Estava eu sossegada da vida, no meu desassossego, proseando por terras de croniquetas tropicais, pensando em Veríssimo, até mesmo evocando Gil Vicente e resgatando Pessoa, quando um simples e inocente clique, descomprometido, despersonalizado, mas deliberada e pertinentemente competente e intuitivo, me levou às últimas novidades da economia literária (se é que isso existe). Não quis acreditar, mas com a crise, seria de esperar que um dia, também o mestre da heteronímia se rendesse ao mercado capital (pena capital - ai se Cesariny desconfiasse!). A culpa é da tmese, lê-se, e eu já temia que isto acontecesse. A partir de então, as obras serão uma raridade (às estantes, hereges!!!), e quando pensarmos nas máquinas, as máquinas, pensaremos num Pessoa mais contido, abreviado, uma amálgama de coisas e eus e é desta que o homem tem um chilique...
"LISBOA – Em pronunciamento que pegou de surpresa o mercado editorial, o poeta e investidor Fernando Pessoa anunciou ontem a fusão dos seus heterônimos. Com o enxugamento, as marcas Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro passam a fazer parte da holding Fernando Pessoa S.A. “É uma reengenharia”, explicou o assessor e empresário Mario Sá Carneiro, acrescentando que “de uns tempos para cá ficou claro que era preciso fazer um streamlining na nossa operação se quiséssemos sobreviver num ambiente poético cada vez mais competitivo.” Pessoa confessou que a decisão foi tomada “de coração pesado”, mas o seu CFO não lhe deu alternativas. “Drummond sempre foi um só. A operação dele é enxutinha. Como competir?”, indagou. O poeta chegou a pensar em terceirizar os heterônimos através de um call-center em Goa, mas questões de gramática e semântica acabaram inviabilizando as negociações. “Eles não usam mesóclise”, explicou Pessoa."
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