Porque há em mim um pedaço de ti; um velado e indomável desassossego, um estar e não estar desenraizado; de não ser do nada do que todos somos, de não ser do todo que preenchemos, do não ser a soma, mas a simples subtracção de uma certa inquietude;
porque há sempre em todos nós um narcisismo que sempre nos amarra, desata de ser,
porque há sempre uma hora morta onde nos detemos em chuvas oblíquas, dessas tuas iguais do descontentamento, escapando de nós;
da pátria que carregamos e não somos; da língua lógica;
da estreita mão que tinge em papel tristezas finas, porque aqui e agora quando visto à lupa atravessa-nos em picadas violentas, crónicas;
porque as reticências que imprimiste no branco, são receios evidentes dos ocultos pontos finais, antes das vírgulas, antes do traço pontiagudo preso no ponto de baixo: exclama!
Porque hoje farias 123 anos e ainda continuas cá; porque contigo aprendi a amar a prosa, através da poesia, nessa lenta e lenta a hora, lenta e sonolenta a lua se escoa...lenta, em seu ser!!!
© museu da língua portuguesa, divulgação |
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