Os meninos na rua parecem pequenas formigas que invadem os semáforos com o sinal vermelho. Pedincham dinheiro em troca de acrobacias. Malabarismo. Danças colectivas. O pequeno de pé descalço e rosto farrusco sobe para o dorso do mais velho - pouca coisa. Diferença mínima. Equilibra-se às cavalitas. Bamboleia ainda, mas rápido recupera. Começa a rodar as bolas de ténis envelhecidas, desfiadas, coloridas de verde lima com cinza sujo. O pequeno, por cima, começa o ritual. As pequenas bolas descem às mãos do mais velho. Os dois rodam as três bolas pelas mãos de ambos. Um espectáculo que estamos habituados a vislumbrar, usualmente, apenas nas mãos de uma pessoa. Um palhaço. Um mimo. Um bobo. Um artista. Um malabarista.
Em troca do espectáculo – curto – pedem dinheiro. São 20 segundos de exibicionismo malabarista. Pequena inocência descalça. Consciente! O pequeno salta das cavalitas. Pisa o chão com o pé nu. Corre aos carros em frente, ao lado. Sonda os mais próximos. Alguém dá um real? Os dois dividem-se para angariar. Há trocos nas mãos que saem dos vidros (camuflados) semi-abertos. As mãos despejam moedas. Pequenas notas.
“Oh, garoto, garoto!” Grita ainda uma voz feminina, vinda de um táxi. O sinal abriu. Ficou verde. Os carros arrancam. Cheira a cidade. O garoto ainca corre por uma nota de um real (pouco mais de 40 cêntimos). De perto parece ainda mais pequeno. O rosto mais farruscado. Os pés adaptados ao piso alcatroado. As mãos assemelham-se a pequenos palitos sujos. O sorriso solto. Mas a expressão rude, cunhada. Queimada pelo sol. O tronco nu, esquelético e infantil. Mas o sinal está solto. Deixo-o para trás. Ele fica. O sinal fica de novo vermelho. Vivo. E no passado!
“Oh, garoto, garoto!” Grita ainda uma voz feminina, vinda de um táxi. O sinal abriu. Ficou verde. Os carros arrancam. Cheira a cidade. O garoto ainca corre por uma nota de um real (pouco mais de 40 cêntimos). De perto parece ainda mais pequeno. O rosto mais farruscado. Os pés adaptados ao piso alcatroado. As mãos assemelham-se a pequenos palitos sujos. O sorriso solto. Mas a expressão rude, cunhada. Queimada pelo sol. O tronco nu, esquelético e infantil. Mas o sinal está solto. Deixo-o para trás. Ele fica. O sinal fica de novo vermelho. Vivo. E no passado!
3 comentários:
Muito bom, Vanessa!
1 real são cerca de 40 cêntimos ou 0,40 euros. fica bem!
pois é vanessa..tal e qual como aqui...há mil e um pretextos para nos sentirmos 'obrigados' a desembolsar um real.. Ando com moedas sempre no carro já por causa disso. Sim porque há situações dessas em que real/ acho que eles merecem como é o caso de alguns malabaristas de semáforos. Às xs à chuva (e q chuva que cai aqui!..) e lá continuam eles com um sorriso a malabarar!
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