Há uma nova categoria de homens a surgir em Portugal. (Acho que a cada cinco anos, não sei se, por tendência geracional, se por influência do aquecimento global, há uma nova colheita do que serão os homens portugueses do futuro, e não auguro grande esperança para os interessados no género: estão cada vez mais rudes, para não desiludir a nossa "portugalidade"; têm comichões quando se pronuncia a palavra cavalheirismo, isso quando sabem sequer o que significa; são cada vez mais metrossexuais, e a querer parecer-se, em doses hiperbólicas, com estrelas de pop (ou até quem sabe com os cantores de um determinado programa de televisão).
Ainda não o são, mas um dia, vão fazer-se machos, viris, de pêlos no peito, por onde, agora, se sobrepõe o rosado de uma pele virgem para conquistas pélvicas, poro por poro. Um rosado que, na verdade, enrubesce com o frio glaciar (ou antárctico, ou nem uma coisa nem outra, porque não entendo nada disto) que se tem sentido na minha cidade emprestada (nasci em Matosinhos, por isso estou mais para peixeira do que para tripeira, embora por afinidade me considere a mais genuína portuense, do que muitos que por aí andam), e que anda a tomar conta dos peitos destes pseudo-homens lusitanos, imberbes, ainda. Eles chegam de todo o lado, não sei se é tendência no Norte - que é uma aldeia, praticamente, e se a categoria já se disseminou para o resto do país como a gripe e as constipações - andam na rua, estão nos bancos de jardins, à saídas das escolas; mas acho particularmente curiosa a passeata em grupos, em transportes públicos. O metro é o melhor lugar para vê-los. É onde perdem o glamour, com aquele sotaque cerrado, nasalado, do "Puorto", que acho ter o seu interesse, mas para estrela de pop, a coisa fica estranha. O importante mesmo é dizer que eles andam de peito aberto. Alguém mais desatento poderá pensar que me perdi por aqui e me quero, na realidade, referir à expressão solidária e abnegada de alguém que gosta de receber os outros de “peito aberto”. São truques que aprendi do outro lado do Atlântico, em terras de samba e gingado de palavras, que me elevam à categoria de uma perfeita farsante da linguagem (não acreditem numa palavra deste post, a não ser naquelas que dizem a verdade).
Estes “peitos abertos”, que muito tenho visto, observado, investigado, interpretado, mas com quem ainda não falei, são miúdos de 15 e 16 anos que, para dizer a verdade (porque até aqui tudo era mentira) são verdadeiros heróis, grandes meditadores do zen budismo, por vencer essa perdição do corpo rendido ao frio (Lembro-me, a propósito, de uma vez na Finlândia, com neve, neve, neve, menos 7 graus, um activista ir para as aulas apenas vestido com uns calções de ganga e sandálias, numa caminhada de meia hora. Aquilo é que era um peito aberto. Talvez a coisa tenha vindo daí).
Agora, enquanto eu, do alto da minha constipação (ou gripe B, como lhe chamo: de “boba”, porque todas as gripes são uma perda de tempo), encasacada, de cachecol até às orelhas, chapéu, sobretudo, botas e meias de lã quentinhas, tento, elegantemente, caminhar pelas ruas da minha cidade emprestada, estes miúdos, de camisolas em lã fininhas e decote em V, pavoneiam-se, mais elegantemente que qualquer outra pessoa na rua, sem t-shirt a servir de forro para o peito, sem casaco, nuns sibéricos (pirinéicos, andinos, patagónicos, sei lá) nove graus, de peito à mostra, rosado pelo frio, virgem, qual pop star no seu mais alto glamour, pronto para os paparazzi, mas sem um pingo no nariz, sem um tossir brônquico, ou outros indícios de uma gripe Boba. Assim de repente ocorre-me que nem sequer um casaco eles têm para oferecer a alguém interessado no género destes "um-dia-homens" e é só isso que verdadeiramente me preocupa. Isso e a gripe B, que ainda não curei.
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