Eu tenho um problema. Bom, talvez
tenha vários, mas aquele de que tenho certeza e contra o qual me
debato, diariamente, tem sobressaído mais do que habitual. O meu
problema poderá, certamente, ser explicado por um qualquer analista
especializado em psicologia pós-moderna, todavia ainda não
aconteceu de nos conhecermos e parece longe esse acontecido a acontecer. Talvez
pudesse resultar numa relação de onde pudessem brotar vários
frutos. Ele analisando-me; e eu tomando notas para aproveitar o
testemunho para um texto.
Vejamos: o meu problema é bem básico,
digamos, convencional, e tenho exercitado vários esquemas, planos e
estratégias para fintar a questão. Diagnóstico: tenho um problema
crónico com prazos, hierarquias, rotinas e pêlo de gato. O último
não deveria fazer parte da lista, mas com a idade noto que a coisa
piora. Quanto aos primeiros, que incluo como fenómeno social total
da minha existência num problema único a que apelido de
“temporalidade da existência do aqui-e-agora”, devo admitir que
piorou, consideravelmente, nos últimos dois anos.
Eu explico, porque
a questão é bem mais profunda: continuo a deixar as coisas que não
gosto de fazer para o último momento; detesto ter de fazer a mesma
coisa todos os dias, bem como ter hábitos semanais, começo a ter
insónias e comichões, não lido bem quando tentam mandar em mim. O
que acontece quando sou abduzida por ter de fazer algo de que não
gosto é que acabo por me entusiasmar a querer fazer outras coisas há muito
adiadas que de enfadonhas passam a coisas espetaculares.
Disperso, eu
sei que disperso, em querer fazer tudo, talvez, menos aquilo que caiu no
prato do prazo limite. Aquela coisa
do-que-tem-que-ser-tem-muita-força é tudo mentira, não é nada
assim, quem o inventou como máxima deveria andar a tomar uns chás engraçados. Aquilo que não tem que ser é que tem muita força, pelo
menos para o clube dos indisciplinados como eu.
Eu bem que queria
acordar às seis da manhã, correr, comer o pequeno-almoço super
saudável cheio de vitaminas, ler muito e escrever logo de manhã,
parar para almoçar, cochilar, diligentemente cumprir mais um
trabalho mesmo que não queira e seja enfadonho, tal qual palavras
cruzadas na sala de espera do médico, jantar à mesma hora, ler de
novo e dormir cedo. Mas enfim, há 32 anos que não dá certo. Não
sei se dará alguma vez. Talvez seja abduzida um dia por
extra-terrestres em sonhos que reprogramem a máquina.
P.S. É tudo mentira, isto é uma ficção, qualquer semelhança com alguma história que conheçam é pura coincidência, heim!
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