foto.grafia de vnrodrigues
domingo, dezembro 31, 2006
sexta-feira, dezembro 29, 2006
quinta-feira, dezembro 14, 2006
terça-feira, dezembro 12, 2006
terça-feira, dezembro 05, 2006
Entre P e B....sem flash
Estou na primeira encosta das ruínas possíveis. Rumo ao silêncio. Sem a Manu isso nao seria possìvel. Hà sorrisos em La Paz. Uma serenidade milenar, que a superstiçao acolhe, assim, com o frenesim das vozes que ecoam naquelas ruas de mulheres de sombreros e saias largas, como as ancas.
quinta-feira, novembro 30, 2006
quarta-feira, novembro 29, 2006
quarta-feira, novembro 22, 2006
sexta-feira, novembro 17, 2006
“Não comerei!”
Desconheço as estatísticas que declinam nas doenças por distúrbio alimentar. Mas, presumo que não ficaria surpreendida com os resultados.
Da bulimia à [quase irreversível] anorexia os factos estão aí - essencialmente despertados por A. e Z., aqui mesmo, em São Paulo. Nesse presente carregado de mazelas irracionais de saúde. Cunho crónico entre os 16 e 25 anos, sobretudo. (Conheço de perto os tiques que Al. tem de uma velha anorexia por superar; R. ainda me fala que I. trata os dentes apodrecidos pelos vómitos provocados; mais as disfunções digestivas).
Na Europa, por detrás do pano da moda e da “aparente” boa forma escondem-se problemas muito mais sérios do que a magreza das passerelles. Do mediatismo ao problema doméstico- que desponta em dezenas de casas, assim.
Por cá, (Brasil total) passaram dois dias [pouco tempo para as circunstâncias que se apresentam, assim num prato frio do dia-a-dia]: duas notícias com o mesmo teor. O mesmo alarme. Razões do mesmo fim, depois de alguns meses de internamento e acompanhamento psicológico:
A., mulher, modelo, 21 anos, 40 quilos, 1,74m.
Z., mulher, estudante de moda, 21 anos, 45 quilos, 1,70m.
Causa: víciadas numa magreza doentia, alinhada com uma distorcida noção de si mesmas. Sim, anorexia! Problema sério [sobreposto entre a complexidade psicológica e distorção física, ainda mais num país (mais do que em qualquer outro lugar) pródigo em viciados pelo corpo; pelo exercício físico; silicone. Numa apologia irreal e ilusória do bem-estar pelo corpo “sarado”, por vezes chupado sim! Esquelético.
Na sofreguidão da estética corporal, alguns pais (não entendo este fenómeno ultra modernista, caído em decadência familiar – talvez a tragédia dê origem à catárse) endividam-se para satisfazer adolescentes mimadas com presentes de silicone.
E a realidade de A. e Z. nada significa afinal. São estatística sim! E para mim continua a ser confusa, essa visão distorcida do corpo, do limite! Continua a ser, ironicamente, obscura a apologia sem sentido da magreza.
Da bulimia à [quase irreversível] anorexia os factos estão aí - essencialmente despertados por A. e Z., aqui mesmo, em São Paulo. Nesse presente carregado de mazelas irracionais de saúde. Cunho crónico entre os 16 e 25 anos, sobretudo. (Conheço de perto os tiques que Al. tem de uma velha anorexia por superar; R. ainda me fala que I. trata os dentes apodrecidos pelos vómitos provocados; mais as disfunções digestivas).
Na Europa, por detrás do pano da moda e da “aparente” boa forma escondem-se problemas muito mais sérios do que a magreza das passerelles. Do mediatismo ao problema doméstico- que desponta em dezenas de casas, assim.
Por cá, (Brasil total) passaram dois dias [pouco tempo para as circunstâncias que se apresentam, assim num prato frio do dia-a-dia]: duas notícias com o mesmo teor. O mesmo alarme. Razões do mesmo fim, depois de alguns meses de internamento e acompanhamento psicológico:
A., mulher, modelo, 21 anos, 40 quilos, 1,74m.
Z., mulher, estudante de moda, 21 anos, 45 quilos, 1,70m.
Causa: víciadas numa magreza doentia, alinhada com uma distorcida noção de si mesmas. Sim, anorexia! Problema sério [sobreposto entre a complexidade psicológica e distorção física, ainda mais num país (mais do que em qualquer outro lugar) pródigo em viciados pelo corpo; pelo exercício físico; silicone. Numa apologia irreal e ilusória do bem-estar pelo corpo “sarado”, por vezes chupado sim! Esquelético.
Na sofreguidão da estética corporal, alguns pais (não entendo este fenómeno ultra modernista, caído em decadência familiar – talvez a tragédia dê origem à catárse) endividam-se para satisfazer adolescentes mimadas com presentes de silicone.
E a realidade de A. e Z. nada significa afinal. São estatística sim! E para mim continua a ser confusa, essa visão distorcida do corpo, do limite! Continua a ser, ironicamente, obscura a apologia sem sentido da magreza.
Filho da esquerda
(Versão original: Português do Brasil)
O cigarro apressado sai da boca mal sorvido. Os dedos trêmulos. A voz inquieta. Olhar desfragmentado entre a realidade e o desejo dela, Bia (Simone Sploadore), de ficar ali, naquela casa, aconchegada, enquanto espera o marido, Daniel (Eduardo Moreira), sempre atrasado. Malas inquietas, que palpitam de improviso. Passos desnorteados. Férias que começam, assim, ansiosas e desregradas de entusiasmo.
Debruçado sobre a mesa envelhecida - cansada de raspagens pueris - o pequeno Mauro (Michel Joelsas) extravasa a imaginação: empurra botões que disputam entre si o gol e a defesa do goleiro. Brincadeiras que sustentam a metáfora do longa-metragem de Cao Hamburger, premiado neste ano no Festival do Rio e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo: “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”.
Saída abrupta. Um fusca azul parte de Belo Horizonte com destino a São Paulo - ao bairro do Bom Retiro, mais exatamente.
“Quando vocês voltam?” - inquieta-se o garoto.
“Na Copa, filho. A gente volta na Copa” - sossega-o, trêmulo, o pai, antes de partir em seu fusca.
Daí, discorre toda a psicologia infantil de Mauro, forçado a sentir as agruras dos pais de férias codificadas pela clandestinidade da esquerda, num país de democracia adormecida e ditadura acordada de insônias – repressão, silêncios, bocas amordaçadas e memórias apagadas de reflexos do que poderia ser. Reflexos simbólicos esses, traduzidos na fotografia de Adriano Goldman, que bafeja imagens em contraponto no espelho do banheiro, no relógio antigo, no vidro do carro. E depois a música estilhaçada de 1970. Os ruídos da agulha a roçar no vinil. Beto Villares se encarrega da carga simbólica sonora.
Mas Mauro, ao contrário da previsão dos pais, não é amparado pelo avô Mótel (Paulo Autran), que morre pouco antes da sua chegada. É o vizinho que se encarregará do pequeno. É a maturidade forçada que espicaça Mauro; as histórias por viver; a infância por contar; as saudades; e a esperança de que a Copa do Mundo traga de novo aqueles que o deixaram à porta do prédio de um avô que também não voltou a ver.
Salas de Cinema próximas
Kinoplex Itaim - Sala 114h10 16h45 19h 21h15 23h30 somente sexta e sábado e terça
Bristol - Sala 312h45 14h55 17h05 19h15 21h25 23h35 somente sexta e sábado Sessões NÃO válidas na terça.
Espaço Unibanco - Sala 414h 16h 19h10 21h30
HSBC Belas Artes - Sala 2 - Cândido Portinari15h 17h10 19h20 21h30
Reserva Cultural de Cinema - Reserva Cultural 313h 15h05 17h10 19h20 21h30
Debruçado sobre a mesa envelhecida - cansada de raspagens pueris - o pequeno Mauro (Michel Joelsas) extravasa a imaginação: empurra botões que disputam entre si o gol e a defesa do goleiro. Brincadeiras que sustentam a metáfora do longa-metragem de Cao Hamburger, premiado neste ano no Festival do Rio e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo: “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”.
Saída abrupta. Um fusca azul parte de Belo Horizonte com destino a São Paulo - ao bairro do Bom Retiro, mais exatamente.
“Quando vocês voltam?” - inquieta-se o garoto.
“Na Copa, filho. A gente volta na Copa” - sossega-o, trêmulo, o pai, antes de partir em seu fusca.
Daí, discorre toda a psicologia infantil de Mauro, forçado a sentir as agruras dos pais de férias codificadas pela clandestinidade da esquerda, num país de democracia adormecida e ditadura acordada de insônias – repressão, silêncios, bocas amordaçadas e memórias apagadas de reflexos do que poderia ser. Reflexos simbólicos esses, traduzidos na fotografia de Adriano Goldman, que bafeja imagens em contraponto no espelho do banheiro, no relógio antigo, no vidro do carro. E depois a música estilhaçada de 1970. Os ruídos da agulha a roçar no vinil. Beto Villares se encarrega da carga simbólica sonora.
Mas Mauro, ao contrário da previsão dos pais, não é amparado pelo avô Mótel (Paulo Autran), que morre pouco antes da sua chegada. É o vizinho que se encarregará do pequeno. É a maturidade forçada que espicaça Mauro; as histórias por viver; a infância por contar; as saudades; e a esperança de que a Copa do Mundo traga de novo aqueles que o deixaram à porta do prédio de um avô que também não voltou a ver.
Salas de Cinema próximas
Kinoplex Itaim - Sala 114h10 16h45 19h 21h15 23h30 somente sexta e sábado e terça
Bristol - Sala 312h45 14h55 17h05 19h15 21h25 23h35 somente sexta e sábado Sessões NÃO válidas na terça.
Espaço Unibanco - Sala 414h 16h 19h10 21h30
HSBC Belas Artes - Sala 2 - Cândido Portinari15h 17h10 19h20 21h30
Reserva Cultural de Cinema - Reserva Cultural 313h 15h05 17h10 19h20 21h30
Texto publicado originalmente na intranet da Energias do Brasil
[-Umas ideias sobre o assunto-]
R. pediu que eu trocasse umas ideias sobre o assunto. C. perguntou-me como foi [na verdade perguntava sempre; só queria saber de mim]. N. lembrou-me disso e parece que este ano ele foi seleccionado, também.
S. falou-me da distância, das proximidades; mas eu não iria esquecer o mês [e quase esqueci pela sofreguidão das horas, dos dias, dos meses, do meu tempo]. E ontem H. reivindicava que voltasse para me rever; e nem queria acreditar que nove meses estavam aí. Tal como P. que me falou da vulnerabilidade das passagens por cá. Há um ano, num hotel em Lisboa, o meu contexto [e tudo mais que isso implica] começava a preparar-se para a incógnita de nove meses. Tal como parir um filho, disse; diziam!, brincavam; discorriam em argumentos e ideias que especulavam sempre sobre como é estar do outro lado do Atântico.
Depois, lá naquela quinta, nos arredores lisboetas, soava pelo microfone um nome híbrido, que entendi sem perceber o porquê - apenas centrada no destino e no país. São Paulo, soou-me um nome cru, como outra cidade qualquer. Afinal o destino já se tinha tornado indiferente. Um baque sonolento e irreal. O eco ainda entoava. E se o J. bem se lembra, AC brincou quando anunciou, mais tarde, uns quantos nomes depois, o mesmo destino e a mesma empresa. Que iria tomar conta de mim! Hum, sabemos que ninguém toma conta de ninguém, da forma como se evidenciava!!!
Mais: lembro do receio de todos lá em casa; dos amigos. SP não era, para eles a cidade ideal. Não é!Mas, afinal ideal para quê? Não sabemos nada sobre o assunto!
Depois: lembro-me da ansiedade. 159 nomes mencionados aleatoriamente. Uma indecisão de duas semanas sobre para onde ir - pouco ou demasiado tempo [ e esta era sim uma dúvida existencial em lato senso - lamento o cliché; mas vale por si agora]. Foi precisamente há um ano (assegura este mês) que soube que SP seria um intervalo na minha vida de lá; seria uma oportunidade para me conciliar e redimir com o abraço que PT não me dá, há demasiado tempo. Ou agora entendo que não. Nove meses é mais do que parir um filho, sim....
Depois: lembro-me da ansiedade. 159 nomes mencionados aleatoriamente. Uma indecisão de duas semanas sobre para onde ir - pouco ou demasiado tempo [ e esta era sim uma dúvida existencial em lato senso - lamento o cliché; mas vale por si agora]. Foi precisamente há um ano (assegura este mês) que soube que SP seria um intervalo na minha vida de lá; seria uma oportunidade para me conciliar e redimir com o abraço que PT não me dá, há demasiado tempo. Ou agora entendo que não. Nove meses é mais do que parir um filho, sim....
terça-feira, novembro 14, 2006
quarta-feira, novembro 08, 2006
C., com quem já não falava há muito tempo (demasiado talvez) perguntou-me porque sou feliz (?) aqui. Quis saber sobre a saudade (o tempo interrompido da presença do lugar). Quis saber sobre as raízes; sobre os lugares saboreados; as conquistas da terra; as identidades; as amarguras; os tempos difíceis, silenciados; partilhados apenas com quem nos estende.
C. nunca teve jeito para cartas. E a nossa amizade não é do tempo dos telemóveis, do messenger, da conversa virtual. Por isso, a conversa ficou lá presa na infância do bem-estar, como se nada tivesse mudado desde que mudei de casa há muitos anos. Desde que deixei por lá, as ruas da infância; os cheiros e os arroubos adolescentes - suspensos no tempo. É assim com a amizade. Percebemos quando concluímos as diferenças entre nós e mesmo assim cuidamos! Eu soube [quase!!!] logo o que lhe responder [as excepções estão aí]. Saudades lusas: muitas. Sensações mil, únicas! Amizades! E a felicidade (?) [não sei]: da minha reconciliação com cada espaço em que me encontro e me revejo numa oportunidade de recomeçar sempre? Na verdade em qualquer lugar!E sempre onde me fazem sentir bem. Não será pela louca meteorologia; pelo cinza de algumas calçadas; pelo acelerado fluxo de rodas no asfalto; pelo albergue a céu aberto das ruas da cidade; pelos rostos tristes. Porque seria, então? Talvez porque aqui é um porto sempre de partida para qualquer lugar. Porque há lugares; sensações que nos fazem sentir em casa - mesmo que não seja! Um lugar de passagem sempre para lá, aquém ou além. Por lá, longe ou perto? Onde descanso recupero e acredito na saudade de poder voltar entre este e aquele, para regressar nessa ponte de sotaques transviados. No teu; o meu!Não sei! Talvez por isso. Ou ainda sem o rigor de o ter de definir. E sentir simplesmente!
segunda-feira, novembro 06, 2006
quarta-feira, novembro 01, 2006
terça-feira, outubro 31, 2006
segunda-feira, outubro 30, 2006
Escassas têmporas de memória
O assobio do vento lá dentro, e lá fora –
onde as serras são mais rasgadas;
Corrompidas pelo nevoeiro embalado;
largado de poeira.
Sibilantes agudas, estridentes depois;
de mazelas dilaceradas
Cantos de exotismo,
ou assobios na brisa, simples-
Nesgas saturadas de fendas no pano;
De salitre e areia de palavras;
[onde se esconde e se larga, depois,
com a lua;ou a escassa luz desse quadro, toldado].
quinta-feira, outubro 26, 2006
Cidades a spray
O tiritar dos rasgos sonoros [em deslize absoluto]. Buzinas; calçadas que trotam [semi-cansadas, desgastadas, porém]. Estridentes depois! Sem tempo. Leves [depois do peso dos passos – como quem traça um cigarro ressacado].
Aquele som sai tarde, acelerado. Entra nos muros – em cada gesto inusitado - da cidade [urbana (?), perdida entre sons sibilantes; estridentes]. As cores pendem. Estendem-se. Esmorecem!Dormem. Depois acordam para uma insónia perene. Saída de expressões e texturas rebeldes – que se tocam, num prazer inusitado de liquidez absoluta! Náuseas de sons, cheiros – de tinta que escorre!Fachadas degradadas – enjeitadas com linhas/traços negros, azuis, verdes – de spray: sopros individuais, traçados de memória; espontâneos. Suspiram; ou murmuram algo em voz baixa, demasiado inaudível- mas que grita.
Aquele som sai tarde, acelerado. Entra nos muros – em cada gesto inusitado - da cidade [urbana (?), perdida entre sons sibilantes; estridentes]. As cores pendem. Estendem-se. Esmorecem!Dormem. Depois acordam para uma insónia perene. Saída de expressões e texturas rebeldes – que se tocam, num prazer inusitado de liquidez absoluta! Náuseas de sons, cheiros – de tinta que escorre!Fachadas degradadas – enjeitadas com linhas/traços negros, azuis, verdes – de spray: sopros individuais, traçados de memória; espontâneos. Suspiram; ou murmuram algo em voz baixa, demasiado inaudível- mas que grita.
Lá em cima [entre as janelas dos andares dos prédios inquilinos, vazios, velhos, sucumbidos, indigentes]; no contraste do dia; ou da noite, há um vulto que recai sobre o musgo das paredes. Lá em cima! No limite – na suspensão da vida e da adrenalina – ele semeia sibilantes com a agulha – aerossol, spray. As cores não importam.
Rasgos de expressão, no Rio; em São Paulo. Urbanidades despojadas. Contrastantes e na miasma aflitiva da complementaridade.
Outro vulto está de costas para a estrada. Pinta à luz do dia; aos olhares indiferentes: a senhora que passa apressada; o carro acelerado; os rostos mesclados de multidão.
Rasgos de expressão, no Rio; em São Paulo. Urbanidades despojadas. Contrastantes e na miasma aflitiva da complementaridade.
Outro vulto está de costas para a estrada. Pinta à luz do dia; aos olhares indiferentes: a senhora que passa apressada; o carro acelerado; os rostos mesclados de multidão.
quarta-feira, outubro 25, 2006
Ora pois?
Já sabemos que "Ora, pois" é cliché para falar de português em terras tropicais. Quando revelo que ninguém diz isso em Portugal - pelo menos assim associado- cai o mito; e não querem acreditar. [E já se sabe que os mitos não se quebram assim de uma vez]. (O mesmo se aplica às piadas de brasileiros que acham que o português faz - quanto se enganam, portanto! - temos de começar a contar as piadas dos alentejanos). De qualquer forma, é sempre curioso entender como funciona esta história da visão antropológica do outro. Ou melhor: como os outros nos vêem.
Esta caricatura é da autoria de um já amigo Rodrigo Bueno. Brasileiro de gema (ora, pois!)- que nesse dia discorreu em desenhos de várias personagens. A caricatura original tem mais elementos lusos, mas com a digitalização perde-se um pouco a qualidade. Fica o registo do jantar de violão, massa, bruschetta e molho de beringela, naquele universo lá em Perdizes, no misto internacional.
terça-feira, outubro 24, 2006
Cantar com a alma!
Dona Inah, prémio Tim 2005: uma revelação com ritmo de samba, chorinho e rouquidão charmosa que traça a tradição do que a alma ainda tem de tropical. "Divino Samba Meu" é o nome do cd que a senhora mescla com herança sambista e originalidade vocal. Aos 70 anos o vigor está na alma de quem seus males espanta, assim!
Em Agosto tive a sorte de a fotografar num churrasco de aniversário da velha guarda do samba paulista, graças à Carol, mergulhada nesse universo fabuloso. Para desfrutar com calma e selecção.
segunda-feira, outubro 23, 2006
Dona Zulmira, lá em baixo!
Vergada sobre o corpo [ainda existente no fôlego da neblina], sentava-se constrangida de mau- estar na beira de um passeio. [E rezingava em silêncio aos deuses dos seus pensamentos; enrolados com a chuva que cai, como quem distende os lamentos fendidos]. Não vê novela. Não sabe, sequer, o que significa isso. [Ou aquilo de tecer palavras enjeitadas com nada]. Mas até poderia ser que a sua vida desse uma – descaída de gestos rareados. Não lê. Desconhece mundos literários. [Se eles existissem seriam pérfidos silêncios de faróis alucinados, quem sabe!].
Viajar: apenas de rua em rua. Jardim em jardim. Ou na senda daqueles pensamentos já falados...[E vê mais que muitos que julgam ter tempo para sorver]. Ou nada. E consome-se na hipocrisia de todos. Na minha. Na de qualquer um. Sem noção. Entendimento daquela vida – desajeitada de remorsos paridos. [Como a seiva salivada daquela mágoa estendida].
Os cabelos grisalhos escondiam-se insalubres sob o cobertor verde desfiado. [Retalhos sombrios; trôpegos da maleabilidade caída]. As mãos não se viam. [Até parece que se perdiam nas mangas desengonçadas; largas e escorreitas]. Soltavam-se atrofiadas. Derivantes no parco espaço. Estavam ocultas sob a dimensão do manto. Maior que o corpo franzino e periclitante. [“Será homem ou mulher?; Que idade vestirá, aquele corpo franzino, que já há muito deixou o mundo das poças calibradas de poeira?”].
Mas não importa. Deixou de interessar. O véu de lã envolvia aquele corpo esquelético; submerso em pensamentos que não se sabe quais. [Seriam eles?; fôlegos mentais que não chegam a sê-lo; apenas cólera] Ninguém pensa nisso. A não ser ele, que naquele dia, parou. Olhou de novo. Quedou-se na hesitação da humilhação dele próprio – em que se reviu; poderia sê-lo, ali, na berma daquele passeio, calcorreado; de pedras corridas e egoístas.
Os cabelos grisalhos escondiam-se insalubres sob o cobertor verde desfiado. [Retalhos sombrios; trôpegos da maleabilidade caída]. As mãos não se viam. [Até parece que se perdiam nas mangas desengonçadas; largas e escorreitas]. Soltavam-se atrofiadas. Derivantes no parco espaço. Estavam ocultas sob a dimensão do manto. Maior que o corpo franzino e periclitante. [“Será homem ou mulher?; Que idade vestirá, aquele corpo franzino, que já há muito deixou o mundo das poças calibradas de poeira?”].
Mas não importa. Deixou de interessar. O véu de lã envolvia aquele corpo esquelético; submerso em pensamentos que não se sabe quais. [Seriam eles?; fôlegos mentais que não chegam a sê-lo; apenas cólera] Ninguém pensa nisso. A não ser ele, que naquele dia, parou. Olhou de novo. Quedou-se na hesitação da humilhação dele próprio – em que se reviu; poderia sê-lo, ali, na berma daquele passeio, calcorreado; de pedras corridas e egoístas.
sexta-feira, outubro 20, 2006
Amizade
Hoje é o dia oficial da divulgação. A minha querida Carol ganhou o Prêmio Nascente da USP na categoria Texto com o seu primeiro romance "Ciranda de Nós", que é o mesmo nome do blog .
Parabéns! Vale a pena não desistir dos sonhos!
Texto original publicado na intranet da Energias do Brasil
Autor: Eny Elisa Souto
A jornalista e estudante de ciências sociais da USP (Universidade de São Paulo), Carol Maia, do departamento de Comunicação da Energias do Brasil, ganhou o Prêmio Nascente da USP na categoria Texto com o seu primeiro romance "Ciranda de Nós", que é o mesmo nome do seu blog.
O romance, que deve ser publicado em 2007, é sobre uma menina que passa as férias na casa de praia da família e, através dos seus sentidos, leva o leitor a conhecer uma cidade onde se enrola uma imensa ciranda de nós. A estrutura do romance é similar à de uma ciranda: a cada capítulo, um personagem entra na roda. E, ao dar as mãos, capítulo a capítulo, os personagens apresentam os seus costumes, as suas crenças e os seus lares, além de um crime que marcaria de maneira definitiva a pequena São José da Coroa Grande, cidade onde se passa a história.
Para a jovem escritora, receber o prêmio foi bacana, porque mostrou que o romance está no rumo certo. "Ainda não considero o livro terminado, mas o prêmio me indica que eu devo continuar o trabalho na direção que tomei, e por isso ele é muito útil", diz Carol.
O Nascente é um prêmio realizado todos os anos pela USP. Podem participar alunos de graduação e de pós-graduação da universidade. São sete categorias: Artes Cênicas, Artes Visuais, Audiovisual, Design, Música Erudita, Música Popular e Texto.
O romance, que deve ser publicado em 2007, é sobre uma menina que passa as férias na casa de praia da família e, através dos seus sentidos, leva o leitor a conhecer uma cidade onde se enrola uma imensa ciranda de nós. A estrutura do romance é similar à de uma ciranda: a cada capítulo, um personagem entra na roda. E, ao dar as mãos, capítulo a capítulo, os personagens apresentam os seus costumes, as suas crenças e os seus lares, além de um crime que marcaria de maneira definitiva a pequena São José da Coroa Grande, cidade onde se passa a história.
Para a jovem escritora, receber o prêmio foi bacana, porque mostrou que o romance está no rumo certo. "Ainda não considero o livro terminado, mas o prêmio me indica que eu devo continuar o trabalho na direção que tomei, e por isso ele é muito útil", diz Carol.
O Nascente é um prêmio realizado todos os anos pela USP. Podem participar alunos de graduação e de pós-graduação da universidade. São sete categorias: Artes Cênicas, Artes Visuais, Audiovisual, Design, Música Erudita, Música Popular e Texto.
“Viver junto seria impossível sem a forma de arte”, diz Maria Rita Kehl, no último seminário da 27ª Bienal de São Paulo, “Trocas” alicerçado ao tema “Como Viver Junto”.
Mais: “São Paulo é uma cidade esquecida; recalcada. De sofrimentos solitários. Torna os seus habitantes anónimos. Os artistas são responsáveis pela (re)criação da cidade”.
quinta-feira, outubro 19, 2006
Esbaforido...
..é o tempo da chuva lá fora; do vento levantado da memória de um trago mal sorvido. Um gole de tempo, por ora [onde descansa o cansaço tropical] - embora... a luz não entre carregada de cortinas silenciosas- corridas, agora!
Olha lá fora! Se ela vir o céu carregado não acorda a hora. Fica fendida, espera. Senta-se na berma do desgaste esbaforido. Agora vencido!
Tragédia#Comédia
Diferença entre tragédia e comédia, segundo Fábio Camarneiro – professor do curso de argumento para cinema.
“A Tragédia serve para nos lembrar da inevitabilidade da morte; a Comédia serve para nos lembrar da inevitabilidade da ressurreição (amanhã é outro dia e posso começar tudo de novo).”.
No meio disto (re)vimos “Tempos Modernos” de Chaplin – na sua inevitabilidade histriónica; como a vida, não?
“A Tragédia serve para nos lembrar da inevitabilidade da morte; a Comédia serve para nos lembrar da inevitabilidade da ressurreição (amanhã é outro dia e posso começar tudo de novo).”.
No meio disto (re)vimos “Tempos Modernos” de Chaplin – na sua inevitabilidade histriónica; como a vida, não?
terça-feira, outubro 17, 2006
"Como viver junto" , por Nicolas Bourriaud
Tema deste ano da 27 ª Bienal de São Paulo, "Como viver junto" é o cruzamento da estética de Hélio Oiticica e a ruptura de Roland Barthes; é a provocação da individualidade que toca ténue a celebração artística (experiência real da vida?) [ou a luta contra a amnésia colectiva!].
"Acho muito importante lutar contra a amnésia! Da mesma forma que as vanguardas radicais no início do século 20 foram baseadas na ideia de futuro, é muito possível que a modernidade do século 21 (eu não gosto do conceito "pós") seja baseada em leituras do passado.
No século passado, o futuro era o modelo de leitura do presente, hoje, talvez o passado seja o modelo de leitura do presente. Isto ocorre por conta da padronização do planeta, que apaga a memória, e a melhor forma de lutar contra isso é não voltar ao passado, mas ler o passado no presente, buscar novos itinerários no passado e isso é muito importante. Busquei fazer isso em Lyon e vejo isso em São Paulo [na Bienal]".
Nicolas Bourriaud, curador francês e autor do livro "Estética Relacional" em entrevista, ontem, à Folha de São Paulo
segunda-feira, outubro 16, 2006
Imprensa, mesclas
Todos os dias: jornal "Público", "Folha de São Paulo", "Estadão", "CBN", "TSF", "Lusa", "Portugal Digital" e "Expresso" on-line. Faz parte do processo! Porém, depois de sete meses com esta mescla de imprensa, há alturas em que se confunde os contextos, na leitura, no registo - ou os contextos confundem-se; diluindo-se na memória diária.
Hoje, por exemplo, a exposição em homenagem a António Gedeão seria, momentaneamente, inaugurada em São Paulo, numa tal de Biblioteca Nacional - verosímil! Mas não: engano condicionado da memória: a expo é mesmo lá, em Portugal. O invés? Uma tal feira de design seria por lá; segundos de reflexão a certeza da mistura: vai ser por cá...
sábado, outubro 14, 2006
Amizade
Postais. Fragmentos dos meus momentos em terras alheias. Agora tão familiares quanto a sonoridade da língua. Deste lado de cá - do Atlântico - quis partilhar pequenas histórias do cenário que me preenche. Deste lado de cá, enviei sonhos e identidades. Missivas; cartas com o fulgor do calor da tinta. Como gosto...
Agora, enternecida, percebo que esses sonhos que enviei preencheram mais do que eu imaginava! Com lisonja e ternura li no http://www.morreraler.blogspot.com/ do meu amigo Paulo Moura um voto de alento por esse postal enviado - sobre o lugar onde hoje me encontro até Domingo.
quarta-feira, outubro 11, 2006
Utopias fantásticas, Gémeos
Quente. Demasiado calor, em que se sufoca primeiro e respira depois - o das tintas. Os sonhos não têm cor [ou quem sabe vertem em vários tons - inexistentes e exclusivos de quem vê, (lê ?) palavras visuais quando fecham os olhos - ou sonhar acordado com as utopias da arte (vida?). Universo metafórico, infantil, de imaginário fantástico em que o hiper-realismo se senta para observar invejoso [na esperança de também entrar lá no meio das lantejoulas recriadas; cabeçudos disformes e sábios; rostos fingidos - camuflados na multidão]; teatro vida [ou a simples cadência do espontâneo - como este universo embalado].
© Vanessa Rodrigues
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