segunda-feira, outubro 20, 2008
Benzida
Benze-se de costas para a igreja e de frente para a porta de saída do autocarro. Encolhe as mãos como minguassem num mirrar precoce antes que as articulações peçam a reforma. Ainda ali está, embora desejasse que aqueles instantes lhe sugassem o refúgio de uma involução momentânea para ganhar menos páginas folheadas que a vida lhe fez com as mãos lambidas de cuspe. Mão no varão amarelo entorpecente. E com aquele cabelo encaracolado que diz tudo por ela de esguelha. Disfarça o gesto numa vergonha incontida que lhe apressa os movimentos, como se fosse mais grave não o fazer à cobrança de indulgências divinas pelo cumprimento desse pecado. O mesmo das mulheres de barriga à mostra, que despudoradamente pintaram o cabelo de loiro, as unhas, o rosto, os lábios, os cílios, numa rigidez fingida que as torna gémeas da vida e do pecado que nunca existiu.
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