O mundo de Sarah Kane é conturbado, incómodo, deixa-nos um pouco pesados e complacentes com um universo para onde temos de mergulhar quase numa apneia involuntária, mas há qualquer coisa na acidez e no caos desta escrita que me faz folhear, sem pudor, medo, ou sequer intromissão de pensamentos pungentes ao modo de vida desta escrava literária. Ando, por isso, empenhada nesta Psicose, nas Ruínas, ou destroços do pensamento dela, em ruptura permanente, para entender a citizen Kane, desaparecida tão precocemente de um talento. A primeira vez que ouvir falar dela, foi há dois anos, numa aula de Estética Literária, da professora Joana Matos Frias, quando, em 2010, como ouvinte curiosa, me propus assistir a algumas aulas do Mestrado em Cultura e Interartes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Falávamos, precisamente, de estética, mais concretamente da Filosofia da Estética, e permeávamos algo como o espanto que um tsunami, por exemplo, pode infligir em nós. Um tsunami é um acontecimento e por isso não deixa de ser belo, ainda que catastrófico. Sarah Kane tem esse efeito: de um maremoto, destrutivo e paradoxalmente belo. Hei-de voltar a isto, quando regressar às minhas notas dessas aulas.
Na maioria das livrarias, "Teatro Completo" está esgotado. Mas aqui ainda é possível comprar obras da dramaturga britânica. Graças à Sandra Claro, outra apaixonada pela literatura, ando com a Sarah Kane no colo, num empréstimo rápido, antes que ela fuja de vez para Paris.
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