quarta-feira, abril 11, 2012

O amor é uma droga pesada (?)


Devo ter lido este título algures, porque sinto que ele não veio do nada, mas consegui amarrar os dedos antes de cair na tentação de fazer uma procura virtual para explicar a associação livre. É, na verdade - porque, às vezes, a mentira em que vivemos também nos acomete como se fosse a realidade - toda uma dependência que nos turva a lucidez, quando misturada com paixão, mas até agora nunca me arrependi de ter amado com a toda a intensidade que a vida me permitiu, mesmo que isso signifique ter, no fim, o peito apertado, insónias, saudades, um turbilhão de memórias perdidas, mágoa, e acordar de manhã com a esperança de que tudo não passe de um pesadelo (e hoje até sonhei com vários tipos de cobras), ou de uma piada de mau gosto, porque nos dói, porque temos o peito apertado, porque parece que perdemos a respiração, porque, afinal, e é só nisso que pensamos, parece que nada fica, depois de uma intimidade partilhada. Talvez esteja errada, mas sinto sempre tudo isto à flor da pele, como uma ferida aberta, porque magoa e eu não lhe fico indiferente. Em norma, demora a cicatrizar. E a indiferença magoa-nos. Acho que é o que mais nos magoa. A incólume sensação de um nada e de estarmos, então, a sofrer em vão, pelas razões e decisões que não vêm ao acaso. 

Tudo isto porque a Julie, ontem, disse algo que me assustou verdadeiramente. Que ela, agora no rescaldo do final de uma relação que durava há pouco mais de 3 anos, tinha sentido isto: começara a entender as mulheres que apanham dos maridos. Começara a entender por que razão há mulheres que se sujeitam a tudo pelos parceiros, sem coragem para uma decisão que possa melhorar a vida delas e devolvê-las àquilo a que têm direito: a dignidade a uma vida sem opressão, desprezo, maus tratos. A uma vida. Eu fiquei a remoer naquilo e ia dizer que discordava. Antes disso, ela afirmou que entendia melhor as mulheres que se sujeitam a opressão psicológica, a estarem com parceiros que as maltratam e continuou a tese. Depois rematou: - É, sabem, o Amor é uma droga perigosa. Eu discordei. Posso até nem ter razão nenhuma, porque afinal, não entendo nada do tema, porém apeteceu-me afirmar: - Não, o amor não é nada uma droga perigosa. É algo belo e digno e uma das melhores coisas da vida quando é verdadeiro. No fim da vida é só isso que importa. É que, às vezes, confundimos o que é amor. E isso minha cara não é a amor. Amor deve ser outra coisa. Um leve psicoactivo, mas em pleno direito de dignidade. É só preciso aprendermos a identificar a coisa e isso pode demorar anos. Ainda assim, no meu caso, disse-lhe, sei que era Amor, mas não podia, evidentemente, consumi-lo sozinha, e aprenderei, claro, a esquecer e a transformar os afectos.

2 comentários:

Sílvia disse...

Senti o meu coração a ser abraçado. Ler-te continua a ser uma viagem que me liberta, acaricia e inspira.
Abraço forte

Unknown disse...

Obrigada minha amiga. Beijo enorme!