terça-feira, março 30, 2010

O Mal é um antro, o Bem uma máfia de bordel


Tenho cada vez menos dúvidas (e isto porque me resta sempre o optimismo debaixo da pele), ainda que as minhas costas não estejam suficientemente vergadas para que sinta o peso dos Invernos da vida, de que há um Mal que nunca acaba e um Bem que nunca chega a cumprir-se nas coisas mais elementares.

Se a lei do merecimento realmente existe, ainda não a vi aplicada com rigor e a justiça devidos. Eu sei. A idade é tenra. Eu sei, haverá outros portos a que não chegarei nunca para ver gente ancorada em marés menos violentas. Eu sei de tudo isso. E, às vezes faço de conta que não sei determinadas coisas para que não carregue o peso todo nas costas.

Já me fiz de tontinha para que se não percebesse que sabia determinadas coisas que o peso dos afectos dos outros nos intimidam a tomar partidos ou posições. Acreditamos que um dia as pessoas vão acabar por perceber quem é o outro, e se não chegarem nunca a percebê-lo melhor, porque se entenderam; e talvez isso seja o essencial, porque amor é paciência e, claro, compreensão. É quando a água que ferve aos poucos começa a sair da fervedor e escalda a pele com queimaduras de primeiro grau que a paciência empola. No final, fica em nós aquele travo amargo de sabermos o que os outros não viam porque cegos de sensibilidade afectiva; que sabíamos que mais cedo ou mais tarde “aquilo” iria acontecer, e que sim, aquela outra pessoa era capaz de perpetrar tamanho acto de maldade. No fim, tudo é possível , então e, por isso, cruamente ele percebeu, da pior forma (não que haja uma melhor, mas poderia ter sido mais atenuado) que o amor não passa de uma arte da guerra. A ex é uma cabra dos Infernos, sem escrúpulos e anda a fazer-lhe a vida negra até ao desgaste, numa valsa ordinária que pode arrastar-se anos. Quem sabe uma vida inteira. Só que ele sabia: Ponto. Ele sabia quem tinha, que andava a dormir com o inimigo e, mesmo assim, teimou em querer mudar-lhe os escrúpulos, até que aceitou o Inferno e aprendeu a saltar a fogueira de lado, para que as fagulhas do ar não o queimassem demasiado.

Por isso, se alguém souber de exemplares da lei do merecimento, escrevam-me que ficarei feliz em revogar a tese segundo a qual o Mal esmaga sempre o que entendemos por Bem. Isso, com absoluta certeza. E isso, porque tenho visto e ouvido o intrincar de actos fabricados que depois se tornam factos aos olhos do que chamamos Justiça.

Tenho visto o rosto da perversa a ensombrar a vida de muito boa gente que me é próxima, e tenho provas irrefutáveis de que o calculismo, o materialismo e outros “ismos” de índole maquiavélica - barata, é certo, mas igualmente eficaz - são os melhores estrategas na arte de foder o outro. Assim, devagarinho, com dor insuportável e sem vaselina, como se tudo se resumisse a um esquema tão milimetricamente arquitectado que percebemos que a lei da mediocridade de da esperteza atroz são verdadeiras vencedoras e, por isso, não haverá juiz que desconfie do desequilíbrio do cenário que se lhe impõe. 

Será impossível pensar que aquilo que se nos apresenta nada tem a ver com a verdade. Eu, também, se visse as coisas sem saber os meandros de como se tem arquitectado a destruição do outro com não-factos, maldades e desgastes psicológicos com uma criança no meio não teria dúvidas em julgar que o Mal que se me apresenta é o Bem. E que ao revés, o Bem é o arauto da perversidade, como se reunisse em orgia involuntária o antro  do crime organizado e o bordel da máfia, como se fossem uma única e a mesma coisa. A mistura é grossa. Passemos à fina. A vida é perversa. E não tenho bem a certeza se ainda deva ter dúvidas. Talvez me vacine contra o optimismo.

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