Gosto de postais, de cartas, de papéis avulsos, de cadernos. Há qualquer coisa de mágico em escrever-se sobre aquele momento para alguém, naquele pedaço de papel. Por isso, ao longo destes quase 4 anos de Brasil acumulei resmas de papéis, cadernos, postais e papéis avulsos; entre outras colecções involuntárias. A mala veio mais pesada porque não sabia o que lhes fazer do outro lado do Atlântico. Esse exercício de, finalmente, decidir se deveria rasgá-los ou guardá-los não poderia ser feito de uma forma qualquer. Merecia um ritual, pausado, e com disposição. Hoje comecei essa empreitada, que, para dor de cabeça dos meus pais, já andava a arrastar-se há uns dias - mas a anestesia de ter a filha emigrante que regressa a casa tem um efeito de tolerância sobre a desarrumação do quarto e do hall dos quartos (CD´s, livros, mais CD´S, papéis avulsos, revistas, postais, cartas, e mais CD´s). No meio dessa confusão descobri um postal que escrevi para o meu irmão a 3 de Novembro de 2008 e que acabou por ficar perdido no meio de tudo e de nada. Nunca lhe cheguei a enviar e acabei de o pousar na almofada. Lembro-me bem ao que me referia e resgatar esse momento foi perceber o quão distante no tempo já está, como se anos, enfim, tivessem já passado. E São Paulo é isto no tempo: vive-se com a percepção de que um mês parecem outros tantos...
Aqui caminha-se com os olhos no chão com medo dos gigantes do céu. Há lojas 24 horas, hospital de sapatilhas, homens que dormem na rua- e a rua como casa, num chão que todos olham e ninguém vê. Aqui, stress é religião! As amizades são perecíveis e, por pouco, perde-se amigos - ou talvez nunca o tenham sido. Aqui o mundo é uma possibilidade e o Alfabeto um emaranhado de letras avulsas. Aqui sou um pouco mais mundo. Talvez nada, um chão sem rua, e uma rua que é casa.
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