sexta-feira, julho 26, 2013

Catarpácios & Cia

Os livros que moram num alfarrabista são viajantes forçados. De mão-em-estante-em-feira-em-lar. Uns maltratados, outros sultões poligámicos que coabitam com raridades. Em rigor, prisioneiros dos desígnios tirânicos.
A semana passada, tentei explorar as velhas livrarias de Amã, na Jordânia. Debalde. Apenas uma loja cinzenta, empoeirada, best-sellers duvidosos, um piano encalhado. Ao sair, cogitava perplexidade: será que a quantidade de alfarrabistas que um país tem revela muito sobre a cultura e sua população?

Estudo de caso: eixo Portugal-Brasil-Jordânia. 

Entre nós, 871 anos de identidade, já pós-doutorados na matéria, arriscando até pôr a espécie alfarrabista em vias de extinção, quantos alfarrábios? Algumas centenas. 

No Brasil, honoris causa no assunto, 191 anos de independência, qual a população lojista de catarpácios? Milhares. Há até uma loja online (www.estantevirtual.com) onde se pode encomendar ‘velhos’ livros por toda a Terra Brasilis. 

A Jordânia, caloira nestas lides, tem pouco mais de 60 anos de vida: os alfarrabistas contam-se pelos dedos das mãos. O que não representa um cenário generalizado do mundo Árabe. Até porque, analisando a etimologia da palavra ‘Alfarrabista’ sabemos que provém do antropónimo árabe Al-Farabi, filósofo que vivem em Bagdade no séc. IX, conhecido pela gigante biblioteca de textos antigos. Al-Farabi viveu ainda no Egito, lugar onde a História marca um legado civilizacional, e onde terá existido uma das mais importantes Bibliotecas sobre o Mundo Antigo, em Alexandria - e que terá ardido (30 A.C.).  Mais uma vez, estes livros, velhos viajantes, alguns sábios intemporais, dependem sempre da vontade humana para existirem. O que será que fariam aos homens se lhes fosse dada vida autónoma? A revolução pode estar eminente.





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