domingo, fevereiro 06, 2011

Manhattan, baby!

A coisa com Woody Allen não falha: as histórias cruzadas de argumento em argumento, personagens neuróticas, puerilmente enrodilhadas em dúvidas existenciais, e feitos como se fossem nossos clientes e nós, espectadores, cúmplices da filosofia "alleniana" (vejam bem como fica "spooky" a declinação do substantivo do realizador-actor), somos obrigados a reagir como diligentes psicanalistas - muito embora o divã esteja deste lado e nós bem sentados.

Capítulo 1: O filme "Manhattan" (1979) começa com belíssimos planos gerais a preto e branco da cidade, narração em off de Woody Allen, antecipando o livro que esse seu personagem anda a escrever, levando-nos ao universo indeciso de quem amassa constantemente os papéis da prosa, atirando-dos para o lixo, no fracasso do começo da história...

Isaac (Woody Allen), recém-divorciado de Jill (Meryl Streep) que o trocou por uma outra mulher, namora uma Lolita de 17 anos, Tracy (Mariel Hemmingway), que é apaixonada por ele, até que se começa a interessar pela amante (Mary - Diane Keaton) do melhor amigo, Yale (Michael Murphy).

Mary entra em neurose pela situação promíscua com Yale. Rompem. Isaac começa a sair com Mary, que acaba por voltar para Isaac, que acaba por querer de volta a sua Lolita. A sequência frenética faz sentido como se fosse o poema "Quadrilha" de Carlos Drummond de Andrade

("João amava Teresa que amava Raimundo/que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili/que não amava ninguém")


No meio, psicologia pessoal com nevróticas indecisões como se aquilo ali fosse hoje. É, Manhattan de Allen é hoje, ou pelo menos no que diz respeito ao tratado das emoções, dos afectos, desafectos. Sabemos tudo isso, mas pela fraca memória da neurobiologia da consciência somos afectados pelo síndrome do esquecimento.

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