1. Isto não é nada de especial, mas também é. Poderia até ser incómodo, por não me terem pedido autorização, mas tornou-se caricato. Pode até ser uma amenidade, ou um suspiro, ah e tal a vaidade, se não tivesse servido já para curiosos episódios da minha vida. Tudo graças ao filme documentário José&Pilar de Miguel Gonçalves Mendes, estreado o ano passado, primeiro no Brasil, depois em Portugal, onde apareço, por segundos, a fazer uma pergunta a Saramago, no consulado português em São Paulo.
2. Tudo começou com um telefone de uma amiga carioca:
-Van, você é uma portuguesa muito metida, né? Como assim você aparece no filme do Saramago? Bonitinha, né? Com cabelo mais comprido e a única que faz uma pergunta inteligene. Que legal Van.
Claro, que a mandei ir zoar com outra pessoa. Sacanagem, assim, comigo, Aninha? Que é isso?
-Falando sério, Van! Você aparece na coletiva de imprensa que rolou aqui em Sampa quando ele veio apresentar um livro...
3. Ainda não crente de que se tratava realmente da minha pessoa, mandei e-mail ao Miguel, quem tinha entrevistado, coincidentemente, um mês antes, na Festa Literária Internacional de Paraty, para uma entrevista para a Notícias Sábado. Nessa altura, ele não associou A+B e eu era, pois, mais uma jornalista.
Ele respondeu, um dia depois, mas antes recebera durante a tarde, um telefonema do número de telemóvel português:
- Olha, que coincidência! Não me apercebi. Mas a cena é que quando abri o e-mail, ia escrever-te para ires à festa de lançamento do filme, lá num bar em Pinheiros...
4. Depois disso, tenho recebido e-mails, mensagens via facebook, de amigos e conhecidos a dizerem que me viram, que se lembraram de mim, que foi giro, que foi coincidência e que foi muito bom que ali estivesse, na tela, como património de Saramago. Ocorre-me isto e pensar ainda que Saramago foi sempre presença assídua em casa dos meus pais, através dos livros. Que cresci a lê-lo. Que amadureci a percebê-lo a identificar-me com a psicologia sulfurosa dos livros deles, na acidez da escrita, na maturidade em ler a vida. Aprendi que somos todos um estado de excepção, uma espécie de exilados de nós, peregrinos, como elefantes e Caim's, e Ricardos Reis, à procura de nós, de um lugar melhor para nós e de Todos os Nomes que nos possam aproximar um pouco mais do que somos, verdadeiramente. Apercebo-me disto e sinto-me regozijada e a pensar que não poderia ser de outra forma, que realmente, tal como Saramago sempre fez parte do meu crescimento (de certa forma ainda faz) eu pude, então, em obra póstuma, fazer parte, por segundos, da memória dele. Depois, sucede que com José &Pilar já fui a lugares onde nunca imaginei ir, como México, por exemplo. E que há uma outra Vanessa, a deambular no cinema, além de mim, e a ser parte da vida de outras pessoas.
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