Anda para aí uma nova comunidade peregrina e fiel, chamada iphoners, à qual aderi, primeiro por querer, com as vantagens incríveis para jornalistas, depois sem querer, por extensão de uma certa necessidade que o bicho impõe. É um brinquedo, é uma ferramenta de trabalho, é um telefone, é uma companhia para ganharmos tempo quando achamos que o estamos a perder em filas de espera, ou quando não nos estão a dar atenção, é uma tirania, um admirável mundo novo, um big brother, uma quinta ou sexta vaga à la Alvin Toffler, um super-ego, neto de Marshall Mcluhan ou primo afastado de Anthony Giddens. Ah, tirano dos média, se soubesses que o meio já ultrapassou a mensagem em overdose, nossa pele de cultura!!!!
Apercebi-me deste efeito de comunidade tribal, dotada de linguagem própria, à mesa de almoço, entre 11 pessoas, no sábado passado, entre o estado do fotojornalismos da nação sobre propaganda socratiana e os equívocos do INE, e Coca-Cola zero.
A certa altura, estavam cinco dessa trupe a trocar aplicações (a.k.a app's de iphone), a dar dicas sobre como tirar fotografias à tela se se tratar de algo importante, capas mais bonitas, imitações de isqueiros zippers e por aí foi, resvalando em utilidades imperdíveis, qual Lidl e sua Dica da Semana.
O ridículo pode ser um lugar-comum de partilha eficaz, espelho, aliás, do nosso bom-humor.
-"Esta app é muito fixe: grava vídeo em desenho animado"
- "E esta das fotos que cria uma legenda. Gira!: tem um bigode"
- Caramba, tens imensas aplicações de fotografia, não crias pastas?; é melhor para organizar.
- Ah, e como é que se faz?
- Olha agora: para tirar fotografia ao ecrã tens de carregar primeiro aqui e depois ali"
-Ah, que gira, olha esta aplicação, assim, que faz vídeos rápidos a partir de fotografias. Chama-se Time Lapse.
- Ah boa: é o frame-a-frame.
- Sim, foi o T. que me passou que ele é viciado em app´s. Adora!
- Diz lá qual é para procurar aqui na itunes store.
De, repente, eis que saindo do portal tribal, da fogueira crepitante do êxtase santo iphone, se impõe uma voz, como quem, afinal, encontrou a mensagem na garrafa que ninguém mais encontrou, a retirou, cuidadosamente, e a leu em voz alta, numa espécie de exegese da lucidez.
- Você estão a perceber que isto é realmente uma tendência. O que nos estamos aqui a fazer? Ainda não nos calamos com app's.
- É parece que estamos a trocar cromos, como antigamente.
Risos. Gracejos.
Até, que numa pausa do momento iphone tribal (qual seria o ritual seguinte?):
- Você deve estar achando que isto é um bando tudo louco, né?
Sorriso da U., que nos observava, atentamente, e admirada, olhar de antropóloga funcionalista, qual Evans-Pritchard entre os Azande, estudando bruxaria, oráculos e magia!
- Pois é, tens de comprar um para ficares a par e trocares também.
Acho que talvez tenha sido aqui que me apercebi do impacto do movimento (somos, portanto, um estudo de caso que exige observação-participante; amigos casuais pela irmandade do iphone), a nova maconha, ou uma espécie de crack dos tempos modernos (I wonder how Chaplin would see us?).
Os iphone-excluídos são, quando a tribo se junta, um novo modelo de xenofobia silenciosa, a que nós, iphoners, à guisa da troca de cromos, como bem catalogou M., aderimos como pele de uma certa cultura perigosa. Imaginem: há até uma app que simula que nos estão a ligar? E, nós, não contentes com a santa lista de app's imaginamos criar algumas. Bandeirinha vermelha para esta:
-Não tarda nada inventarão uma com um filtro para ver a roupa interior das pessoas, ou então baseado na estrutura humana em que se simula ver!!!
Risos. Risos e mais teorias.
Típicos. Nós, depravados. E como a estrutura da neurobiologia da consciência é demasiado parecida, pareceu-me "impossível" que ninguém se tenha lembrado antes de uma app assim. Vá!
Freudianos deste mundo, associações religiosas conservadoras, puristas, uni-vos.
Ela existe, sim, chama-se, claro, Nude It e, pronto, não preciso dizer mais nada! Já sei o que vocês vão fazer a seguir...
1 comentário:
Prefiro Android =) Mas sim, volta e meia a conversa resvala para essa troca de cromos (nunca tinha olhado na perspectiva do passado)... especialmente no meu caso que a maioria dos meus amigos são informáticos.
Beijinhos
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