Ando a sonhar com cobras. Grandes. Daqueles que cabem no pesadelo dos homens. Deste que ontem sonhei. Uma cobra grande, medonha, uma mamba azul sonhei. Brilho pegajoso e uma cabeça que parecia de cão raivoso. Desconheço que haja cobras com cabeça de cães raivosos, mas os predadores têm todos a mesma expressão momentos antes do ataque à presa. Neste sonho aflitivo ela rastejava na água e depois quedava-se a mirar-me, exercitando esse acontecimento que antecede um ataque.
Era água rasa. Havia pedras, seixos, desses que as águas têm de subir para transpor. Eu por ela passava, sem angústia, embora depois acordasse inquieta de tanta aflição e logo com uma mamba azul. Haverá? Asco manifesto.
Porque sei que era uma, questiono, quando, na realidade, nunca antes vira uma. O que conheço sobre cobras não chega para terminar uma escola primária, mas as sucuri brasileiras com as quais cheguei a estar tête-à-tête, ou vendo-as lá em baixo, adormecidas, enormes, métricas, nesse lago que é chamado de Aquário natural de Bonito, na região do Pantanal, enquanto snorkel fazia, talvez faça de mim uma iniciante no ritual dos répteis ofídios.
Sei que era uma mamba porque a Rita esteve recentemente em Moçambique e descreveu-me uma. Mas não era azul. Não sei de onde tirei isto. O mais próximo que possa explicar para o fenómeno, sendo que a cobra de porte respeitoso não me chegou a atacar (mas eu tive medo, e medo num sonho é sono angustiado, na certa) é que hoje, coincidência ou não, reflicto, vesti-me de azul-camisola e pintei-me de azul-olhos, com azul-cachecol. Agora que penso nisso, o A. disse-me uma vez que se pensasse em mim numa cor eu seria azul. O que raio significara isto?
E, depois, duas coisas que não interessam para nada, a não ser o meu exercício de curiosidade: vesti 3 peças do avesso sem dar por ela. Talvez para espantar bruxas. Haverá bruxas azuis?
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