segunda-feira, outubro 13, 2008
Esquinas
A esta hora há esquinas que murmuram impropérios contra aqueles que nunca por lá passaram. Se é inveja ou rancor não se sabe. Apenas que o ar é seco, pesado: rasga o corpo e o espírito silenciosamente. Rouba aos homens doses de oxigênio irreparáveis. Mas esquinas sem ar são sempre um mal menor numa cidade de rotundas, profundamente sem fôlego crítico. Ah, é: já passou? Sim: esquinas são bifurcações de ruptura com o que está atrás. Acreditam que quem por lá não passa, não conhece o mundo. Quem nunca passará é como se nunca vivesse. E o mundo, alegam, passa por ali, escrupulosamente. Por entre poças mal-cheirosas, entulho órfão, forçado à orgia aromática “qual-o-mais-fedorento”; plásticos, papel azedo, de aroma ácido, enrugado, molhado, salpicado de mijo. Quantas vezes o mundo não deixou de o ser – porque os homens nunca lá passaram. E os que passam têm de voltar atrás porque as esquinas nunca são iguais à primeira vez.
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