sexta-feira, abril 22, 2011

Rugas, cabelos brancos e tal e coiso


Isto é uma grande tirania. E envelhecer é uma mulher de negócios, que se fez à vida (olha o lato do senso), negociou com ela uma certa percentagem, a médio e longo prazos; conseguiu boas taxas e benefícios fiscais, isentando-se da instabilidade hormonal e os rasgos iluminados da espontaneidade. 

É uma comerciante nata e que, de certeza, está por trás de toda a indústria farmacêutica, homeopática e natureba, fomentando as campanhas de marketing e propagandas pró anti-oxidantes, cápsulas de colagénio e centelha asiática, spirulina, vitamina E, ginásios e novas técnicas para tonificar, delinear, definir, blá-bla-blarrr, e por aí vai, que não tenho fórmula rigorosa da parafernália que há. 

Sim. Envelhecer -  dita e propalada no infinitivo como deve ser tamanha agente secreta da degenerescência, em lentes progressivas - é uma valente tirana, sabemos, embora poucos lhe consigam tirar o chapéu. 

E tirana silenciosa, que é a pior raça, com propaganda subliminar. Sei. Aparece sem ser convidada, não damos nunca por ela a não ser que nos confrontemos, ou com a prova da comparação entre o antes e o depois; ou se alguém ainda mais tirano nos chama a atenção; ou se a P.I. quer ganhar mais protagonismo que uma muçulmana na capa da Playboy, com silicone. Oxalá! (Ao menos reconforto-me a pensar que ainda vou a tempo de ser chamada para o ensaio. Ainda tenho uns aninhos até ao ultimato...).

Tirana. Tirana. Tirana. Sobretudo pelo embaraço quando nos apanha desprevenidos. Aconteceu, certa vez, ao escritor brasileiro Zuenir Ventura, que, estando na fila do banco para realizar uma qualquer operação financeira, ouviu gritar do caixa:

-"Deixe o velhinho passar, que tem prioridade!"

Ele ficou olhando ao redor tentando achar o velhinho. Foi apanhado desprevenido e ainda fingiu que a conversa não era com ele. Qual velhinho o quê? A malandragem de tudo isto é que Roberto Carlos chegou aos 70, Gilberto Gil e Caetano, ao que parece chegam lá no próximo ano, e Chico Buarque antes disso passa a sacanagem dos 69 daqui a três. Todos eles em primoroso estado galanteador, com malhação e os prodígios do amor (que Vinicius de Moraes já evocava como elixir da juventude. Hum, será que com mulher também funciona?). 

E e eu agora, balzaquiana, ando a perceber, descobrir, entender, galvanizando terreno como se de um estudo de caso se tratasse, o processo. Peguei uma ruguinha de expressão no outro dia na testa (de meu olhar sisudo, franzindo o sobrolho como fisiologia da necessidade: há um antes e depois do Brasil; há uma Vanessa pré e pós Brasil, por isso, tem que descontar na derme os efeitos colaterais), as brancas parecem querer florir com a Primavera da minha cabeleira castanha (nascem como pêlos fossem, meio encaracolados, onde antes parece não existia cabelo: neófitos fios que nunca mais serão castanhos). 

É só levantar a parte de cima da cabeleira que a coisa ganha charme como dizem alguns amigos meus, no perfeito chaveco. Mulher jovem de cabelo branco tem charme. Não sei não!

Mas o mais curioso de tudo isto: apercebendo-me apenas das mutações dos traços, das curvilíneas formas que a idade traz, do recorte de rosto, mais maduro, de pinceladas no olhar e ao redor, só porque cruzei o Atlântico para este lado de cá e parece que o tempo no corpo ganha densidade e no olhar dos outros. 

Por isso, não dei conta, quando um destes dias, também numa fila alguém disse:

-"Senhora? Senhora? 

Olhei ao redor à procura da senhora e, com tantos adolescentes à volta, devo ter, com certeza, enrubescido.

2 comentários:

Joéliton Santos disse...

Olá.
Vim visitar seu blog e gostei muito. Já estou lhe seguindo!

Grande abraço!

Biel Cabrito disse...

Eu não li nada. mas.
é as mulher vira umas barangas.
e as jovens são muitas vaidosas e tem nojo de de tudo que é bicho.
bastantes homens concorda.
Falow
e você escreveu muito.
PARABÉNS