quinta-feira, fevereiro 03, 2011

A Ilha do Tesouro


Confrontada com o novo projecto do cineasta Manoel de Oliveira, à volta do escritor brasileiro Machado de Assis, em parceria com o crítico cinematográfico Leon Cacof, fiquei com aquilo a que chamamos no adágio popular de pulga atrás da orelha. 

Onde é que eu já tinha lido um dos contos escolhidos para ser filmado? O nome "Missa do Galo" parecia voz interna com uma familiaridade premente como quem diz "mãe". Só poderia ser algo recente, demasiado vivo na memória (que por estes dias não se recomenda). Ou eu tinha aquilo, ou alguém me emprestara uma compilação com algumas das obras soltas do escritor.

Pior, a coisa cheirava-me a "Adultério e Ciúme". Aliás, coisa que os realistas como Assis (e, talvez, ciumento, Eça de Queirós se ande a rebolar no túmulo, porque o mestre Oliveira vai andar de caso com um seu rival literário) sempre gostaram de esmiuçar, a par de outros temas, claro, tão vívidos e presentes corriqueiramente. 

Foi quando resolvi ir à caça do tesouro. As estantes do meu quarto, portanto, transformaram-se em ilhas perdidas, onde naufraguei, por uns minutos. Mas foi como se tivesse durado a manhã toda. Andei por selvas de olhos afiados como catanas invencíveis, quase fiz fogueira com o Ray Bradbury,  com Fahrenheit 451, estive prestes a fazer uma casa à Robinson Crusoé, a enganar serpentes gigantes com Ripley e a vi mesmo o Mississipi com O Huckleberry Finn.

Eis, finalmentem que entrei na caverna (realmente Platão ainda está na estante de Filosofia) e vi a luz. A luz, meus caros, é uma série de volumes de contos de Machado de Assis, editados em 2008 pela Record, com organização de João Cezar de Castro Rocha, e divididos em temas. 

Infelizmente só tenho três dos seis volumes, mas a "Missa do Galo" está lá. É a derradeira prosa do segundo volume, dedicado ao tema "Adultério e Ciúme". Está desfeito o enigma e, com ele, a descoberta deste tesouro ilhado em casa. 

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