Se me tivessem dito que iria subir pedregulhos sobre pedregulhos, sem poder voltar, durante uma hora, com uma Go Pro na cabeça, roçar a bunda na pedra, passar entre fendas de pedras seculares, resvalar granito abaixo, ver abismo e gelar, esmurrar os joelhos, subir pelo corpo de uns e outros (ora joelho, ora ombros, ora braços), com a necessidade de escaladora semi-profissional, eu não acreditaria.
Pior: eu nem sequer teria alinhado. Eu e mais quatro, que o António, o quinto elemento, estava com vontade por todos nós, era bem capaz de ir sozinho e dizer que nos poderíamos encontrar ao fim do dia, enquanto, com certeza, escalaria pedra sobre pedra, qual lagarto que se agarra à geologia. Era toda uma tontura vê-lo subir àquelas pedras. Mas pior era quando, minutos depois, nos apercebíamos que teríamos de fazer o mesmo.
Foi por isso que subimos até ao céu. Rocha sob rocha. As mãos assolapavam-se à pedra, os pés serviam de estacas provisórias, os joelhos de molas e lá fomos. Ao início nada denunciava que assim seria. Um verde imenso, sim; havia declives e A. não teve bem a certeza onde era a entrada. Encontrou-a. "Alguém é claustrofóbico?". Mudos, todos. Ninguém teve coragem de perguntar o grau de claustrofobia a que ele se referia.
Advertência, depois das lanternas na mão: "Malta, a partir de agora é o seguinte: isto é trabalho de equipa. Não saímos dali de dentro sem a ajuda de uns e outros. Ajudamos sempre o que está atrás de nós. Eu vou à frente e o Paulo fica em último". Obedecemos e, mais uma vez, ninguém teve coragem de reagir quando viu a fenda da Calcedónia, em plena serra do Gerês. Quer dizer, o Paulo estrebuchou: "Tens a certeza de que nós cabemos ali?" Silêncio. E seguimos.
Advertência, depois das lanternas na mão: "Malta, a partir de agora é o seguinte: isto é trabalho de equipa. Não saímos dali de dentro sem a ajuda de uns e outros. Ajudamos sempre o que está atrás de nós. Eu vou à frente e o Paulo fica em último". Obedecemos e, mais uma vez, ninguém teve coragem de reagir quando viu a fenda da Calcedónia, em plena serra do Gerês. Quer dizer, o Paulo estrebuchou: "Tens a certeza de que nós cabemos ali?" Silêncio. E seguimos.
Houve uma pausa. Houve espanto. Houve êxtase e de que a vida é bela. Houve o júbilo de que este lugar é incrível. E, sim, muitos momentos em que apesar de A. conseguir transpor os gigantes, nada garantia de que cada um de nós conseguiria com tamanha destreza e competência.
No final, uma sensação incrível de liberdade e uma paisagem de desafiar as leis que atestam que precisamos de ar para respirar. Acho que respirei uns segundos sem ele. O espanto é paralisia temporária.
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