Regresso aos sonhos, ou como desvendar o segredo de morfeu, sem ser convidado
foto vanessa rodrigues, osgemeos, 2006
Tive uma série de ideias para os próximos tempos. Títulos de livros, exposições, fotografias, documentários, filmes, instalações artísticas, lugares, histórias de gente, ideias de posts, crónicas, projectos e ideias mirabolantes que podem revolucionar uma parte do mundo. Ainda que esse mundo possa ser apenas o meu. Suficiente, parece-me, para que seja um pouco mais feliz. Se me pagassem para ter ideias certamente já teria juntado o dinheiro suficiente para dar a volta ao mundo. Curiosamente, de manhã, já não me lembrava de nenhuma dessas ideias fantásticas.
Acordei sim com a sensação de que, afinal, não tinha era dormido nada e passara a noite em absoluta e exemplar vigília, mas de olhos fechados. Talvez fingisse, embora não o quisesse, apenas rendida à vontade do corpo. Já me convencera de que ter o gravador na mesinha-de-cabeceira como fazem algumas almas geniais (outras de tão geniais, acabam sempre por se lembrar de tudo, revisitando os sonhos sempre que queiram) é a solução perspicaz e de escorreita eficiência para cumprir as deambulações nocturnas, ainda que em estado hipnótico pela embriaguez que pode ser o sono e o alheamento dos estado pós-sonho. Um caderno, talvez, também ajudasse. Mas falho sempre. As vezes em que isso acontece são tão raras, por isso insuficientes para me obrigar à diligente tarefa do pronto registo para que não haja desculpas. Falho sempre.
Mas a ideia de que a memória habita um universo tão paralelo e longínquo da razão durante a noite leva-me a pensar num modo de induzir esse estado de pura criatividade, parece, como se pudesse revisitá-lo sempre que quisesse. Dizem que é isso que o realizador David Lynch faz com a sua meditação transcendental, e que já originou obras tão fantasmagóricas, quanto geniais, como o estranho mundo de "Inland Empire". Talvez ele tenha, assim, encontrado a fórmula que o leva a poder mostrar-nos quase tal qual o se passa nos seus sonhos, pela tela de cinema, com actores, que não sendo exactamente aqueles personagens que lhe habitam o onírico, se assemelham ao universo da sua cabeça e das lembranças das suas inquietações. A catarse. Uma cópia aproximada, vale mais do que não chegar sequer lá perto.
Como não sou adepta de qualquer tipo de meditação – um pouco por incompetência, acredito – , a não ser as minhas prolongadas caminhadas e longas contemplações sozinhas em esplanadas a ver povo e , de certa forma, a atraí-lo - vou ter de arranjar uma forma de no próximo sonho encontrar a porta de entrada que me leva lá sempre que quiser, para que no meu mundo real, transfigure o que vejo, sinto, ouço, por mais abstruso que possa ser, depois, neste lado de cá em que se desperta com o relógio do telemóvel, e que o dia fina numa cadência similar, todos os dias.
Morfeu conhece-me bem mas, dizem, não é de grandes confianças nem subornável. Em todo o caso não encontro nada que lhe pudesse justificar a troca, ou a querença de um suborno, sendo ele o administrador vitalício do lugar onde todas as coisas são possíveis. Talvez tenha sido ele que me roubou essas ideias todas.
Sem comentários:
Enviar um comentário