Tenho pensado, talvez, demasiado nisto, convicta de que ganhei anos de vida, aos 31, mas concomitantemente um peso de raciocínio que me coloca perante um muro etário para o qual não estou preparada. Ou melhor, estou perante o desafio de saber que o tempo não existe e que nós, sim, inquilinos deste corpo é que somos movimento, seres com amnésia colectiva a tentar ser grandes e de ego partilhado, quando, na verdade, nada disto importa, porque impermanente, e nada disto realmente faz a diferença, a não ser que estejamos, de facto, a construir alguma coisa que possamos deixar como legado e ensinamento para os que hão-de vir.
Em rigor não estou a descobrir nada de novo, e nem todos os que aqui caírem saberão desfazer a teia lógica deste raciocínio, porque é preciso vivência, embora, sinto, haja algo de lucidez pessoal nesta transparência da razão que a idade dá, aos que, em certa medida, esmiuçam o processo de vida em busca de respostas: enquanto não descobrirmos uma forma de transmitirmos conhecimento aos que aí vêm, o mundo e a natureza da mente percorrerão sempre este desgaste, este início e fim, onde a memória e a lucidez que alcançamos com a vida, se vai connosco para a viagem derradeira, para onde quer que seja esse universo paralelo, incorpóreo, que os cientistas tentam desvelar, em camadas de vidas.
É na incapacidade de transmitirmos, vida após vida, que é sempre alheia, porque a nossa vivência é pessoal e intransmissível, que reside o falhanço da Humanidade. Haverá, certamente, aqueles iluminados, que conscientes da importância da natureza da mente, de si, como missão primordial do aqui e agora, em oportunidade única, interiorizam a lucidez essencial desta passagem. Será, pois, uma minoria. É por isso que tudo isto faz sentido para mim: ler os Clássicos, os Gregos, a Filosofia e os grandes pensadores, torna-nos mais próximos de nós e daquilo que somos, para um dia, quem sabe, sermos capazes de transmitir a meio e no fim o que nos resta de lucidez e o sentido da vida.
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