quinta-feira, junho 28, 2007

Querô

"Foi nesse tempo que fiquei sozinho que deixei de ser pivete trouxa. Ali, sozinho na surda, comecei a me ligar na bosta toda. Cresci. Cresci paca. Todas as pancadas que me deram, as sacanagens todas que me fizeram começaram a se escancarar em mim. Comecei a perceber que estava ficando duro ou sacana. Já podia olhar bem pras coisas, sem me pavorar, sem ter pena de mim. Então, abri bem as janelas e pude cheirar a bosta toda. Um salve-se-quem-puder. Um puta fedor".

"Querô (uma reportagem maldita)" de Plínio Marcos
Anos 60
Prémio Melhor Livro da Associação Paulista dos Críticos de Artes
Agora o filme de Carlos Cortez

quarta-feira, junho 27, 2007

Aos pares..

Não sei se é alguma tendência da moda zoófila que me tenha escapado no São Paulo Fashion Week deste ano [muita coisa me escapou na verdade. É fácil isso acontecer - menos com as Melissa e a Natura] mas hoje, pela terceira vez, assisti ao mesmo fenómeno: as "tiazinhas" passeiam, pela manhã, com seus "cachorrinhos" padrão: rasos, pequenos, peludos, aos pares iguaizinhos - a desafiar qual irmão gémeo mais parecido. Melhor: com as suas coleiras extensíveis, a dupla ocupa o passeio todo (largo, por sinal) para coscuvilhar cada canto de mijo já demarcado em cada lado (oposto).
Nós: humildes transeuentes, rendemo-nos ao fio (vai-e-vem) que atravessa todo o passeio, para estes "gémeos" passearam a dona (parecido!). Descemos o pavimento. E com sorte não levamos com uma bênção líquida (bem amarela a julgar pelo território canino) da última tendência da moda nos bairros paulistanos.

Nome de Código: Pulga

A ideia que A. tem de mim (um caso a pensar, bem curioso por sinal!!!) num diálogo possível de início do dia:

"-Já pensaste em pulgas?
-Pulgas?
-Sim, pulgas; pareces uma: sempre de um lado para o outro, sem parar.
-Nunca tinha pensado nisso, mas é uma hipótese. É: quando era pequena os meus pais chamavam-me piolho electrónico: é parecido, não?
-Pois é, mas pareces mesmo uma: eléctrica e sempre ocupada!
- É. Pode ser: devo ter sido pioneira no que hoje se chama hiperactividade=pulga/piolho elecrónico. Uma delas! [Juntar um pouco de ironia por aqui]
-Tens cada uma!
-Ou então sou uma (in)definição pós-moderna a roçar o esquizofrénico diário.
-Vês, até nisso és uma pulga: a tua cabecinha está sempre a pensar numa forma de dar a volta às palavras. "

Qualquer semelhança com a realidade, é pura coincidência.

segunda-feira, junho 25, 2007

Que venha a FLIP


Tem Nelson Rodrigues, Música, Cinema e, felizmente, muita cor! Só podia ser lá: Paraty...


Pantanal, há um ano

vnrodrigues


Há um ano, pescávamos piranhas; comíamos arroz carreteiro; e olhávamos de esguelha os jacarés...Ou então: nadávamos com uma sucuri que se escondia lá em baixo, dissimulada entre as pedras.


Pantanal e Bonito...Para relembrar...

http://cronicalunasamba.blogspot.com/2006_06_01_archive.html

a cultura do(s) estigma(s)

Pagar sete reais (cerca de três euros) com cartão de débito (mais taxas de uso do serviço bancário) foi o valor que o casal à minha frente na fila, no supermercado, pagou: uma coca-cola e um pacote de bolachas. O valor podia até ser mais baixo; mais alto é demasiado óbvio e, à partida, mais corriqueiro para o europeu- e sem o estigma! Hoje, por exemplo, C. pagou o almoço de dez reais com cartão de débito. Ontem, D. pagou o lanche (oito reais) no mesmo processo. A surpresa é, precisamente, os valores baixos da compra. E ainda por cima mais uma taxa sobre o valor. As razões? Resposta de C: "Vivemos sob o estigma do assalto e aí muitos poucos andam com dinheiro; mas antes disso foi a constante desvalorização do real na crise económica: nos mentalizamos a não guardar dinheiro em casa. Por isso o dinheiro electrónico é tão popular". E mais seguro...Virtual?



Há qualquer coisa de Raduan Nassar em "Álbum de Família" (1945). Ou a Lavoura Arcaica é um mero esboço da disfuncionalidade de Nelson Rodrigues. Melhor: da família edipiana (além disso) que está em cena no "Espaço Parlapatões", em São Paulo. Mais do que o espectro de Édipo, é a teoria de Freud caricaturada - revista, hiperbolizada e publicada.


O pai Jonas ama a filha Glória (que odeia a mãe) que vai para colégio interno - e desde então ele só consegue ter sexo com "cabritinhas virgens" (com a anuência da mulher "Senhorinha" - a mãe- que o traiu com o filho "Nono" - que depois elouqueceu e corre nu aos gritos pela casa (antro de perdição?) e com o patrocínio da cunhada beata (que o ama desde que ele a desflorou, bêbado, numa noite assim e assim; a filha Glória é expulsa do colégio por ter uma relação lésbica; o irmão Guilherme, seminarista, castra-se porque não consegue viver sem o amor da irmã Glória (e depois, num arroubo de "os-deuses -devem -estar- loucos" mata-a em frente à imagem santa do cristianismo [previsível] porque ela lhe nega o amor que só ao pai (que acha parecido com Jesus Crsito) quer dar. Mas o fôlego não se esgota aqui: uma das cabritinhas desfloradas morre no parto - de um filhos bastardos- por ter a bacia pequena demais para que a criança abra os olhos ao mundo. Mais:"Senhorinha" sabe que Eduardo (outros dos filhos para encerrar o álbum) a ama desde novo e deixou Heloísa - a mulher com quem se casou para esquecer o incesto mental. Mas nós sabemos que ela também o ama. Morte, Tragédia- sem heróis ou heroínas. A causa e efeito de uma família dos nossos tempos. Pode ser, não foi? Seria?

segunda-feira, junho 18, 2007

a inveja...

Em democracia (quase) tudo é possível. Desigualdades: já sabemos; uso e abuso de poder também...E fazer tudo sem dizer nada.
Estudante de 20 anos convocou a "1ª Parada do Orgulho Hétero"- ontem na Avenida Paulista...30 pessoas...O propósito? Show off. Reinvindicação? Patrocínio oficial da prefeitura para que, em 2008, haja verba para contratar dançarina e duplicar o número de participantes...
Não havia necessidade!

quinta-feira, junho 14, 2007

Regressos

Vento; temporal; chuva; frio; geada; poeira; gravilha; ondas gigantes com possibilidade de maremoto; trepidação a roçar a vontade de terramoto; velocidade ilimitada de ventos sussurrantes na hipótese de furacão; sol tórrido; dores de estômago; dentes; sono; insónias; ansiedade; nervosismo... Podia ter sido! Não foi. Nada disto. Nem sequer perto. Regressar a SP foi uma brisa na ponte Dona Maria; ou no mar de Paraty. O lugar não importa. Só as pessoas! SP é aquilo que seria sempre que não seja: um ciclo de retorno para regressar e voltar ao que se é (se ainda não se foi; ou não se o é).
Aqui ou aí; cá ou lá. Só o pensamento não engana. Aproxima.
Agora sim, o que foi: uma rolha de champanhe que dispara; sorrisos estampados por inerência;e talvez uma réstia de solidão para me reconciliar com as ideias. Depois, a missão: um recomeço como oportunidade para cortar as amarras do que não foi e podia ter sido; do que não é e já foi. São regressos. Com a criatividade da pupila dilatada; e das insónias da criatividade.