Confesso: eu bem me quero esquivar à coisa, mas apercebo-me que é uma espécie de artéria arraigada ligada com alguma parte central do meu corpo, comunicante. Um neurónio solto, ao qual não dou muito pouco valor, que esqueço, mas, amiúde, o assunto lá aparece na minha vida. Se fizer a retrospectiva como deve de ser, o histórico é bem evidente e o currículo é merecedor de uma distinção e reconhecimento no mundo masculino.
Avaliem vocês: aos cinco já roubava as balas de couro nos intervalos dos jogos Padroense (parece que também tinha o dom de me aproximar dos miúdos mais velhos, fazer charme, e roubar algumas batatas fritas do pacote) onde o meu pai jogava, para ir chutar no campo de areia caulina e brilhante (o Carlos, o homem-que-tratava-das-bolas já achava piada). Depois, aos 10 anos, fui entronizada, fim-de-semana sim, fim-de-semana não, na minha fase maria-rapaz (não estou certa de que tenha passado) no Salgueiral a gritar pelo "Lalic" e dizia ao meu tio que era Salgueiros desde pequenina (ele, não muito convicto, disse que eu ainda não tinha provado ser merecedora do cartão de sócia: mas eu divirtia-me com aquilo, e como os meus primos não diziam asneiras, aprendi expressões como: sua lesma; sua mosca morta; parece que te cortaram a asa; anda seu lérias, passa a bola; estás na tua fase de jogar basquete e servir à mesa: anda; cortaste o cabeleireiro no salão da tua mãe? (esta última, por mim inventada e que chegou a fazer sucesso na arquibancada!
A minha ligação com o mundo do futebol não acaba por aqui. Lembro-me que na escola, turma de Humanidades (i.e.: as miúdas não dão uma para a caixa, e os miúdos são caixas-de-óculos, marrões) eu levava vantagem nos dotes da bola: e isso só porque corria mais que os outros, fingia que fintava e trocava o guarda-redes todo que ainda não tinha processado se eu ainda estava no meio campo, ou se já tinha enganado o árbitro e, em fora de jogo, marcava um golaço que toda a gente achava um espectáculo. Em terra de cego, quem tem olho vê, né? Sabemos.
Avançando na fisiologia do futebol vanessiano, acrescento que, novamente, sem querer, acabei por namorar com um jogador do Padroense, outro do Custóias e um jornalista da Bola. Literalmente. E o J. sofre, mas sofre, pelo FCP.
Depois, comigo, prosseguindo na novela, a coisa ganhou proporções europeias. Fui voluntária no Euro 2004, no Estádio do Dragão, dando apoio, durante dois meses, ao media desk. O trabalho antes e depois, estende-se no tempo. Em 2006, vivi o Mundial no Brasil, o país do Futebol. O ano passado até, em reportagem, estreei-me no Museu do Futebol em São Paulo.
Haverá, certamente, casos que agora aqui omiti, na minha relação amor-ódio com o futebol. Mas, já perceberam a ideia né, por muito que não queira, Então, há muito futebol em mim. Demasiado show de bola.
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