigar contos magistrais<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Vou levar-vos a um lugar mágico. Por baixo de uma avelaneira,
esguelho-me pelas folhas rendilhadas e, nas negas dos céus, os olhos
conseguem entrever o infinito diluído em tintas celestes inverossímeis.
Uma metamorfose tão subtil, pincelada por um rasto de brisa, formando um
tecido incorpóreo que parece esfarrapar-se entre as folhas. Estou neste
embalo, deitada num lameiro, ouvindo a ópera das cigarras e o ânimo dos
chocalhos das vacas que, a esta hora, sob a luz dourada a rasar nos
vales, ainda mascam a refeição vegetariana. Estou neste aparente marasmo
telúrico, sentindo o hálito de terra molhada, cingida pelo murmúrio do
ribeiro e percebo tudo. Constato que sentir Trás-os-Montes é um
exercício de reconhecimento e familiaridade, como se fosse encontrar
todos os personagens e mais alguns a que me habituei, nos livros de
Ferreira de Castro, Bento da Cruz, Miguel Torga, Fernando Namora, Assis
Esperança e Aquilino Ribeiro, apenas para citar alguns. Estou neste
babujar profundo, nesta geórgica que exalta a vida nos campos e eis que
ele, Aquilino, pelo livro que na mão tenho, me responde aos pensamentos.</span></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">“O romancista vai de indivíduo em indivíduo, como a abelha quando
forrageia o pólen, e a um pede o físico, a outro a índole, a este uma
anedota, àquele um pormenor característico, e assim amassa por
aglutinação os seus figurantes. Feita a dosagem com inteligência e
obtido um bom ajustamento, ninguém dirá que não foram copiados do
natural e que não ’falam’. E o orgulho do criador estará em dar a ilusão
de que são cópias exactas do mundo em carne e osso”.</span></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Perante este palavreado, como pêndulo que ora se esgueira para a
direita, ora para a esquerda, move-se a minha meditação, quase sonâmbula
pela dengosa serenidade do campo, e pelo sol que lambe a pele, perdida
nesta magia de prosa que atende às inquietações. Apetece-me, com soberba
e cobiça, roubar a esta terra todas as suas histórias, para costurar
personagens ou figurantes perfeitos. Personagens entre aranhas,
formigas, sardaniscas-bebé que se atrevem a deitar na liteira comigo,
trevos daninhos, leiras e lameiros, ameixoeiras de casca áspera e
gretada, toupeiras, vespeiros secos, varejeiras, bichas-cadelas, pulgões
transparentes, folhas caídas, moscas, cabras e aranhas chorudas, sapos
enfronhados em severidade, piscos, lavadeiras, rumorejar de vento,
caules nus, marias-café fossilizadas no parapeito das namoradeiras,
castanheiros, flores-de-maracujá e tantos outros. Predisponho-me, por
isso, a esquivar-me como borboleta, levando de indivíduo em indivíduo um
pouco deles para as estórias magistrais. A dos bebés que rolam em
altares, da cruz no pão no forno, do mito da fonte do Caílho, do filão
de ouro na aldeia do Parâmio, do episódio do caga-na-velha, das
lengalengas, ou canções de amor e guerra, na época do volfro, das
andanças de quem madrugava para as malhadeiras de milho, da ternura da
Maria das Cajatas, aventuras de saltos e contrabandos. A Fernanda, a
Emília, a Lurdes, a Catarina e a Inês contam-me tudo e eu anoto. Anoto
para, quem sabe, um dia agradecer à terra. Por agora, hei-de voltar para
o rebusco, pelo outono.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">*Crónica publicada a 27 de Agosto, no <a href="http://www.porto24.pt/opiniao/respigar-contos-magistrais/" target="_blank">Porto24</a>, com a chancela Bairro dos Livros </span></i></div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-45993278946007114492015-08-05T22:40:00.000+01:002015-10-13T22:41:59.172+01:00Pessoal do meu bairro<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">O caso sucedeu numa destas noites, enquanto se dava o primeiro ciclo
de sono REM, ou movimento rápido dos olhos, quando os sonhos se tornam
mais fulgurantes. Formei a imagem idílica do meu bairro. Teria seis
cabeleireiros, dois hotéis e uma hospedaria – mais uma casa
semi-clandestina –, seis cafés, três restaurantes regionais (as tripas à
moda do Porto, ao sábado: chamar lhe íamos um figo), sete lojas
abandonadas com a placa “Vende-se”, em destaque, três frutarias à moda
antiga, dois quiosques (onde também se faria a raspadinha, teria payshop
e, numa delas, também se venderia geleia, tabaco e super-heróis), uma
loja de roupa para mulheres ousadas (a avaliar pelos tops rosa-fúcsia
que deixariam tudo ao léu), outra para aquelas mais conservadoras
(denunciar se ia pelos vestidos avózinha-beata na montra: nada contra),
trinta prédios de três e quatro andares (lascados, reabilitados,
modernos, do século passado), quinze deles teriam varandas, das quais
sete teriam vasos com sardinheiras vermelhas e oito com caninos (que
cumprimentariam os transeuntes com um ladrar ora esganiçado, ora grave,
dependendo da raça ou do complexo vira-lata); teria dezoito moradias
(cinco delas seriam devolutas e uma já teria sido casa de meninas), duas
casas fantasma (uhuhhhhh), uma mulher que passaria dia-e-noite, à
janela, fizesse chuva, fizesse sol; uma farmácia que faria promoções de
marcas de cosmética e de champôs para piolhos, no inverno; um padre que
dividiria a casa com estudantes, uma igreja católica e outra evangélica
(dica: costumaria estar sempre mais animada às quintas-feiras), cinco
passadeiras (duas novas com patadas de cães, marcadas, e três com cor de
burro quando foge), cinco semáforos, uma costureira (que estaria sempre
à conversa com a vizinha do segundo andar e atrasaria, em meses, a
entrega da roupa), uma loja de reparações de eletrodomésticos
(ficaríamos na dúvida se não seria uma loja bricabraque), dois andaimes e
um taipal, cem carros estacionados, oito caixotes do lixo comum, uma
loja de colchões ao lado de uma sex shop, um supermercado, uma ilha que
não se vê – mas eu veria –, uma escola, uma
ourivesaria-que-nem-se-perceberia-que-o-era. E uma mercearia que seria o
local mais internacional que conheceríamos: onde se venderia pêssegos
do Paraguai, cerejas do Fundão, maçãs de Setúbal, limões do senhor
Amílcar que moraria em Paredes, laranjas do Algarve, ovos da dona
Adelaide da rua transversal, amante do padeiro chileno, tomates da dona
Ivete da rua de baixo e que seria viúva, ameixas da casa 5, pêras do tal
Rocha, alheiras de Mirandela, broa de Avintes, pão da Bairrada e
morangos de proveniência incerta. Seria uma rua com cerca de 700 metros,
começaria (ou acabaria), num buraco, seria sempre a subir, e terminaria
(ou começaria) num jardim com uma estátua ao caixeiro viajante, onde os
cães costumariam fazer as suas necessidades.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">E como se acordasse desta onírica contabilidade urbana, ocorreu-me ir
à janela. Pois qual não foi o meu espanto, cara leitora, caro leitor,
quando me apercebi que tudo isto era a verdade. Como o sei? A mulher da
janela-faça-chuva-ou-faça-sol acenou-me, lá do fundo, e posso jurar que
ainda ouvi dela aquele riso cinematográfico, terror série b. Isso ou é
melhor deixar de tomar sumos naturais à noite.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><i>*Crónica publicada a 5 de Agosto, no<a href="http://www.porto24.pt/opiniao/pessoal-meu-bairro/" target="_blank"> Porto24 </a>, com a chancela Bairro dos Livros. </i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-90852761305879120642015-07-15T22:43:00.000+01:002015-10-13T22:43:17.138+01:00A chuva do corpo<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Não chove há dois dias em Bissau, a capital guineense. A terra teve
tempo de secar, o bafo quente é o céu que respira e o sol exuberante
vigia-nos. Está implacável e jocoso da nossa condição ofegante. Talvez
seja ele que faz a terra palpitar. O maestro tribal que cadencia os
passos dos homens e das mulheres, das crianças e dos recém-nascidos. O
compositor das emoções, dos sonhos e dos sorrisos. Há-de ser responsável
pela percussão telúrica e pela forma como o corpo de Ernesto Nambera
contorna o ar, esses interstícios da respiração do infinito. Este
bailarino do Ballet Nacional da Guiné-Bissau movimenta-se com explosão,
gira rápido, pisa o chão com força e gravidade, desliza os pés, e salta
como um funâmbulo sob o fio invisível das leis da Física. Parece que
levita.</span></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">O tambor é o coração acelerado. O compasso entra-nos pelos poros,
parece que nos rasga, faz-nos explodir numa espécie de catárse. A terra
em transe, e o corpo a parecer que quer levantar-se, mover-se, dançar.
Ernesto, aquele que dança, o engenheiro informático que está no segundo
ano de gestão. O dançarino guineense que estudou três anos na École des
Sables (escola de areia, essa chuva do chão), em Dakar, Senegal, com uma
bolsa da embaixada norte-americana quer, um dia, ser diretor-geral de
cultura, para dar o seu conhecimento ao país. Foi o número um da turma
dele e o pai foi o maior impulsionar da carreira de dançarino, quando os
amigos lhe chamavam “bandido” por só gostar de dançar. Começou a fazer
playback, em concursos, nas festas da adolescência. Hoje é coreógrafo e
um bailarino forte, robusto, com alma, de olhos focados no horizonte.</span></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">É balanta, palavra que significa literalmente “aqueles que resistem”,
uma etnia dividida entre a Guiné-Bissau, o Senegal e a Gâmbia. São o
maior grupo étnico guineense, representando mais de 25% da população
total do país. São binhan braza, povo braza. Entre fulas, manjacos,
bijagós, papéis e mandigas, reinam os balantas. Há os balantas bravos,
balantas cunantes, balantas de dentro, balantas de fora, balantas manés e
balantas nagas. Ernesto já nasceu em Bissau, tem esse sangue quente e
foi a dança que o levou a saber mais sobre as origens, ao pesquisar
sobre a música Tabanca. Redescobriu-se guerreiro. Em 2005, a coreografia
que preparou para o Carnaval, mesclando folclore africano com dança
contemporânea, foi vencedora. Agora, ali no palco do Centro de Cultura, é
novamente a sua dança a mesclar estilos e tradições de ritmos do
folclore de África. Um corrupio explosivo, que faz o corpo dos homens e
das mulheres latejar.</span></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">É ele, Ernesto Nambera, sem perder o fôlego, como se homenageasse os
antepassados, a condição tribal, exaltando a vida, a morte e o infinito.
Celebra como se evocasse os janbacos, os feiticeiros, ou curandeiros
tradicionais. E, neste embalo, vamos juntos, numa emoção forte,
incontornável, porque, afinal, ela veio. É nesta erupção súbita, que
redescobrimos poros por onde expelir toda uma tempestade tropical,
quente e fria. É esta chuva no corpo. Ernesto nela e nós em Ernesto.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">*Crónica publicada a 15 de Julho, no<a href="http://www.porto24.pt/opiniao/chuva-corpo/" target="_blank"> Porto24,</a> com a chancela Bairro dos Livros. </span></i></div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-54849540299791805632015-06-24T22:44:00.000+01:002015-10-13T22:44:54.734+01:00As letras no caminho<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Depois da última crónica, nunca mais me dediquei à literatura de
chão. Até porque, apercebi-me, esse efémero estilo literário, apenas
cultivado pelas divagações de quem olha a cidade com o ímpeto ingénuo de
achar que, ainda, lhe poderá descobrir interstícios, é exercício
reservado a quem já esgotou todas as possibilidades de inventar charadas
no regresso a casa.</span></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Acho que a culpa, no fundo, é do varredor de ruas, esse ofício
invisível e de ruidosa condição, sobre a qual as formigas, as baratas e
as aranhas rogam pragas, com toda a certeza. Poderia ter sido apenas o
poste, mas não. O varredor de ruas acabou de vez com essa minha
experiência iniciática em olhar o chão, privando-me de querer resgatar o
dia anterior, pela cartografia do solo. Ele liquida o que resta do dia,
aniquila quaisquer vestígios de buliço humano. Se a civilização humana
acabasse, no dia seguinte de manhã cedo, no vazio, e os extra-terrestres
viessem indagar quem morou na minha rua, com certeza, não restaria
qualquer fragmento que pudesse reunir provas para uma narrativa. É que
só os restos da rua são capazes de contar a história de um dia numa
cidade, ou sobre os seres que as habitam. São excertos fugazes, ao mesmo
tempo que epicuristas.</span></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Porém, no caminho para casa, tive uma ideia. Podem aniquiliar os
fragmentos do chão, mas não podem fazer desaparecer as letras do
caminho. Era isso, as letras do caminho. Foi então, caros leitores, que
meti a mão à carteira, e como caderno não houvesse, saquei a conta do
almoço e comecei a escrever nas costas nuas desse papel fino e frágil,
toda a literatura que encontrava no percurso, olhando agora para o
intervalo médio entre o chão e o telhado das casas. Mas acho que vou
deixar isto para outra crónica, não me levem a mal, porque, enquanto
anotava com dificuldade, e como a caneta começasse a falhar, lembrei-me
da Márcia, personagem do meu primeiro documentário, em parceria com F.
Gavioli, no contexto do curso da Academia Internacional de Cinema de São
Paulo.</span></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Márcia, uma moradora de rua, em Higienópolis, que escrevia em folhas
A4 uma mescla de orações aos anjos e episódios soltos da sua vida de
rua. Um bom coração a querer dizer que existe além das vicissitudes do
funambulismo da vida.</span></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Naquela altura, eu e Felipe voltamos para lhe mostrar o documentário
de 20 minutos. Ela achou que ficara curto. Que ficara muita coisa para
contar, que há sempre muita coisa para contar. Um ano depois, em 2008,
ela enviou-me um e-mail a dizer que precisava falar comigo. Respondi que
já não estava em São Paulo, mas perguntei como a poderia ajudar. Nunca
mais me respondeu. O tempo, varredor de ruas da memória, tomou conta do
esquecimento pendular. Porém, na segunda-feira, fiquei a saber que o F.
mudou de bairro e mora perto dela, da Márcia. Depois destes anos todos,
reencontrou-a. Está a ajudá-la.</span></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><em>“- Ela conseguiu um pequeno serviço que permite que durma em uma
pensão, está fazendo um curso de costura que é seu sonho, além de
receber essa pensão e ter uma conta em banco que lhe dá bastante
dignidade. Outro dia fomos em uma pizzaria comemorar seu aniversário,
fazia mais de 20 anos que não entrava em uma. Apesar de ainda divagar
ferozmente sobre vários assuntos que são abordados em nosso
documentário, ela diminuiu, consideravelmente, o número de papéis que
cola nas ruas, sinto que está mais calma e mais centrada, já que tem
mais perspetivas.”</em></span></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Acho que a Márcia, agora, aos 66, já pode inventar charadas no regresso a uma casa. Podem ser letras no caminho?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><i>*Crónica publicada a 24 de Junho, no <a href="http://www.porto24.pt/opiniao/letras-caminho/" target="_blank">Porto24</a>, com a chancela Bairro dos Livros. </i></span></div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-5385187208655004362015-06-13T22:46:00.000+01:002015-10-13T22:48:11.914+01:00Manual para a Literatura de chão<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Olhar para o chão pode não ser, necessariamente, condição
melancólica, ou síndrome de bisonhice e muito menos infortúnio. Conheço
personagens reais que se dedicam, diligentemente, no ofício da
caminhada, à cogitação filosófica de investigar os interstícios do
passeio, seus alinhamentos, ora geométricos, ora esburacados, driblando
fezes de animais (campo minado e oleoso), invólucros de batatas fritas,
folhas velhas, jornais estropiados e pastilhas elásticas com o ADN de
alguém. Como se percebe, há todo um universo de indagação e infinito
raciocínio, digno das teses mais doutas da academia. Outrora, eu própria
já pude contemplar notas de cinco euros, anéis e pulseiras de prata,
bugigangas, farrapos, fios, cascas de laranja e beatas. Tudo coabitando
na mais serena harmonia, como se fossem o princípio do universo e
estagiários da decomposição. Ultimamente tenho sido bastante afortunada
em moedas de um cêntimo. Posso jurar que a lata de chá onde guardo as
moedas de cor de cobre já deve dar para pagar dois cafés e meio no
estaminé do senhor Manuel. Mais surpreendente, porém, será a descoberta
que fiz recentemente.</span></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Caros leitores, sim, o chão que pisamos é terreno fértil para parir
aquilo que denomino de agora em diante por literatura de chão. Bem sei
que poderia ter-me dedicado a encontrar um nome mais sexy, digno dos
anais da literatura comercial e que criasse <i>buzz</i> na comunicação
social, do que simplesmente ter resumido a coisa a literatura
escatológica. Conquanto essa possibilidade fosse a saída mais
escorreita, devo confessar que seria indigna designação para o zelo que
merece.</span></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">A semana foi profícua nessa contabilidade literária. Não fosse este
escrutínio detetivesco para as coisas do chão e eu não teria encontrado,
cento e sessenta e nove passos depois de sair de casa,
a-fotografia-tipo-passe-de-um-rapaz. Deveria ter, mais ou menos, dez
anos, era ruivo, sardento à la Tom Sawyer, certamente fugitivo da
carteira de uma avó babada, pusilânime e conservadora – a avaliar pelo
desgaste –, provavelmente caída no momento em que guardava o troco dos
docinhos húngaros acabados de comprar na confeitaria em frente. Não
teria, da mesma forma, me deparado com o bilhete da Zulmira: “Deixei
bacalhau à brás no frigorífico”; o resto de um exame de História da
Sandra: “a II Guerra Mundial foi um momento de grande importância,
porque…”; um andante rasgado; uma oração a santa rita de Cássia: “a
santa dos casos impossíveis e desesperados”. Não fosse eu o mais próximo
do CSI português, exímia dissecadora das palavras calcadas no chão e,
claro, nada disto seria possível: “Sandrine, não me deixes, és a minha
cena. Amu-te”. Bem sei, não é bonito, mas pode ser profundo, dependendo
dos magotes contundentes que se dá na Língua Portuguesa.</span></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Caros leitores, estava preparada para que tudo acontecesse, menos
para isto: mil quatrocentos e setenta e oito passos depois, um bilhete
que era pura poesia, uma ode a este texto: “Sem ti, fico no chão.”
Estava quase a empreender um projeto especial diário, apenas dedicado à
literatura de chão, mas temo que durante uns tempos terei de me
recolher. Quando me levantei para recolher este último exemplar da mais
excelsa literatura, o meu universo ficou, de facto, mais perto do solo,
entrou em transe, vendo estrelas, luzes, seguido de uma dor aguda. É,
meus caros, aquele poste de iluminação não estava nos meus planos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">*Crónica publicada a 5 de Junho, no<a href="http://www.porto24.pt/opiniao/manual-para-literatura-de-chao/" target="_blank"> Porto24,</a> com a chancela Bairro dos Livros. </span></i></div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-88721218618050526352015-06-03T10:55:00.001+01:002015-06-03T11:00:31.666+01:00Arqueólogos descobrem destroços de navio negreiro português na África do Sul<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">>>> "Pela primeira vez foram encontrados vestígios de um naufrágio que terá
ocorrido com escravos a bordo. Uma descoberta histórica que poderá
avançar o conhecimento actual sobre o tráfico transatlântico, dizem os
investigadores."<a href="http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/arqueologos-descobrem-destrocos-de-navio-negreiro-portugues-na-africa-do-sul-1697688?page=-1" target="_blank"> Notícia no jornal Público. </a></span><br />
<br />
<div class="mol-para-with-font">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">>>> "</span><span style="font-size: 1.2em;">Underwater
archaeologists believe they have achieved a milestone moment in the
study of the slave trade after making what is thought to be the first
ever discovery of a sunken slave ship.</span></div>
<div class="mol-para-with-font">
<span style="font-size: 1.2em;">Long-buried
artifacts from the wreck of the Sao Jose-Paquete de Africa, a
Portuguese vessel which sank off the South African coast on its way to
Brazil in 1794, are due to be unveiled in Cape Town."</span></div>
<div style="background-color: white; border: medium none; color: black; overflow: hidden; text-align: left; text-decoration: none;">
<br />Read more: <a href="http://www.dailymail.co.uk/news/article-3106422/Archaeologists-discover-18th-century-wreck-slave-ship-sank-South-African-coast-disaster-killed-200.html#ixzz3bzYS3Eyt" style="color: #003399;">http://www.dailymail.co.uk/news/article-3106422/Archaeologists-discover-18th-century-wreck-slave-ship-sank-South-African-coast-disaster-killed-200.html#ixzz3bzYS3Eyt</a>
</div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"></span><br />
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span id="goog_999269607"></span><span id="goog_999269608"></span></span></div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-35614689778543467692015-05-14T20:27:00.000+01:002015-10-13T22:47:53.160+01:00A vida num contentor<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;">É fácil. Neste caso começa com um anúncio na internet:<i> “Procura-se gestor de empresas para empresa internacional”</i>.
O candidato envia currículo, é selecionado de imediato, comemora com os
amigos, não faz perguntas – até porque tem um percurso imaculado, só
não encontra trabalho entre nós –, não participa em nenhuma entrevista,
não considera isso estranho. Só sabe que vai ganhar um salário de sonho
e, por isso, aluga a casa no país de origem, despede-se da família e
parte, uma semana depois, com um bilhete que “será depois recompensado à
chegada”.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;">
</span></span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;">Só que, “à chegada”, ele é raptado. Sim, raptado! A estrada para o
inferno começou quando deixou de fazer perguntas, ou cegou com a luz de
uma pequena esperança. Não é juízo de valor, é a função do narrador
omnisciente a contar o final da história.</span></span></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;">
</span></span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;">É, depois, obrigado a entrar num camião, com outros rostos tão
perdidos e desesperados quanto o dele. Percebe que a estrada é sinuosa,
galga-se quilómetros de buracos e lombas, a grande velocidade.
Entranha-se, nas narinas secas, um cheiro a savana e suor em ebulição.
Homens enclausurados.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;">
</span></span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;">Pensa no fim, porque cogitar no pior seria ter uma réstia de
esperança, e a ilusão já não entra num coração aflito depois da primeira
cegueira fatal. Horas depois, sob um calor tórrido, o motor para.
Abre-se a porta, é noite cerrada, gélida, sepulcral. Ele pergunta o que
está a acontecer e leva uma coronhada de metralhadora. O sangue que
escorre desde a ferida exposta na cabeça até à boca sacia-lhe a sede,
embora já nada disso importe. É enclausurado, novamente, num contentor
com os mesmos rostos cansados, carcomidos pelas horas de agonia.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;">
</span></span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;">Tenta falar, mas sente que a voz falha. Será o medo a velar por ele?
Ter medo pode ser uma réstia de esperança. Uma janela que se abre por
dentro e sussurra: estou vivo! A camisa nova e nívea que comprou numa
loja de marca, no país de origem, está maculada com espirros vermelhos.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;">
</span></span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;">Durante algum tempo é ele e aqueles outros homens, no meio do mato,
sozinhos, encarcerados, desolados, imiscuídos de existência. Não sabe
durante quanto tempo, mas dormiu muito, morto de cansaço, vencido pelo
ar rarefeito, mas sobretudo no fio existencial de que essa réstia de
esperança fosse um acordar de novo, percebendo que, afinal, tudo não
passava de um sonho muito ruim.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;">
</span></span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;">Quando, enfim, abriram a porta, percebeu que, se fossem mais uns
dias, talvez não voltasse a acordar. Pensou que seria o melhor.
Chamam-no. Obrigam-no a ligar à família em Portugal. Pedem um resgate:
500 mil euros. Crime organizado. Extorsão. Rapto. Tráfico. Sabe-se lá
mais o quê. Deixaram-no aos pontapés, com risos alarves. Esqueceram-se
da porta aberta.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;">
</span></span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;">Durante a noite arriscou a vida. Com o coração a ensurdecer o
pensamento correu até onde pôde. Aprendeu a rezar. Viu uma luz. Arriscou
uma povoação. Acudiram-no. Voltou para casa com ajuda de um homem que
não sabe o nome. Está entre nós, são e salvo, pelas ruas deste país. O
tráfico de pessoas existe e pode estar à distância de um clique. Mais
difícil e desconcertante: esta história foi-me testemunhada num balcão
de atendimento; poderia ter sido qualquer um de nós, com a vontade de
uma réstia de esperança.</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: small;">*Crónica publicada a 14/o5/2015 no <a href="http://www.porto24.pt/opiniao/vida-num-contentor/" target="_blank">Porto24 </a></span></span></div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-18365472848557184292015-04-04T15:51:00.000+01:002015-04-04T15:51:01.003+01:00António Trovão, ou como fazer uma faísca<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<i><span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Este homem magro e de chapéu verde-musgo a condizer com a camisa,
simpatia ancestral, viu-nos passar e chamou como quem ordena lei: – “Oh,
não querem tomar um vinho?”. </span></i><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiILEndFawB2GCi_C-10U9T0V7VcNScOs-a0plF1FOx30ylY7y0V9IlQ7HaST_uv5W3p-hggOyLLVfgf12K4UEX5c3kLzsJv4n2Fk1C5Y1-LIPC9e994_nFPszxrh9JtqVoyP2jiA/s1600/tumblr_nlbicz2atw1t0cwleo2_1280.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiILEndFawB2GCi_C-10U9T0V7VcNScOs-a0plF1FOx30ylY7y0V9IlQ7HaST_uv5W3p-hggOyLLVfgf12K4UEX5c3kLzsJv4n2Fk1C5Y1-LIPC9e994_nFPszxrh9JtqVoyP2jiA/s1600/tumblr_nlbicz2atw1t0cwleo2_1280.jpg" height="266" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">ilha de Santa Maria, Açores, Março 2015|@Vanessa Rodrigues</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"></span></i><span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Conheci o Trovão, logo ao descer a reta do Desterro, depois de ter
passado Brasil, pela manhã, Almagreira e Santa Bárbara, embora ele more
na Graça. É a sua adega com vinho de cheiro e jaquês que o prende à baía
de São Lourenço, nestes dias com mar calmo e vigília de lua cheia.
Dizem que sustenta Impérios, todos os anos, esse pagamento de promessas
religiosas à conta do Espírito Santo, alimentando as bocas da ilha de
Santa Maria, nos Açores, que se reveza nas copas comunitárias. Há de
ler-se n’”O Baluarte”, logo em janeiro, para ver se o nome dele não
consta na lista anual de homens de sopas do Espírito Santo. Sopas com
cozedura especial, pão e muita carne de vaca e uns segredos que apenas
três a quatro famílias conhecem em toda esta ilha, espraiada nos seus 98
quilómetros quadrados.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">
</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">Este homem magro e de chapéu verde-musgo a condizer com a camisa,
simpatia ancestral, viu-nos passar e chamou como quem ordena lei: – “<em>Oh, não querem tomar um vinho?</em>“.
Mal percebemos e já estamos na loja com olor a bagaço e mosto, entre
barricas envelhecidas e conversas de água salgada, usada para preservar
este vinho de cor cobre-salmão. Mal nos tenta sair resposta pensada na
ousadia do não e já estamos encafuados, sabe-se lá como e por que
magnetismo insular, na toca deste pai de duas filhas que são a fotocópia
da mãe. E, afinal, como se chama este homem que não tem um pulmão, nem
um rim, e que esteve de junho a outubro, para morrer, no ano em que fez
meio século, naquela que foi a sua primeira viagem ao continente? Já lá
vamos que ele mantém suspense no parlatório. – ”<em>A receita que os
médicos lá no continente [Lisboa] me passaram é que não tinha solução.
Era para ter ido embora. Estive meses sem comer e agora é isto.</em>”
Este agora são nove anos depois e isto duas horas diárias de caminhadas a
pé, desde então, na companhia da pequena égua, que isto de não ter
alguns órgãos é uma revolução na anatomia. Talvez tenha sido a condição
insular, para o homem que vive duas vezes: uma hora a menos nos Açores é
a Portugalidade a viver em mundos paralelos, um hiato de uma hora que
fica suspensa. Uma vida extra, como nos jogos. E lá se lembra, enfim, da
pergunta anterior, lá em cima: –<em> </em>“<em>Eu não me chamo, os outros é que me chamam a mim.</em>” Diga: como é que os outros lhe chamam? – ”<em>Isso
varia. Se mandar uma carta para António Moura Moreira, ela é bem capaz
de não chegar até mim. Agora, se puser António da Margarida, que era
minha mãe, há-de chegar-me às mãos.</em>“ E são estas mãos calejadas, de mar, de terra, de vinho, de vento, de esperança. ”<em>Há também quem me chame cachaneta, ou então António Trovão. O Trovão.</em>” Um homem que é uma tempestade? – ”<em>É
coisa muito antiga. Andei um dia na pancadaria, com o Malaquias, que
tem casa lá no continente, e levei uma pancada que parecia um trovão. E
como não há Trovão sem Faísca, dei -lhe o troco. E, pronto, lá ficou ele
conhecido como Faísca.</em>”</span></div>
<br />
<i><span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;">*Crónica publicada originalmente a 11 de Março de 2015, no<a href="http://www.porto24.pt/opiniao/antonio-trovao-ou-como-fazer-uma-faisca/" target="_blank"> Porto24,</a> com a chancela Bairro dos Livros.</span></i></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-48495116032565700082015-03-17T17:05:00.001+00:002015-03-17T17:05:20.153+00:00<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span class="fbPhotosPhotoCaption" data-ft="{"tn":"K"}" id="fbPhotoSnowliftCaption" tabindex="0"><span class="hasCaption"><b>"Da
ideia à estória: reportagens que funcionam"</b> é já na próxima
segunda-feira, dia 23, na sede BagaBaga Studios, Lisboa,na Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas. Workshop de um dia. Já se inscreveram?
Partilhem, por favor, esta vossa aia, agradece.</span></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7sRkG7qWi1xG8ipANh57h4hAtCFZHx8bGEvTqRUt7ssGub8rtTML4KjHmpCyvWPewjDqm3guRDrSm4o0cjEbT4gdlNUujX_u6osGMj1bcfNj4_aGpMY3-F3VS4QbvMLtYRQuU0A/s1600/CR-CartazDaIdeiaaEstoria.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj7sRkG7qWi1xG8ipANh57h4hAtCFZHx8bGEvTqRUt7ssGub8rtTML4KjHmpCyvWPewjDqm3guRDrSm4o0cjEbT4gdlNUujX_u6osGMj1bcfNj4_aGpMY3-F3VS4QbvMLtYRQuU0A/s1600/CR-CartazDaIdeiaaEstoria.png" height="640" width="452" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-85203859569907545772015-03-16T17:42:00.001+00:002015-03-16T17:42:52.217+00:00Feeling inspired<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1Jl9Zqx1ZZXZTusYpvj3ODvMAWGH3JWOigqZ1RBc8kNfB-RJMiPvIVBeQg_dqEdUYtc6LNXfmjc6u5t0i3wJeA6b9O2q0VmfrBMFp1v4dZoccpuzKGPNkH4bubTZTd9En8v44bQ/s1600/texturas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1Jl9Zqx1ZZXZTusYpvj3ODvMAWGH3JWOigqZ1RBc8kNfB-RJMiPvIVBeQg_dqEdUYtc6LNXfmjc6u5t0i3wJeA6b9O2q0VmfrBMFp1v4dZoccpuzKGPNkH4bubTZTd9En8v44bQ/s1600/texturas.jpg" height="425" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: x-small;">Açores 2015|Vanessa Rodrigues</span></span></div>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-14792218944780299332015-03-05T22:54:00.003+00:002015-03-16T17:46:24.492+00:00Linha de Fronteira<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" class="single-header single-header-opiniao" style="width: 600px;"><tbody>
<tr><td style="position: relative;"></td>
<td style="text-align: justify;"><b><i><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Contrabando, tiros, tempestade, crime
organizado, polícia militar, uma anfitriã raptada por presos foragidos e
apagão em casa de um escritor-desconhecido. Se isto não era fruto da
minha imaginação bem podia estar metida numa alhada.</span></i></b><br />
<br />
<br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Laura fez questão de me mostrar as perucas, os batons, a variedade de
armações de óculos e os doces que comprara nessa tarde, em Ciudad del
Este, no Paraguai, a meia hora de autocarro de casa dela, em Foz de
Iguaçu, no Brasil. Também fez questão de me dizer que no mês anterior
tinha sido mantida refém, na própria casa, quando dois foragidos de um
estabelecimento prisional do estado do Mato Grosso, membros de um
cartel, tomaram conta da residência. Ela alimentou-os e nem os vizinhos
desconfiaram quando esta mulher de cabelo louro-garrido, voz grave e
rouca, ar um pouco psicótico e vontade desenfreada de falar, “saía para
ir às compras, dia sim, dia não” e deixou de receber visitas.</span><br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Caros leitores, foi nesta casa-hospedaria, onde, em 2010, fiquei
durante três noites. Soube de tudo isto ainda nem sequer tinha tirado a
mochila para me instalar. Se a hesitação me acometeu, outra hipótese não
tive às dez e meia da noite deste lado da cidade-fantasma.</span><br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Para intensificar o cenário bizarro, eu não pregaria olho a noite
inteira, atordoada com os tiros que a Polícia Militar brasileira
disparara, para dispersar os contrabandistas do rio Paraná, que tentando
enganar a vigilância na Ponte da Amizade, entre o Brasil e o Paraguai,
esquivam às margens fluviais o mais que podem em produtos eletrónicos,
armas, tabaco e bebidas.</span><br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">A mim bastava-me o carimbo de saída do Brasil e de entrada no
Paraguai ou na Argentina, para poder, posteriormente, permanecer por
mais três meses em terras brasileiras.</span><br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span><span style="font-family: Verdana,sans-serif;">Da primeira vez que saí para a linha de fronteira, o autocarro que
saiu do Brasil nem sequer parou na fronteira brasileira. Afinal, a minha
dor de cabeça começaria aqui, quando à noite tentasse voltar, parada
para interrogatório. Nesta primeira viagem, ia encontrar um conceituado
jornalista paraguaio. No final da conversa, A. passou por casa para me
oferecer o livro dele “El ultimo vuelo del Pajaro Campana”. Mal
chegamos, o céu desatou numa fúria, impondo pesadas gotas tempestivas,
levantando a terra, criando de imediato um caudal que corria pelas ruas,
trazendo lama e pedras e arrastando carros. Escureceu como se o mundo
desistisse de tudo, não havia luz elétrica. Restava-nos ficar à mesa, a
conversar, até que a parca vela ardesse até ao fim e a tempestade
cessasse. Neste momento, pairaria a dúvida: estaria eu mergulhada na
realidade ou na ficção? Já adivinhava que iria perder o meu último
autocarro, para atravessar a fronteira. Tinha um passaporte por
carimbar, um gravador, uma máquina fotográfica, e um rasto de suspeita
num dia de tempestade. Contrabando, tiros, tempestade, crime organizado,
polícia militar, uma anfitriã raptada por presos foragidos e o apagão
em casa de um escritor-desconhecido. Se isto não era fruto da minha
imaginação bem podia estar metida numa alhada. Horas depois, a
tempestade deu tréguas e A. levou-me à fronteira, já noite cerrada.
Depois do interrogatório, lá me deixaram passar a fronteira, a pé. Não
me recordo como cheguei à hospedaria de Laura, quase meia-noite.</span><br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">
</span><span style="font-family: Verdana,sans-serif;"><i>“– Oh portuguesa louca, estava preocupada com você. Até pensei
que você teria sido raptada pelos meus amigos do cartel, li no jornal
que, afinal, eles ainda andam por aqui. E, me conta, afinal o que você
comprou lá na cidade?”.</i></span><br />
<br />
<span style="font-family: Verdana,sans-serif;">*Crónica <a href="http://www.porto24.pt/opiniao/linha-de-fronteira/" target="_blank">publicada originalmente no Porto24</a> a 18 Fev 2015, 17:11</span></td></tr>
</tbody></table>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-37504900433325416432015-01-29T00:47:00.000+00:002015-02-05T00:48:46.489+00:00A cidade e seus personagens I – Ilha da Bela Vista*<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><b>Será que há no mundo cidade com mais ilhas do que o Porto? Pedaços de
terra intersticiais da anatomia citadina em terra, ligações insulares
que provam que, afinal, o homem pode ser uma ilha? </b></span><br />
<br />
<span style="font-family: Georgia,"Times New Roman",serif;"><b>Por Vanessa Rodrigues</b></span><br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhiUfcNB9qYYg9veI8N0gNrAyInnzVdCcOq-1jucvf_ISGlM3T_dmi37ByVEyle5AHzS_ukc2D4kysFgXggdhsFN4Ozwthb5jDzeEtvtwPsiSG50dmhN_mXO8h7LLUzrmH7eJBEg/s1600/ilhadabelavista_vanessa-ribeiro-rodrigues-983x550-2yeub36zfu0cl89cg39tds.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhiUfcNB9qYYg9veI8N0gNrAyInnzVdCcOq-1jucvf_ISGlM3T_dmi37ByVEyle5AHzS_ukc2D4kysFgXggdhsFN4Ozwthb5jDzeEtvtwPsiSG50dmhN_mXO8h7LLUzrmH7eJBEg/s1600/ilhadabelavista_vanessa-ribeiro-rodrigues-983x550-2yeub36zfu0cl89cg39tds.jpg" height="296" width="640" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Não se sabe ao certo quantas centenas se escondem, isoladas, por trás
de outras casas. São portões mistério de humanidade, aglomerado de
habitações simples que brotaram da urgência em alojar a mão de obra no
século XIX. Os herdeiros, que continuam a história, são parte do ADN da
Invicta, um repositório de memória, de herança daquilo que somos. É o
caso de Rosa, Ana, Luís e dos casais Maria Eugénia e Aloísio; Manuel e
Júlia, moradores da ilha da Bela Vista, na rua Dom João IV.</span></div>
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Rosa, 69 anos, viúva e rebelde, voz grave, “foi feita” no quarto onde
agora dorme. O pai foi afinador de teares numa fábrica portuense.
Lembra-se do dia em que comprou um biquíni e como convenceu o marido a
usá-lo. É “feliz, muito feliz”, na ilha, e tem saudades do barulho da
“canalha”.</span></div>
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Já Ana Oliveira, a fadista de cabelo alvo e mãos de afagar gatos, 85
anos, saudosa do tempo em que cantava, nasceu na casa 10. Aos nove anos,
já “andava a esfregar escadas e a acartar o balde da água”.“<em>Cada caneco era um tostão, mas à vezes caía o caneco e ficava sem o caneco e sem o tostão”</em>.</span></div>
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Escreveu muitas letras de música e poesia, só para ela. Começou a
cantar na rádio Festival, antes de ser a rádio Festival, e foi a voz do
Café Sanzala.</span></div>
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><em>– “Todos os domingos de manhã, a comunidade juntava-se para me
ouvir na rádio e cantarolava: “Vem está marcado/é o café que nos
convém/não há outro no mercado/que ao tomar/saiba tão bem/mas que
cheirinho/que perfume que exala/ café sempre fresquinho/que se vende na
Sanzala/na sua mesa/tenha sempre um bom café/porque o acha com
certeza/famoso como o Pelé.”</em></span></div>
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">A vizinha insular de Ana, Maria Eugénia Moreira, tem sete décadas de
vida, cabelo curto e grisalho, olhos de menina. Começou a trabalhar aos
dez anos. Não podia sair de casa para brincar. Na “mocidade” foi a
bailes com gira-discos e conheceu o marido, Aloísio. Nunca dançaram
juntos. Aloísio foi depois para o ultramar e Maria Eugénia foi a sua
“madrinha de guerra”. Ele rendeu-se e pediu-lhe namoro por carta. Ela
até o achava “jeitoso”, “encanadinho”, mas “teso”. Zangaram-se, porém
uma amiga juntou-os : <em>“Vou-vos apresentar ao amparo da vossa velhice”</em>.</span></div>
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Estão juntos há quatro décadas. Ele foi atleta, tipógrafo e, ao contrário da mulher, brincou até fazer asneiras: –<em> “Arranjámos
uma tábua dos andaimes, passávamos cascas de banana, laranja e pêra na
madeira, para lubrificar e, do início da rua escura até à
Ribeira, deslizávamos a alta velocidade. Eu parti a cabeça umas 15
vezes”</em>.</span></div>
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Para Manuel e Júlia, a ilha é um “paraíso”. Ele trabalhou com artes
gráficas, esteve fora do país, agora está reformado. Ela trabalhou num
infantário. O Luís, 43 anos, o mais novo desta prosa, também se recorda
do tempo dos tostões, das festas, da algazarra das crianças e do
aconchego de ter uma casa, apesar de estar numa “ilha quase deserta”.
Uma vez juntou o Cavaco Silva e o Mário Soares.</span></div>
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><em>– “Fui segurança da Fundação de Serralves e, numa cerimónia
pública, o quadro elétrico falhou. Eles estavam lá. Fui eu quem puxou a
alavanca do quadro de eletricidade que estourou, numa grande confusão,
por isso os seguranças tiveram de pôr os dois políticos no mesmo carro”.</em></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><strong>P.S.:</strong> <em>Testemunhos recolhidos por mim, pelo
Daniel Brandão, Maria Camps, Wouter De Broeck, Ana Clara Roberti,
Ricardo Coelho, Rita Costa, André Rocha, Ana Patrícia dos Santos, Daniel
Rodrigues, Joana Costa, Maria João Pereira, Rute Febra, Priscilla
Davanzo, Tiago Dias dos Santos, com apoio do arquiteto Nicolau Brandão e
das assistentes sociais Inês Lima e Ana Vieira, no âmbito do Citizen
Lab: Audio+Visual Storytelling, Future Places 2014. O lab deu origem ao <a href="https://www.facebook.com/citadocs" target="_blank">projeto documental Citadocs</a> (sobre, para, por cidadãos).</em></span></div>
<br />
<b><i>*Crónica publicada no Porto24 a 28 de Janeiro de 2015</i> </b></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/10227000601285027409noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-24483561.post-84716648518053232752015-01-07T00:51:00.000+00:002015-02-05T00:52:26.972+00:00Pescador, cor de cacau, artesão da roça<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<table border="0" cellpadding="0" cellspacing="0" class="single-header single-header-opiniao" style="width: 804px;"><tbody>
<tr><td style="position: relative;">
</td>
<td>
<div class="description">
<b>A escultura de madeira suave e perfeita em
forma de peixe na estante dos livros de viagens relembra uma lição de
vida: que há gente a gostar de gente, abnegadamente, só porque sim, com a
vida real em perfeita harmonia.</b><br />
<br />
<b>Por Vanessa Rodrigues </b><br />
<b><br /></b>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEik1L6WMnL1HvzpxW2_stWGWYmttMuVLBAf3mSDYH2JFD9oDVUWyykWG7GkiM1FooAE6jMCNXwAjsFYgkpE26B_wTfOXWvKy7f06DcY6SeiCHV_hTG-nkMfdmi1ZoOYwSx-W5WMgQ/s1600/Cronica-Janeiro_Vanessa-Ribeiro-Rodrigues-300x300.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEik1L6WMnL1HvzpxW2_stWGWYmttMuVLBAf3mSDYH2JFD9oDVUWyykWG7GkiM1FooAE6jMCNXwAjsFYgkpE26B_wTfOXWvKy7f06DcY6SeiCHV_hTG-nkMfdmi1ZoOYwSx-W5WMgQ/s1600/Cronica-Janeiro_Vanessa-Ribeiro-Rodrigues-300x300.jpg" height="400" width="400" /></a></div>
<br />
<b><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><em>7 de Maio de 2011</em></span></b><br />
<br />
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Do bananal vem o rumor do mar, misturado com o riso da manhã e os
olhos dele, grandes, bem desenhados, ternos. Negritude é a pele grossa,
sábia genética, que adensa o calor e suaviza a humidade tropical quando
nela assenta. Tem uns dentes alvos, e um olhar manso. Alexandre dos
Santos, 22 anos, morador na roça Agostinho Neto, na ilha de São Tomé.</span><br />
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Estou de passagem. Sou a branca turista a querer saber das gentes. É pescador em <em>part-time</em>,
homem da roça, separado da mãe dos filhos, um arroubo juvenil. E ainda
lhe sobra tempo, à noite, se restarem dobras, para dançar Funaná.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><em>一 Vais comigo?, convida.</em></span><br />
<br />
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">É filho de cabo-verdianos – ainda se lembra do crioulo, o dialeto de
casa –, dos muitos que migraram para esta ilha africana tão vizinha da
linha Equador, metáfora para um recomeço. Quer saber: onde moro, de onde
sou, se tenho filhos, marido, logo assim, nos primeiros segundos. Não
perde tempo. A sedução não é um jogo, é convicção.</span><br />
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Também já foi militar, motorista de uma política são-tomense. Tão
novo, tanta vida a latejar. Despeço-me. Ele com a tristeza inconsolável
da despedida. Eu, com um certo desconforto. Penso que deve ser charme da
condição insular.</span><br />
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">No dia seguinte, espera-me, de manhãzinha, à porta do hotel.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><em>一 Desculpa ter vindo assim sem avisar. Queria ver-te uma última vez. Posso nunca mais te ver. Desculpa-me.</em></span><br />
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Homem garboso, ousado, todavia educado. Veio pedir autorização para,
ao final do dia, “logo”, me entregar um presente. O desconforto
mistura-se com gratidão: que numa cidade desconhecida me sinta em casa,
que o meu ser-eu de passagem se resigne à simplicidade dos afetos.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><em>一 Quero dar-te um presente da minha terra. Mereces. Para que não esqueças. Posso?</em></span><br />
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Mereço? E “logo” é agora. Estou já de saída e, de novo, ele aparece,
transpirado, sincero. É a segunda vez no mesmo dia que ele vem à cidade
por minha causa, mais de 30 minutos de estrada.</span><br />
<br />
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><em>一 Vim da roça de propósito para te entregar. Desculpa ter-me
atrasado, tive de pedir a mota emprestada. Não posso ficar muito tempo.
Pedi ao meu puto para ir buscar cacau à roça, para ti. E esta escultura
fui eu que a fiz. E desculpa, estou envergonhado. Pedi à minha irmã uma
saca para a embrulhar e ela pôs o cacau nesta de peixe.</em></span><br />
<br />
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;"><em>一 Vieste de propósito entregar-me isto, de longe, sem me
conheceres. Já te disse e agradeço: não se pede desculpa por genuínos
gestos de generosidade e afeto. Eu não sei como te retribuir,
sinceramente. Muito Obrigada.</em></span><br />
<br />
<span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span><span style="font-family: "Helvetica Neue",Arial,Helvetica,sans-serif;">Foram menos de cinco minutos. Despedimo-nos, um beijo no rosto, um
olhar grato. Esfumou-se na noite já cerrada. Nunca mais nos vimos. Às
vezes, ainda ouço o rumor do mar entre o bananal, quando olho para a
escultura de madeira suave e perfeita em forma de peixe na estante dos
livros de viagens, como quem relembra uma lição de vida: que há gente a
gostar de gente, abnegadamente, só porque sim, com a vida real em
perfeita harmonia.</span><br />
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<i>*Crónica publicada no Porto24 a 6 de Janeiro de 2015 </i><br />
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