quinta-feira, outubro 30, 2008

Como o blog já se tornou ecléctico, mais um pouco de mundo com sotaque francês não faz mal a niguém. Fica aqui um pouco de Emilie Simon.

Prémio Portugal Telecom - Antonio, Filho Eterno, Eu hei-de amar uma pedra

Fotografia: Site pessoal Cristovão Tezza

António (Beatriz Bracher); Filho Eterno (Cristovão Tezza); e Eu hei-de amar uma pedra (António Lobo Antunes) são os grandes vencedores do Prémio de Literatura Portugal Telecom...

Nunca pensei nisso, mas o Lobo Antunes pensou, aliás o António, não o da Beatriz Bracher, mas o nosso, que equaciona um dia amar uma pedra, enquanto ensaia ser um Filho Eterno, esse sim do Cristóvão Tezza, o vencedor da edição do Prémio de Literatura da Portugal Telecom, anunciado ontem, 29, na Casa Fasano, em São Paulo.

Critovão Tezza conquistou o júri do Prémio de Literatura Portugal Telecom 2008 com um romance sobre a relação pai-filho (com síndrome de Down), nos anos 80: "Filho Eterno", editado pela Record. O catarinense está em alta na cena da literatura brasileira, porque em jeito de "dejá vù" recebe hoje, pela mesma obra, o Prémio Jabuti (espécie de óscar da literatura brasileira) depois de ter sido agraciado em 2007 pela Associação Paulista de Críticos de Arte de SP em 2007 na categoria literatura.

O segundo prémio foi para Beatriz Bracher (António) e António Lobo Antunes (Eu hei-de amar uma pedra).

Para saber mais saltar para aqui

terça-feira, outubro 28, 2008

Vazio autista. Uma bienal vestida de farsa!

Uma Bienal de Arte que se quer costurada pelo vazio (mais uma das invenções pós-modernas= ausência), para pedir ao público e artistas que descosam os debruados do tecido urbano para que se pense, afinal, que agulhas andaram por ali a coser uma certa ideia de arte, não se pode dar ao luxo de censurar uma outra “arte” urbana (periférica?), nascida desde logo pelos pincéis da crítica social. É anti-tudo e, sobretudo, é a prova manifesta que a Bienal de Arte de São Paulo é uma farsa. No andar “vazio” que a curadoria da mostra deixou “propositadamente” para “fazer pensar” acordou esta manhã “pichado” por um grupo de 40 pessoas, agora chamadas de “vândalas” e talvez até condenadas a três anos de prisão. É. Em vez do feito ser (re)aproveitado e “pensado” como resposta (periférica?) ao vazio da Bienal (“nestas-paredes-eu-me-vinguei”) a organização entrou em histeria e apagou tudo com tinta higienicamente branca (como a arte de elite - e como destesto esta palavra) com os nervos à flor da pele! É o vazio que não é nosso e é uma questão de ponto de vista. O vazio não foi feito para fazer pensar sob a óptica dos outros. Aliás, o vazio é isso, não existe. Temos horror ao vazio dos outros. Sufocamos, irritamo-nos e precisamos voltar ao nosso vazio, higienicamente programado. É, os pichadores têm razão: “Abaixo a ditadura” [e todas as farsas intelectualmente fabricadas]. Este ano não vou à Bienal. Ficou clara a posição desta farsa! Prefiro a minha visão periférica a alinhar com uma certa ideia de arte, que repito, é “higienicamente fabricada” e condenada ao suicídio!

domingo, outubro 26, 2008

Ai...o samba!

O Verão chegou a Sampa...e começa saber a este ritmo!

sexta-feira, outubro 24, 2008

Geração Raz.ca #1

Iam para a cama com o "Vitinho", cresceram a ver MacGyver, um tal de "Duarte e Companhia" e são do tempo em que K7 era sinónimo de música. Um certo jornalista e uma certa ministra da Educação traçaram-lhes o destino: "Geração Rasca". Nunca mais foram os mesmos. Atravessaram oceanos, sairam de mochila às costas para galgar uma certa ideia de cidadania. Estão aí, espalhados, a viver sonhos e a fazer do mundo um laboratório. A "Crónica Luna Samba" anda à procura desses portugueses e, quinzenalmente, vai publicar aqui neste blog o que a geração rasca anda a fazer. São os novos emigrantes de um certo Portugal. Cuidado: Estas linhas podem ser impróprias para consumo! Censuramos o lápis azul!

[-Memórias de elefantes, livros e um ex-camionista que nunca chegou a sê-lo, perdido em Moçambique -]



Quer parir uma vida sem destino. Mas o azimute anda a apontar para Oriente. Em miúdo queria ser camionista, mas os testes vocacionais davam-lhe a sachola como certa. O "heavy metal" ajuda-o a amenizar o stress. E, agora, anda no meio dos elefantes a vender livros. O maior acaso da sua vida: não rodar a estrada ao volante de um pesado.

[Zoom in] Nuno Vieira, 28 anos, tripeiro, sonhador, criativo
[Fermento Royal] Administração e Gestão de Empresas - Univ. Católica
[Fuso horário] Maputo, Moçambique. Director- adjunto da Plural Editores, grupo Porto Editora
[Mapa Mundo] Um pouco mais mexicano, um pouco mais belga Lá aprendi a importância da interculturalidade e o poder do lobbying. Nesta nova experiência já aprendi que ainda tenho muito a aprender....
[Kit S.O.S] Larguei um emprego por um estágio internacional sem destino
[Kit de Costura] Saí de Portugal em busca de oportunidades de carreira e de intercâmbio cultural
[Q.I.] Agora estou a 200% neste projecto. Daqui a uns anos, quem sabe, um MBA
[S.a.u.d.a.d.e.s] De ter uma "casa", da família, dos amigos e da "comida da mãezinha".
[Oxigenar os neurônios] 30 minutos de bicicleta às 6h30, e depois quando o stress aperta, o heavy metal ajuda a controlar as emoções
[T.P.C.] Apostar definitivamente na Educação, na Tecnologia e nos jovens.
[Prescrição Médica] Que somos tão ou mais capazes que os outros.
[Ger.ação Raz/ca...] é ter que viver com mil euros toda a vida

Terra em transe, terra de grilos

Texto e Fotos por Vanessa Rodrigues, no Mato Grosso do Sul


Ela não sabe onde pôr as mãos. Inclina a cabeça como se verga para o homem, que não é o dela, mas gostaria. Pára a cada sulco na terra. Inchada, suada. Sobrolho franzido. Vermelha como a ardência que se cola às mãos que não sabe o que lhes fazer. Unhas encardidas do solo azedo. Fértil. Respira ofegante, mas esconde em soluços. Encolhe-se e a pele minga, as rugas secam. Não sabe o que são previdência, salário, direitos, Constituição, estado, saúde. E longe está de precisar de um acordo ortográfico. As únicas ortografias que conhece são as da terra. Não reclama dos erros das estações. Da chuva que alaga as plantações. Do sol que queima a pele e o ventre do campo. Só vive dele, com sapatos gastos que calça de sol a sol, a única luz que conhecia até há um ano.

Glicínia Trindade. São as únicas palavras que murmura com a boca enrolada, como se o som saísse abafado por uma almofada. Sorri com os olhos. Basta-lhe. O resto são grunhidos que substituem as anuências ou as negações monossilábicas das perguntas. Não lhe façam muitas. Não está habituada a falar, mas recebe-nos com tudo para dar, menos a terra.


Justino lava os pepinos. Verdes, divorciados da terra. Arrancados com as mãos, onde a sachola não chega. Não há máquinas, tractores. Os adubos são bosta de vaca. O chão está alagado das últimas enxurradas. E a luz veio, pela primeira vez, o ano passado, no pacote do progama governamental brasileiro “Luz para Todos”, prometendo chegar a esses redutos longínquos e rurais. Ela veio como um vício para prolongar o dia, que se fazia de sol, velas e lanternas. Agora há fogão, lâmpadas, televisão. É lá que passam Os Simpsons. Antes era a cachaça e os cigarros. Glicínia pede um, dois, três a T. Justino arranca-os da mão dela. Vai guardar, diz. Tudo guarda, até ela. Se votasse seria num "homem-justo", quase como seu nome!


Chega o jipe desconfiado. Pára do lado de fora, em frente à cancela de madeira. Observam se avançam, se ficam, ou se se põem a monte. Justino dá o sinal “livre-de-perigo”. Justino sai. Há negociata. Umas terras quaisquer que têm de ser apropriadas. Os documentos estão preparados. A grilagem está garantida. Os papéis vão ser forjados. Tempos depois os grilos tratam do resto no fundo de uma gaveta e é como se a herança sempre levasse o nome de alguém naquelas propriedades. Muito, muito dinheiro, promete o homem-jipe a Justino. Assoberbado de euforia, ansioso por se pôr a fazer contas, num jeito nervosinho que denuncia que a negociata tem algo mais. Bonacheirão, pele suja, seboso, barriga mole gelatina e uma cuspidela para o chão promíscuo com a lama e os restos fecais bovinos. O homem hesitante “entro-fico” ri-se em tom de “não-te-esqueças-de-pagar-o-que-deves-senão-algo-pode-acontecer”. Justino acanha-se. Verga-se como Glicínia para ele. Apertam a mão. Fecha a cancela. Conta que é terra de ninguém. Que por isso faz um favor ao governo, o mesmo que Glicínia não conhece, não sabe, não tem ideia do que seja. Ela voltou para a ardência das mãos. Ele corta as couves. Engole a cachaça. E daqui a pouco é noite. Os Simpsons vão começar!

Coincidências e o mundo é assim mesmo pequenino!

Em Sampa conheci a T. que é irmã de C., minha colega da adolescência e é amiga de D. meu amigo, que não vejo há anos, mas está no Rio. Por sua vez T. que eu não conhecia até há 5 dias, pelos vistos conhece J., também meu amigo; conhece C., minha amiga; conhece P., meu amigo; conhece A. que simplesmente conheço; e mais uma infinidade de personagens que eu conheço e ela conhece, embora nunca nos tivéssemos cruzado até então. Ok. T. é do Porto, mas caramba: assim, bem vistas as coisas, Sampa virou a cidade tripeira numa questão de segundos e, portanto, uma aldeiazinha, com apenas 18 milhões de habitantes. Pergunto-me então quantas T´s da vida não estarão espalhadas por aqui que eu ainda não conheci, mas que conhecem X, Y, Z….É, somos assim pequenininhos!

Dificuldades em...

passar o dia sem tagarelar uma musiquinha (sem comentários à falta de dotes vocais);
passar a manhã sem a dose de cafeína da super cafeteira made in Portugal;
andar de chinelos - pé nu é sempre melhor que pé encafuado;
passar a semana sem ir ao cinema (está crónico o problema);
chegar a casa e ter eco (ahhh, onde já ouvi isto!);
ler as notícias na tela de um computador;
beber vinho num copo de plástico;
sair de casa sem ler o jornal;
começar o dia sem caminhada;
levar guarda-chuva;
ir dormir sem ler;
viver sem árvores;
andar de relógio;
viver sem verde;
deitar-me cedo;
sem sol;
sem mar;
Houston we have a problem!

quarta-feira, outubro 22, 2008

Genial!


Street Art nos EUA inspira-se em Sarah Palin, a candidata republicana às presidenciais, a reboque do marido John MCcain. Estes posters são geniais. E a senhora, realmente, parece um personagem saído de um desenho animado (quadrinhos vá, para não desiludir os meus irmãos brasileiros que sempre me chateiam com estas diferenças de linguarejar...)

segunda-feira, outubro 20, 2008

Benzida

Benze-se de costas para a igreja e de frente para a porta de saída do autocarro. Encolhe as mãos como minguassem num mirrar precoce antes que as articulações peçam a reforma. Ainda ali está, embora desejasse que aqueles instantes lhe sugassem o refúgio de uma involução momentânea para ganhar menos páginas folheadas que a vida lhe fez com as mãos lambidas de cuspe. Mão no varão amarelo entorpecente. E com aquele cabelo encaracolado que diz tudo por ela de esguelha. Disfarça o gesto numa vergonha incontida que lhe apressa os movimentos, como se fosse mais grave não o fazer à cobrança de indulgências divinas pelo cumprimento desse pecado. O mesmo das mulheres de barriga à mostra, que despudoradamente pintaram o cabelo de loiro, as unhas, o rosto, os lábios, os cílios, numa rigidez fingida que as torna gémeas da vida e do pecado que nunca existiu.

conversa de farmácia

- E não quer levar mais nada? Estamos com promoção de kits para criança, homem... (Silêncio absurso)... Ah, mas pode levar alguma coisa para você também!

domingo, outubro 19, 2008


um pedaço de vida é a chuva a cair lá fora, as gotas a roçar a cara, ou os pés molhados de uma longa caminhada. é, como esta vida que adoro!

sexta-feira, outubro 17, 2008

Mostra Internacional de Cinema agita salas em São Paulo


32ª edição do panorama de cinema internacional que começa nessa sexta, 17, traz novo filme de diretor brasileiro José Padilha e homenageia o diretor sueco Ingmar Bergman. São mais de 400 filmes para a grande tela, por isso se prepare: a insônia vai até dia 30 de outubro


Talvez seja a primeira vez que o revolucionário Che Guevara e o ator Marlon Brando se encontram. Dizem até que se vão entender muito bem e que falam a mesma linguagem: a do cinema. A introdução deste texto não tem mistério: é que a partir de sexta, 17, a 32ª edição da Mostra Internacional de Cinema, que toma conta da cidade paulista, promete balançar o cenário do cinema nacional, trazendo a vanguarda do cinema para as salas da sétima arte.

Ao todo, 454 filmes de 75 países vão rechear a grande tela, trazendo a São Paulo obras para todos os gostos de cineastas consagrados, tanto na seção Perspectiva Internacional, como em retrospectivas e apresentações especiais.

Uma versão restaurada de “O Poderoso Chefão”, estrelado pelo ator italiano Marlon Brando e a longa de Steven Soderbergh, “Che”, com representação de Benício Del Toro são algumas das novidades e, para condimentar o cardápio cinematográfico, a programação inclui ainda debates, palestras, exposições, shows e uma grande lista de convidados internacionais em São Paulo.

Este ano a mostra preparou surpresas reforçadas, dando carta branca ao diretor alemão Wim Wenders que preparou uma seleção de filmes. Mas o grande destaque vai mesmo para Ingmar Bergman, o diretor sueco homenageado nesta edição.

O Brasil entra na programação com 55 filmes de produção nacional e mais oito de co-produção com outros países. Na lista estão filmes como “A Festa da Menina Morta” com realização do ator Matheus Nachtergaele; e o documentário sobre a fome: “Garapa” de José Padilha, realizador de “Ônibus 174” e do polêmico “Tropa de Elite”.

Portugal entra também na lista com a vanguarda cinematográfica do país, mostrando sangue novo no cenário com filmes como o “O Julgamento” de Lionel Vieira sobre a ditadura salazarista; e “Ruas da Amargura” de Rui Simões que mergulha no universo das carências afetivas e financeiras de quem mora nas ruas.

P.S. Português do Brasil, naturalmente!

Sinal de alerta

Terapia dos factos- desconfio que com sinal vermelho no mundo da autora deste blog.

-durmo pouco;
-há mais de dois meses que não escrevo aos amigos (estou perdoada?);
-os telefonemas para casa já estão no limiar de 10 em 10 dias;
-há mais de duas semanas que não "bato-papo" com meu irmão;
-não fotografo;
-escrevo pouco;
-mal saio de casa à noite;
-exercício: hã? O que é isso?
-não "skypo";
-só como alimentos SOS (entenda-se sandes; sandwiches;pão-com-qualquer-coisa; qualquer-coisa-com-pão;
-não "viajo na maionese", como dizem os irmãos brasileiros (=devaneios);
-não saio de São Paulo há demasiado tempo que já nem me lembro da última vez;
-fim-de-semana: hã?;
-não tenho tempo para jornais; os jornais não têm tempo para mim;
-cor de pele: branco mais branco não há;
-o espelho reclama a triplicar: "Ih para seres branca de neve não te basta a cor,vais ter de galgar muito miúda; entraste nalgum concurso de bruxas pós-modernas?" (Black out: não respondo a provocações)

P.S. Promete entrar em (auto)reabilitação no próximo mês, assim que encontrar casa nova. Porque já nem eu me aguento!

quarta-feira, outubro 15, 2008

Pedem demasiado

Que seja uma caixa sem fundo, e um baú de memórias! Que seja uma música, um balde de água fria, um vento quente em dias de desarmonia. Que seja um delicioso brownie, uma orquídea depois da rosa, com e sem espinhos, e às vezes até erva daninha. Talvez demasiado. Pedem-me uma nota de jazz para que desafine, uma crónica de costumes para logo engrenar num conto, depois outro. Pedem-me que seja uma história e o desalento. O alento e a sofreguidão. Pedem que seja uma letra, e sempre prefiro o alfabeto. Que seja uma almofada de penas ou um delicioso café acabado de fazer. Pedem-me demasiado! Que seja a inveja e a despreze. Que seja uma tecla; uma borracha implacável; uma ponta fina por onde escorre a tinta permanente, que goteja em vão, sem nunca fixar. Que seja só e cheia de gente. Um robô inativo obediente. Um rebelde em silêncio. Um copo vazio. Transbordante! O fio de navalha. O fio. A navalha! Moedas miúdas. Cheques impagáveis. Um corpo nu enrolado na areia. Um diamante, quando prefiro os seixos. Que seja um fósforo, um lume ardente queimado a cubos de gelo. Talvez me peçam demasiado para uma vida só!

segunda-feira, outubro 13, 2008

Esquinas

A esta hora há esquinas que murmuram impropérios contra aqueles que nunca por lá passaram. Se é inveja ou rancor não se sabe. Apenas que o ar é seco, pesado: rasga o corpo e o espírito silenciosamente. Rouba aos homens doses de oxigênio irreparáveis. Mas esquinas sem ar são sempre um mal menor numa cidade de rotundas, profundamente sem fôlego crítico. Ah, é: já passou? Sim: esquinas são bifurcações de ruptura com o que está atrás. Acreditam que quem por lá não passa, não conhece o mundo. Quem nunca passará é como se nunca vivesse. E o mundo, alegam, passa por ali, escrupulosamente. Por entre poças mal-cheirosas, entulho órfão, forçado à orgia aromática “qual-o-mais-fedorento”; plásticos, papel azedo, de aroma ácido, enrugado, molhado, salpicado de mijo. Quantas vezes o mundo não deixou de o ser – porque os homens nunca lá passaram. E os que passam têm de voltar atrás porque as esquinas nunca são iguais à primeira vez.

sábado, outubro 11, 2008

Inutilidades

Sim, o Brasil também mostra sinais de cedência à crise:

-Nas últimas semanas, na minha saga de procura de apartamento abundam as placas de "Vende-se", em vez das que procuro: "Aluga-se";

-As revistas de "garotas peladas" estão mesmo ao lado da Newsweek, Time, Veja, Época, Isto é, Você SA, Exame... recheadas de letras com "silicone": "Saiba tudo sobre a crise" (Ou quem sabe "Em tempos de crise relaxe e goze";

-Os chiques invadiram os botecos à hora de almoço com seu Visa Vale Refeição;

-A cerveja invadiu o horário de almoço nas zonas "nobres";

-As lojas estão em liquidação há dois meses;

-Esta semana fui a uma festa VIP da Revista Gula e roubaram-me o guarda-chuva;
Mais da Revista Gula:
a)"faltou comida para saciar a fome da fogueira das vaidades;
b)"a nossa boleia deixou-nos a meio do caminho e antes passou no "MacDonald's";

-Os líderes políticos só têm poupado nos discursos com palavras higiénicas, parecidas com a literatura de casa-de-banho: "Precisamos de uma resposta séria e coordenada do G7 para resolver o problema"; "Precisamos agir rápido"; "Temos de nos organizar para dar uma resposta coordenada à crise"; Ainda ninguém percebeu que eles não têm a mínima ideia sobre o que fazer? Por que é que a imprensa continua a citar estas frases cacofónicas?-Uma vez regalia, sempre regalia: não se pode "poupar" na política;

-Enquanto isso temos o samba e a terapia (ah, não vos disse: 65% da população de São Paulo faz terapia há anos - diga-se de passagem que não adianta de nada, são todos uns neuróticos; excessivamente superficiais, "higiénicos" e paranóicos);

Minha teoria sobre a crise: corrupção, corrupção,corrupção! Ah! e quem os controla: corupção-corrupção;

Apontamento: Pelo menos a crise meteorológica parou por aqui. Vou sair e aproveitar o lindo dia de sol lá fora, depois de duas semanas de chuva e frio!Crise? Sorry I didn't quite follow!

quinta-feira, outubro 09, 2008

Blind(sad)ness


Tarefa difícil esta. Confesso que estava com medo!Cobardia, talvez! Cheguei mesmo a evitar chegar a este ponto. Recusei vários convites. Adiei. Adiei! Até porque o peso da responsabilidade tornara-se já um fardo. Até que ganhei coragem… Li o livro há demasiado tempo, que pensava até que nem me lembrava de cada página. De cada palavra que me esventrara o romantismo. Assim: "pah"- choque. Até que pensei: vá este homem é genial! Mas, enfim! Algum dia teria de ser. Li o livro! Entrevistei o realizador… Quase que fiz parte do processo de viver a agonia da montagem! Tantas voltas à cabeça que aquele outro homem deu para agradar o autor do livro. Ele até chorou! O que significava aquilo? Não queria desiludir. Lidamos mal com a desilusão. A crítica poderia (é ?) ser visceral. Mortificadora! Mas, sim! Tive de tomar coragem e ir ver “Blindness” de Fernando Meirelles, que estreou há demasiado tempo no Brasil para me lamentar que, afinal, sou das únicas que ainda não foi ver! Ontem lá empurrei a minha carcaça. Comprei bilhete e "pow"! Lá estava eu e mais um casal a assistir ao filme! A sala ecoava de vazio. Sinal vermelho. Verde. E, depois, assim de repente fiquei cega… Não pensei que me atirasse assim para o abismo do livro novamente, fazendo recordar cada pedaço que tinha ficado na minha cegueira. Ou lucidez, seja lá o que isso significa. Depois pensei: este homem é genial. Quero lá saber de quem não gosta. A verdade não é para todos. Não estamos preparados! Muito menos as metáforas. Que homem se lembraria do verniz como sinal de luxúria e degredo humano? Ou de homicídio como recuperação da dignidade? Ou de violação como sinónimo de regeneração? Ou de cegueira como diálogo político? Ou de incapacidade de ver como uma possibilidade para reaprender a ver? Pensei de novo: é, sim. O "meu" Saramago é genial. Ele não me conhece, mas é como se já estivesse demasiado aqui. Demasiado mundo. Demasido vida. Ou demasiado inconveniente para que o aceitemos.
Mergulhei em queda livre. Ninguém estava lá para me segurar. Mas a cegueira agarrou-me até ao fim! E este mundo - que é meu - estava lá. FIM! Saí para o mundo. Percebi que o filme não tinha acabado. Tinha apenas começado, numa espécie de dejá vu revisitado!

sábado, outubro 04, 2008

OTTO, Bob



Foi amor à primeira vista. Vi este senhor há três meses no Studio SP, em São Paulo. Desde então ando enrolada com ele. Acompanha-me para todo o lado: cama, cozinha, rua, banho... Com a música entenda-se. Porque sugar a música é algo como sorver um pouco desta maluqueira bem feita!Há que ler nas entrelinhas, sempre!Porque o resto toda gente vê!

Acrónimos ininteligíveis

Mar, suar
tocar o pano, depois dele cair
ir...deixar...ar
rarear, suada vida
ida...
Malemolência de mentira
ira...
esgalhar o ventre em silêncio
irredento,
acasos esventrados
suados,
gato livre,
em queda até bastar.
7 vidas, suadas, esventradas sem um mio...

sexta-feira, outubro 03, 2008

Somos comedidamente ingénuos para o mundo que aí vem... Se vier que se deixe espraiar numa bela esplanada inútil, como todas as esplanadas da vida: a ver a vida passar, por perdidas revoltas que vão carcomendo cá dentro, lentamente, até à hora morta do décimo terceiro tempo. O que não vemos e está sempre diante de nós. Aquele mesmo do lapso dos outros. Porque quando os deixamos entranhar-se na nossa memória, já deixamos de ser.