Os consultórios médicos podem ser laboratórios animados e, por vezes, profícuos em saberes extraordinários, pois se não os frequentássemos, nunca teríamos acesso a determinados aprendizados. É como os cabeleireiros: excelentes salas de aula em assuntos tão requintados e exclusivos como as tricas cor-de-rosa, a arte de domar maridos, amantes, namorados ou escapadelas; e outros assuntos de superior interesse para mentes desocupadas.
Esta semana, por exemplo, o tempo de espera no consultório foi maior, porque a agenda da minha médica (o pronome possessivo é meramente explanatório), excepcionalmente, tinha um corpus de palavras a negrito extra, antes do horário das habituais consultas.
Folheio, portanto, na queima do tempo, páginas do meu livro, que cautamente incluo na bagagem diária, até porque ganhei aversão a qualquer prosa em lugares públicos, numa fingida tendência obssessivo-compulsiva, por ter um certo nojo de quem terá folheado aquelas páginas de revistas. Uma herança da infância, claro, pois recordo-me perfeitamente da minha mãe dizer com asco para não pegar naquela ou naqueloutra revista, e, por isso, aprendi a olhá-las como se fossem um cadáver de papel, embora ainda, amarfanhadas, a cumprirem a função fofoqueira-informativa, como se tivesses, sim, uma existência embalsamada.
Enquanto esperava, eu e demais utentes, a funcionária, a Cândida, que me conhece desde pequenina, começou a rir desalmadamente. Em mais de 20 anos, nunca a vi mal-disposta ou arreliada, por isso, pensei que fosse mais um dos seus desvairos, ou estivesse, eventualmente, na brincadeira com alguém do outro lado da linha.
Mas não. Havia uma simples explicação. E-mails engraçados, desses que circulam de correio em correio electrónico (e para os quais nunca tive muita paciência, acabando, por apagá-los no acto de recepção).
Veio, então, a primeira anedota, mais ou menos assim:
- Um português casou com uma chinesa, mas ela morreu ao fim de um ano. Enternecidos, familiares do viúvo consolaram-no, até que alguém teve a coragem de lhe perguntar como ele se sentia. Resposta:
- Já se sabe. Os produtos chineses não duram muito tempo!
Gargalhada. Gargalhada. Gargalhada.
Veio a segunda e última anedota, que, na realidade, é a história que melhor se adapta ao cenário ali envolvente.
- Contratação: Um homem está a ser entrevistado para ocupar um lugar numa repartição pública. É aceite, mas antes o chefe sente-se impelido a cumprir protocolo e, por isso, não dispensa fazer-lhe algumas questões:
- Aqui diz que o senhor não gosta de café. É verdade?
- É sim, senhor. Espero que isso não seja nenhum entrave para ocupar o cargo, mas realmente eu nunca gostei do sabor do café.
- E há mais alguma coisa que eu deva saber?
- Bom, já que pergunta, é melhor que saiba: eu tive um problema de saúde há uns tempos e foram-me removidos os tomates.
- Ah, ainda bem que diz. Pois muito bem. Está contratado. Entra às 11h.
- Desculpe, mas às 11h? Pelo que sei aqui toda a gente entra entre as 8h30 e as 9h da manhã. Por que razão eu entro às 11h? Algum problema?
- Não, não há problema nenhum: é que das 9h às 11h tomamos café e coçamos os tomates.
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