Do homem que dorme no sofá do Guarany, refastelado, talvez na angústia de um lar desfeito, vazio, oco, de ecos que as paredes abafam;
do chá quente, enquanto não arrefece; do açúcar-torrão, ou de grãos escorregadios, refinados, para as chícaras moldadas por máquinas aceleradas; do relógio estragado, vivo, pulsante, pusilânime, avariado, por se recusar a ir, a contar e reduzir os mundos a soares gastos e mecânicos, sem saber o que é suor dos poros;
das cadeiras empoeiradas, de couros gastos, tábuas quentes dos ourtros que ali estiveram - serão os mesmos?; das mãos que ganham calos e texturas mais das coisas da vida que tocam, às vezes etéreas e impalpáveis;
dos olhares que ampliam, reduzem, pairam;
das saídas de emergência em nós – quantas saídas de emergência já o fizemos sem simulação e sem bombeiros para nos apagar fogos; das portas enferrujadas, (de)dobradiças esganiçadas; dos passos do chão gasto; do homem que ainda dorme no sofá, enquanto o resto se foi, veio depois, antes mesmo destas páginas serem tinta barata, (virtual)? palavras de sucessão de momentos em que se desenrolam as coisas, que estão velhas e tão novas;
das luzes intermitentes; dos sons que numa emitimos e devíamos, porque desconhecemos, tememos, receamos não saber, porque ignoramos;
que tempo há; que tempo tem?; que tempo é as coisas em nós e dos mundos?; que tudo é ele sem o ser; saber ser pétala arrancada de jardins; tudo é ele, sem ele e compassadamente temporário, numa perene amálgama de "tudos" circulares em misteriosos receios de estar aqui e não estar, em espectros vibrantes de sermos esta e outra Pessoa.
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