segunda-feira, outubro 23, 2006

Dona Zulmira, lá em baixo!


Vergada sobre o corpo [ainda existente no fôlego da neblina], sentava-se constrangida de mau- estar na beira de um passeio. [E rezingava em silêncio aos deuses dos seus pensamentos; enrolados com a chuva que cai, como quem distende os lamentos fendidos]. Não vê novela. Não sabe, sequer, o que significa isso. [Ou aquilo de tecer palavras enjeitadas com nada]. Mas até poderia ser que a sua vida desse uma – descaída de gestos rareados. Não lê. Desconhece mundos literários. [Se eles existissem seriam pérfidos silêncios de faróis alucinados, quem sabe!].
Viajar: apenas de rua em rua. Jardim em jardim. Ou na senda daqueles pensamentos já falados...[E vê mais que muitos que julgam ter tempo para sorver]. Ou nada. E consome-se na hipocrisia de todos. Na minha. Na de qualquer um. Sem noção. Entendimento daquela vida – desajeitada de remorsos paridos. [Como a seiva salivada daquela mágoa estendida].

Os cabelos grisalhos escondiam-se insalubres sob o cobertor verde desfiado. [Retalhos sombrios; trôpegos da maleabilidade caída]. As mãos não se viam. [Até parece que se perdiam nas mangas desengonçadas; largas e escorreitas]. Soltavam-se atrofiadas. Derivantes no parco espaço. Estavam ocultas sob a dimensão do manto. Maior que o corpo franzino e periclitante. [“Será homem ou mulher?; Que idade vestirá, aquele corpo franzino, que já há muito deixou o mundo das poças calibradas de poeira?”].

Mas não importa. Deixou de interessar. O véu de lã envolvia aquele corpo esquelético; submerso em pensamentos que não se sabe quais. [Seriam eles?; fôlegos mentais que não chegam a sê-lo; apenas cólera] Ninguém pensa nisso. A não ser ele, que naquele dia, parou. Olhou de novo. Quedou-se na hesitação da humilhação dele próprio – em que se reviu; poderia sê-lo, ali, na berma daquele passeio, calcorreado; de pedras corridas e egoístas.

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