De Tocantins ao Pará. De Pernambuco à Amazónia. Do Mato Grosso ao Nordeste. De Belém a Paraty. De Santa Catarina a Goiás. Há um Brasil de matrizes. É calor, terra, culturas híbridas. Identidades negras, mestiças, tribais. Identidades dispersas que se acalentam. Vidas cosmopolitas nas grandes cidades (e que destoam). Há olhares dispersos. Muito diferentes. Próximos do isolamento, na sombra de histórias remotas.
Há dialectos indígenas. Regionalismos. Pronúncias que se confundem. Cabelos Negros. E há artesanato. Tapeçaria, colares multicolores, arcos e flechas, penas de pássaros exóticos. Miçangas, sementes de açaí, de saboneteira e casca de coco. E há gastronomia. Caju, castanha-do-pará, tapioca e leite condensado. Bolo de banana; e de fubá. Suco de acerola, melancia, abacaxi, mamão, maracujá.
Brasil é som. Muitos sons. Tambores do Buieié, soar de berimbau, violão, vozes de choro. Samba, forró, sertanejo e bossa nova. Mais: chorinho, batuques e cantos. Mas há muito mais que se ouve: cantadores do Maranhão, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul. Gritos estrindentes. Vento. Água. Cachoeiras. É terra dos índios Pankararu, de índios Kariri-Xocó, de Bumba-Meu-Boi. De cores. De capoeira, dança afro-quilombola, ritmo afro contemporâneo. E falta falar de energia. Da revolta do corpo. Da intensidade dos movimentos, dos gestos e das expressões. Os tambores soam. Os corpos reagem. As pernas vibram e os braços sacodem o ar. O corpo pintado ganha brilho. Os tambores variam. O físico é tribal. A emoção, humana. Solitária. Cultural.
E Brasil é, também, reaproveitamento. Economia solidária. Mulheres artesãs, que ganham sustento com a reciclagem de papel. Rasgam jornais. Enrolam as folhas. Envolvem-nas como vimes. Envernizam. Fazem malas. Cestos. Caixas.
Brasil é tudo isso e muito mais. E vi tanto e muito pouco, do todo impossível de conhecer. Vi pedaços tradicionais na mostra de cultura brasileira no Ibirapuera. Vi uma terra de mapas culturais. Sem trilhos. De raizes diferentes e caules dispersos. E sem dúvida que, por isso, a palavra cultura é demasido limitada para falar de Brasil. Presa e sem sentido para descrever as identidades que se cruzam, se mesclam e se libertam. E que, por vezes, se distanciam em contrastes marcantes. Mas que preenchem as características vividas de um povo Brasil.
Por Vanessa Rodrigues @
*Crónica publicada, exclusivamente, para a intranet das Energias do Brasil (São Paulo)
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