quarta-feira, outubro 23, 2013

Um problema crónico

Eu tenho um problema. Bom, talvez tenha vários, mas aquele de que tenho certeza e contra o qual me debato, diariamente, tem sobressaído mais do que habitual. O meu problema poderá, certamente, ser explicado por um qualquer analista especializado em psicologia pós-moderna, todavia ainda não aconteceu de nos conhecermos e parece longe esse acontecido a acontecer. Talvez pudesse resultar numa relação de onde pudessem brotar vários frutos. Ele analisando-me; e eu tomando notas para aproveitar o testemunho para um texto.

Vejamos: o meu problema é bem básico, digamos, convencional, e tenho exercitado vários esquemas, planos e estratégias para fintar a questão. Diagnóstico: tenho um problema crónico com prazos, hierarquias, rotinas e pêlo de gato. O último não deveria fazer parte da lista, mas com a idade noto que a coisa piora. Quanto aos primeiros, que incluo como fenómeno social total da minha existência num problema único a que apelido de “temporalidade da existência do aqui-e-agora”, devo admitir que piorou, consideravelmente, nos últimos dois anos. 

Eu explico, porque a questão é bem mais profunda: continuo a deixar as coisas que não gosto de fazer para o último momento; detesto ter de fazer a mesma coisa todos os dias, bem como ter hábitos semanais, começo a ter insónias e comichões, não lido bem quando tentam mandar em mim. O que acontece quando sou abduzida por ter de fazer algo de que não gosto é que acabo por me entusiasmar a querer fazer outras coisas há muito adiadas que de enfadonhas passam a coisas espetaculares. 

Disperso, eu sei que disperso, em querer fazer tudo, talvez, menos aquilo que caiu no prato do prazo limite. Aquela coisa do-que-tem-que-ser-tem-muita-força é tudo mentira, não é nada assim, quem o inventou como máxima deveria andar a tomar uns chás engraçados. Aquilo que não tem que ser é que tem muita força, pelo menos para o clube dos indisciplinados como eu. 

Eu bem que queria acordar às seis da manhã, correr, comer o pequeno-almoço super saudável cheio de vitaminas, ler muito e escrever logo de manhã, parar para almoçar, cochilar, diligentemente cumprir mais um trabalho mesmo que não queira e seja enfadonho, tal qual palavras cruzadas na sala de espera do médico, jantar à mesma hora, ler de novo e dormir cedo. Mas enfim, há 32 anos que não dá certo. Não sei se dará alguma vez. Talvez seja abduzida um dia por extra-terrestres em sonhos que reprogramem a máquina. 

P.S. É tudo mentira, isto é uma ficção, qualquer semelhança com alguma história que conheçam é pura coincidência, heim!

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