Sempre tivemos imenso jeito para as Línguas, nós, portugueses. Não somos como os alemães a falar inglês que parece que estão a querer bater em alguém, eventualmente a parecer com um desarranjo intestinal, ou, quem sabe, com a garganta arranhada.
É que, nós, portugueses, arranhamos bem o portunhol, com distinção q.b. em relação aos nossos vizinhos ibéricos (salvo o galego, é certo), somos "exquisites" no inglês, o francês também é "chanson avec distinction" para inglês ver, tentamos parlare o italiano, exercitando com veemência as mãos (a ver se, com sorte, batemos em alguém, sobretudo no Padrinho) e, uma vez imigrantes em qualquer canto do mundo, já somos exímios parlantes da língua local, arranhando a nossa língua-mãe com uma marcante influência a que os linguistas chamam sotaque. Somos uns comunicadores da gema, vá!
Ora, acontece que, desta vez, sem sairmos de Portugal, andamos todos muito multilingues e afamados no mundo, devido, sobretudo, primeiro ao nosso mediático naufrágio das contas públicas, depois por causa da mui nobre visita de distintos turistas internacionais da agência FMI.
Sabemos já dizer troika, como se fôssemos marxistas-leninistas desde pequeninos; FMI sai-nos assim disparado, com variante de IMF, como chiques que somos, e mais: reaprendemos a pôr a trema no nosso quotidiano linguístico com tão engraçados nomes nos cartões de visita que os é-éfe-éme-istas entregam. Não é chapézinho, não: é algo como trema-trema, estamos de bisturi na mão para a cirurgia necessária do que resta do país...
Depois, claro está, por estes dias, também somos um pouco americanos, gregos e irlandeses, como se se tratasse de uma segunda camada de pele, por mutação genética, e a que, sem uso de recursos estilísticos vamos ter de nos habituar para recuperação dos tecidos genéticos da nossa portugalidade. Vêm aí tempos ainda mais multilingues, ainda que de palavras enxutas. Vêm aí tempos de economia de lirismos, por um erro de ortografia político-económica . A ver se nos entendemos num novo acordo da gramática do país.
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