Aquele suspicaz senhor que no metro entrou, logo pela manhã solar, azabumbado ficou e com ares de amuo, sibilando um acanhado suspiro da alma, claramente apoquentada. Começou a travar de razões o que a rapariga acabara de fazer. Veio sermão e missa cantarolada, mas sem afino de graves agudos (ao menos), enquanto víamos que a cabeça dela ficava todo um oceano de atlas aberto e com aquele corpo, náufrago, qual ilha à deriva pelas imprecações do pobre mas atrevido homem.
Com embaraço prosseguiu e saiu na estação seguinte, tropeçando, com jeito leve, na saliência da pedregosa calçada. Enquanto todos nós muito calados, uns de livros folheados, outros de olhares a librar no dentro e fora disfarçado, e mais alguns de ouvidos tapados com diabos melodiosos, fizemos o sepulcro sonoro que convém nestes minutos mortos que sucedem o espanto e a vergonha. Pude reparar, no entanto, que lá fora a moça dançava e dançava. Posso jurar que lhe vi a língua, bem vermelha, deitada ao homem, que a não viu.
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