Caranguejeira, a.k.a Tarântula, Ilha de Cotijuba, Amazónia - Vanessa Rodrigues |
Tenho uma relação estranha com os sonhos. Nós não nos falamos, propriamente. Sabemos da presença um do outro e nenhum dá o primeiro passo. Eles nunca me perguntaram: - E aí, van, o que você quer sonhar hoje? Pois é: e eu também nunca pedi nada. Fico quietinha. Deito-me a pensar que vou descansar, só isso. Apago a luz e é quase automático: zzzzzzz.... uma sorte.
Acontece que eu presencio algumas metamorfoses na minha cabeça. Neles, os sonhos de facto - não aqueles que de olhos acordados vamos planeando para que eles aconteçam. Mas aqui, na cuca cerebral, eles acontecem, mais ou menos a cada ciclo de dois em dois dias, quando me lembro deles, e são uma espécie de filmes gratuitos, sem pipoca, desconto de estudante (que já não tenho idade para isso, mas devia), papel de rebuçado ou chocolate em crunch-crunch ressoante, enfim, os adereços necessários para sabermos que vai fazer-se cinema comercial. Talvez seja por isso: é outra coisa!
Já aqui dei conta de alguns sonhos kafkianos. E o escritor checo não se livra da metáfora categorizadora para tudo o que é estranho, relacionado com as recônditos caminhos da mente, labiríntico, absurdo e de certa forma implica transformações físicas: sai deste corpo que não te pertence.
Foi o que quis gritar, anteontem, quando estava dentro deste sonho: uma rua cinzenta que sobe, as minhas pernas e, de repente, (isto não é para pessoas sensíveis, por isso, ainda vai a tempo de aqui parar) um rato entranha-se na minha perna. Entra pele adentro.
Que coisa nojenta, penso agora que escrevo; como vou tirá-lo da perna?: pragmatismo dentro do sonho. E pragmatismo dentro do sonho aconteceu: enrolei a pele onde ele se encontrava e a coisa transformou-se em aranha; quando saiu, morta, era um pássaro amarelo.
Três seres dentro e fora da minha pele. Acordo e tudo isto é um absurdo. Que coisa anda a mente e magicar. Talvez sejam efeitos colaterais do processo de hibernação desde a semana passada. Quando a vontade vem, convém agarrá-la a jeito.
Tinha-me esquecido desse sonho, até que alguém me fez chegar um vídeo, que acredito ser spam, de uma miúda (eu não vi), com uma aranha como inquilina no corpo: via-se uma teia farfalhuda à volta do seio.
Fui por isso, tentar perceber o que significava aquele meu sonho: e, a acreditar nesses muitos dicionários de sonhos da internet da vida uma coincidência, não é, como previa, coisa boa. Todos os bichos estão relacionados com negócios e dinheiro. O rato significa perdas financeiras, a aranha dinheiro, mas morta est, logo nada prenúncio de coisa boa; e o pássaro amarelo, que saiu no final, e que eu aniquilei, é auspício de azar nos negócios, perdas financeiras. A fazer-me valer pelo pragmatismo da vida vou considerar que tal como o e-mail, esse sonho foi um spam do sistema cerebral, na verdade nunca chegou a realmente a acontecer. Querem apostar?
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