O vento passou do assobio ao rugir. Derruba caixotes do lixo que abrem a boca, vomitando restos de sacos de plástico. Ruge, daquele rugir que atravessa as frinchas e parece querer apagar lamparinas, se as houvesse. Há Romantismo por aqui. Há Goethe. Há Murnau.
Há árvores chacoalhadas, nuas, muito nuas, de secos ramos vazios. Há bátegas imponentes a jorrarem do céu. Há ramos, verduras, restos de flores, folhas secas a chocarem com o vidro, a quererem entrar onde há calor, candeeiro a ténue luz.
Há aspereza no caminhar desse vento, que hoje não levita em brisa, tacteia com passos retumbantes a terra. Há um gotejar enquanto o gato assenta cama no parapeito.
Há rugido, e uma réstia de azul ali no fim da tela que é telhado de mundo. Se telhas as tivesse, estaria nu, como já o está, em névoas que turvam o que resta de indigo.
Ruge ruge. Ruge vento, em temporal, com companheiras pingas para lhe humedecer a empreitada com a noite caída. E com a noite tombada e vento assim, haverá insónia certa para árvores, galhos, caixotes e gente que ao primeiro assobio, saberá pôr as mãos onde as deve para abafar o lamento do vento...
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