quinta-feira, março 25, 2010

Perdão


Quem disse que o crime não compensa não poderia estar bom da cabeça. Não sabemos até se terá sido amarrado numa camisa de forças e esquecido num canto bolorento de uma casa de saúde mental, ou quem sabe tenha postulado a premissa com uma boa "litrada" de embriaguez idealista. Há por aí tantos exemplos de que a arte de subverter o que é estruturalmente convencionado como bom em mau, o mau em péssimo (e o péssimo em parente próximo de um superlativo do superlativo com vítimas amigadas dos diminutivos dos diminutivos) é das mais rentáveis actividades da passagem por este mundo. Além disso, porque todos eles, os maus - feios e porcos, parece - têm todos um momento warholiano: aqueles 15 minutos diários, subsidiados pela imprensa. 

Recentemente vários padres foram considerados culpados por crimes de pedofilia e diz-se que o Papa nada fez para os castigar. Vá lá, sabemos, um clássico. Não invoquemos as excepções, pois pouco sabemos sobre elas. Voilá: também não chegam à imprensa. É tudo demasiado silencioso. 

O ano passado em Manaus, um padre amigo estava revoltado porque o Prelado da região nada tinha feito para punir o anterior padre da comunidade que ele estava a substituir, por provas irrefutáveis de pedofilia. Não há espaço no mundo que possa servir de pergaminho para escrever com tinta justa todas as atrocidades que os Homens cometem, em nome de deus e de outras tantas coisas de ideologias de embriaguez (talvez como todas) como a de dizer que o crime não compensa. 

A subversão usa a técnica dos opostos: quando subvertida, subverte-se a si própria em acto contínuo para que deturpação anterior possa ser contestada. É a natureza do fluxo das coisas, dos opostos, contrários. Depois, porque não podemos afirmar que alguém está categoricamente certo porque a moral e o sistema são inventados pelos homens, transpostos pela linguagem, que é apenas uma tentativa aproximada de traduzir o pensamento, por isso, um método finito, incompleto, falacioso e com uma margem de erro demasiado grande para poder ser levada em conta. (O Marquês de Sade estava "errado" segundo os valores morais do sistema social aceite e dado como o correcto; mas a imoralidade também tem sistemas, códigos, e é naturalmente certa).

Relativismo? Nada me garante que este seja O sistema, evidentemente tão imperfeito (tendo em conta que a ciência é tão errónea, quanto eu a resolver fórmulas químicas). Eu sei que a ligação é leviana e pornográfica. Eu sei que estou a ser, pois, tendenciosa e descontextualizada sobre assuntos tão aparentemente distantes no tempo. Também sei que o perdão é das maiores capacidades de elevação humana. Mas há coisas em que dispenso a elevação. 

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