Escreveram-lhe que "a pureza é um mito"; e a frase, a ser aplicada à cultura brasileira, deixa o Brasil (substantivo masculino, mas assumidamente feminino: uma miúda-mulher), mergulhada numa depressão que nem samba salva. Mito? Pureza?
No final dos anos 60, um pouco antes do "Peace and Love" norte-americano, a "antropofagia" criativa de vários artistas brasileiros (Lina Bo Bardi, Tom Zé, Caetano e Gil, Lygia Clark, and so on) devorou uma certa ideia de Brasil-cultura (eles comeram tudo e não deixaram nada), sujando de rua, improvisação e , por isso, Tropicalismo, a imposta disciplina e ilusória homogeneidade por onde ela andava a ser educada. Más companhias, portanto.
O artista plástico (entre outras coisas) Hélio Oticica (1937-1980) tirou-lhe o uniforme, tratou-lhe da saúde, ofereceu-lhe psicanálise e levou-a para a rua (ai, esses parangolés), como quem diz: vês como és muito mais feliz ao te aceitares miscigenada (não estamos certos de que ela tenha entendido à primeira, mas a experiência curou-a um pouco do estrabismo mental). No fim da terapia tropicalista-oticiana, em ruptura com um passado, ela deixou-se de manias e aceitou-se multipolar. Era metade caminho para a cura... (Ai essa revolução pagã!)
A "coisa" e ele são tão importantes, hoje, na cultura brasileira, que o Itaú Cultural, além de uma exposição que lhe dedica até final de Maio , "Mundo é museu", a primeira depois do incêndio do ano passado que sugou parte do espólio do artista, lançou uma revista para crianças: Cosmogolé (é um "jornal de brincadeira, mas no fundo é de verdade").
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