quarta-feira, maio 06, 2009

Love.story [Variações]

“Ainda o farias? Estás a falar a sério? Contigo não teria problema. Foste a primeira. Eu faria. Agora. Nervoso, vinte anos depois, puxou-a para ele, deslizou as mãos no rosto e encostou os lábios para o efeito almofada. Quando sentiu a boca molhada, puxou os lábios carnudos e saboreou o desejo com o doce do Porto que ainda se escondia, lascivamente, nas reentrâncias digitais da boca. O que imprimiste em mim? O mesmo cheiro. O mesmo sabor, apesar do adocicado líquido. Resgatei vinte anos. Assim tanto e nada mudou. O tempo do amor é de baú. O polegar roçou-lhe nos olhos, sentiu-lhe a vida por eles. As rugas. O branco dos cabelos. E a intensidade rasgada do brilho que ainda respondia como fruta madura que se esmaga na mão, como se derretesse o tempo. Eu faria. Ainda quero. Não sabia que queria. Assim. Lamento-o por ser tarde. O corpo atirou-se para cima da mesa. Não queria era que tivesse esse peso. Não. Só porque realmente quero. E não sabia que queria. Estás mesmo a falar a sério? Puff. Só não tenho dinheiro. Quero sentir-te de novo. Vamos embora. O casaco roça o corpo. Engana o frio. A humidade faz com que o respirar seja bafos visíveis. Afinal tenho frio. Mesmo que não tivesse fingiria só para que me agarrasses de novo. Lembras-te? Daquela primeira vez? Foram várias até ser. Será como a primeira? Quero ir-me. Leva-me. Não sei como será. Mas é magnético. Será bom. Agora não posso, deixa-me lá. E amanhã? Ainda terás tempo para mim? Mais um dia. Um tempo. Aqui, depois de almoço. Manda-me mensagem quando chegares a casa. Acordei a pensar em ti. O desejo levou-me a sonhar-te. A entrar em ti, com beijos em ti. Seria como um Almodôvar em preto-e-branco que entra nela. Ou ela que nunca saiu dele. Eu também. Leva-me. Como me adivinhaste? Lembras-te que me disseste que depois do final seríamos amantes eternos? Vamos. Sem rodeios agora. Foi demasiado bom e inesperado para te perder. É como se ficasse para sempre com este desejo, esta história para acabar. És feliz? Não achas que seja. Agora é tarde. Mas não para o desejo. Não sabia que ainda te desejava assim. Estás diferente. O tempo rasgou-te. Ao menos, agora, não foges de ti. Leva-me. Segue. Vais por aqui. E já aqui estiveste? Com quem? Há muitos anos. Não interessa. Abre a porta. Acende a luz. Aquece a água. Enrosca-te em mim, como fazias. Estou nervoso. Só quero olhar-te. Outros quereriam despachar o voraz negócio líquido. Eu quero saborear-te. Adoro esta sensação. A de me levares. Antes era diferente. É novo para mim. Bom. Melhor ainda. Lembras-te quando adormecia no teu peito antes do pôr-do-sol? Ardente. Acordávamos suados com a porta a bater. Desliza-me em ti. Se calhar nunca mais nos vemos. Viste o perigo disto? Não sabia que ainda te queria assim, depois de tudo. Absoluto. Inesperado. Magnético. Vem. Demasiado. Foi há vinte anos. E agora se não é só isto e também não é amor o que é? Vem. Fecha os olhos. Solta-me. Troca comigo. Agora estou aqui. Amanhã já não. Quando voltas? Nunca saberei. Será que volto? Vamos? Temos de ir… É tarde. Porque não ficamos? Percebeste como somos intocáveis. Perigosos. Agora vais. Ainda te quero. Ela vai estar em casa. Deixa-a. Agora vai. Um dia. Será que nos reveremos, mais vinte anos? Não aqui. Onde será? Nesta vida nada se resolve. As agruras ficam. adormecem. É magnético. Vai. Desliza em mim. Deixa-me ir. “Ainda o farias?"

2 comentários:

Cris =) disse...

Para quando um livro?

Muito bom texto.

Beijos!

alfredo rebelo disse...

simply amazing! congratulations!
certainly, you'll be happy in the next step... your big stage.
see you.
kiss.

a.l.f.