A primeira coisa que o meu irmão disparou, esta tarde, quando lhe disse que a Amy Winehouse tinha sido encontrado morta no apartamento, em Londres, foi:
-Há muita gente que vai ganhar dinheiro com isso!
De imediato pensei, claro, na fortuna deixada; nas discórdias para dividir o património que a senhora da voz jazzística, soul, densa e grave, avassaladora, sexy e aveludada, inevitavelmente terá deixado, como todos os grandes artistas deixam como assinatura post mortem.
- Só as apostas na net sobre o ano em que ela morreria.!!!
Achei que o meu irmão estava a ser irónico. Mas lembrei-me de algo parecido, realmente, há dois anos, num site norte-americano, que daria um ipod a quem acertasse na morte de Winehouse. Há gente tão estúpida, estapafúrdia, destrambelhada!
Essas apostas apareceram quando a cantora entrou numa vertiginosa queda livre de anorexia, drogas e álcool. Um inferno diário do qual nunca se conseguiu livrar. A clivagem foi um abismo. A minha amiga G., que morava na mesma rua que ela, nessa Londres de subúrbios, dizia que a casa dela era um vaivém, um corrupio de gente e escândalos. Um entra e sai. Dela dentro de casa o dia inteiro, quando não estava em concerto, ou em tournée ou nos poucos ensaios que ela já fazia.
Ocorre-me tudo isto e pensar numa coisa tão estúpida e simples quanto isto: essa miúda precisava de ajuda. Ajuda séria: e não uma simples desintoxicação. Precisou de ajuda quando ia bêbada para o palco. Precisou de ajuda na primeira overdose. Precisou sempre de ajuda até ficar intratável, em todos os sentidos. Precisou de ajuda antes de se perder e não ter mais regresso.
Uma mulher que aos 20 anos tem o mundo a seus pés, precisa de ajuda. Ou de amigos. Uma mulher que vai tendo o mundo a seus pés e tem razões para se sentir mal consigo e com o mundo, que se droga e bebe, precisa de uma coisa simples: ajuda. Ajuda séria.
Mas eu sei: às vezes os mais próximos são os que menos percebem. Se nos fecharmos, nunca saberão; e nós, muitos de nós, nem damos os sinais de que algo vai mal, nem mesmo quando não nos perguntam. Um certo transtorno de Personalidade Depressiva; e é uma coisa brutalmente pesada de se conviver com.
É por isso que continuo a acreditar nisto: na felicidade repartida pelos nossos dias para segurar os dias menos bons! É por isso que acredito que quando alguém nos dá um pedaço da atenção delas, com carinho (e há pessoas tão luminosas) já temos um pouco do mundo ao nossos pés.
Mas eu sei: às vezes os mais próximos são os que menos percebem. Se nos fecharmos, nunca saberão; e nós, muitos de nós, nem damos os sinais de que algo vai mal, nem mesmo quando não nos perguntam. Um certo transtorno de Personalidade Depressiva; e é uma coisa brutalmente pesada de se conviver com.
É por isso que continuo a acreditar nisto: na felicidade repartida pelos nossos dias para segurar os dias menos bons! É por isso que acredito que quando alguém nos dá um pedaço da atenção delas, com carinho (e há pessoas tão luminosas) já temos um pouco do mundo ao nossos pés.
Amy Winehouse entrou agora para o tal Clube dos 27 - já lê em soundbite na imprensa, como referência a nomes artísticos que fizeram história e morreram aos 27. Nomes como Brian Jones, Jimi Hendrix, Janis Joplin... Agora é um pouco tarde, mas no fundo, ela só precisava de ajuda. Esta ausência mexe. Era uma grande voz! Uma grande voz!
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