Já tive propensão para
ser confidente dos meus amigos infiéis, o que me deixava, sempre,
numa situação complicada. Acho que a razão principal para que eles
me olhassem como confessionário silencioso é porque acabava
descobrindo, sem grandes alardes, apenas em pequenos gestos. Eles
percebiam.
Moral da história: acabava ouvindo, tal qual uma
Freud que não tecia grandes observações, a não ser lançar, no final da consulta, aquele
olhar “a consciência é tua, mas nunca me peças para
mentir”.
A certa altura cheguei a
pensar que seria prática comum no sexo masculino, por muito amor que
ele tivesse à Maria, Solange, Eleonora, Sofia, sei lá agora
enumerar o nome delas. Ou seria apenas uma fase. É, devia ser uma fase,
afinal haverá recônditas motivações para a consumação de um
flirt às escondidas.
A situação mais
caricata de que me recordo foi a de X.
Estávamos no Brasil.
Ele, rapaz bem-parecido com cara de Dom Juan, el conquistador
hermoso, seu jeito
sedutor-malandro-tugo-latino-menino-a-precisar-de-colo e retórica
bem apessoada, resolveu que ter uma namorada não era, afinal,
suficiente. Bom, não eram bem namoradas, não sei bem como dizer...
talvez, sei lá, amigas especiais?
X. deixara uma amiga
especial em terras lusas, arranjara uma outra em São Paulo e como
não estivesse satisfeito, outra noutra cidade, a 10 horas de
distância de autocarro de São Paulo. O que é certo é que durante
a semana, por vezes, ele ainda ia falando com a miúda de Lisboa,
enquanto saía com a paulistana.
Ao fim de semana, sem falhar um
autocarro que fosse, zarpava para outro estado. Chegava às segundas
de madrugada e, pontualmente, apresentava-se ao serviço. Há quem
chame a este comportamento sociopatia. Eu chamar-lhe-ia frugalidade; e
não sei como o rapaz não teve um esgotamento.
Acho que elas nunca
chegaram a descobrir, nunca ninguém se atreveu a contar, mas recordo
que uma delas chegou a persegui-lo e a ameaçar encontrá-lo em
Portugal, porque não podia viver sem ele. Um ano depois, X. saiu,
novamente, do país. Apaixonou-se por uma mulher bem mais velha e
mantinha um amante mais nova. Até que tudo acabou.
Há um mês
casou-se, depois de dois anos de namoro. Ao que tudo indica continua
arrebatadamente apaixonado e fiel. É, se calhar, há esperança para
os Playboys.
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