Estou mais "acostumada" a conhecer o autor brasileiro Rubens Figueiredo na versão tradutor. Traduziu Susan Sontag, Paul Auster, Philip Roth - para enumerar apenas alguns. Falha minha, com tantos clássicos na estante, na fila de espera, uma avidez pela crónica brasileira, pela qual tenho, digamos, um naco apaixonado; e a tenra vivência neste auto-didactismo que sempre é a Literatura, para quem a redacção e a editoria são um parente muito afastado.
Rubens é um rigoroso e exímio explorador de inglês e, sobretudo, de russo para português, com selos como a Companhia das Letras, Cosac Naify. Mas é também homem de punho extraordinário na prosa. Ontem, foi o vencedor do Prémio Portugal Telecom de Literatura em São Paulo (se lá estivesse, picaria o ponto, pelo convite insistente que me chegava ao e-mail; em rigor, o ano passado lá estava para ver Chico Buarque a subir ao pódio) com o livro "Passageiro do Fim do Dia" (2010)- podem ler um excerto aqui-, nessas deambulações de ônibus pelo Rio de Janeiro, esventrando a antropologia da cidade maravilhosa: as paragens no meio do nada, os transeuntes desobedientes a quererem entrar fora do lugar, na psicologia colectiva, nos humores do pensamento. Uma espécie de João do Rio do século XXI, observador hábil e insigne no corpo de um Pedro-personagem.
O autor está de Parabéns (tinha já na bagagem o Prémio São Paulo, o Prémio Jabuti 1999, categoria Conto e Crônica, com o livro: As Palavras Secretas, 1998; outro Jabuti em 2002, na categoria Romance, com o Livro: Barco a Seco, 2001) mas também o Gonçalo M. Tavares pelo igualmente extraordinário "Uma Viagem à Índia! (Caminho, 2011). O terceiro lugar foi para "Minha Guerra Alheia", de Marina Colasanti.
Os dez finalistas do prémio deste ano, além de Rubens Figueiredo, com "Passageiro do fim do dia" (Editora Companhia das Letras), foram João Tordo, com "As três vidas" (Editora Língua Geral), Gonçalo M. Tavares, com "Uma viagem à Índia" (Editora Leya), José Castello, com "Ribamar" (Editora Bertrand), João Almino, com "Cidade Livre" (Editora Record), Marina Colassanti, com "Minha guerra alheia" (Editora Record), Alberto Martins, com "Em Trânsito" (Editora Cia das Letras), Elvira Vigna, com "Nada a dizer" (Editora Cia das Letras), Ricardo Aleixo, com "Modelos Vivos" (Editora Crisálida) e Donizete Galvão, com "O homem inacabado" (Portal/Dobra Editorial).
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