Tenho saído pouco à rua. De cada vez que abro a porta de casa e percebo que o mundo é uma possibilidade, outra vez, é como se ele se tornasse um contínuo psicoactivo. Tudo me parece novo. Alucinadamente novo e deslumbrante, sem que nada de extraordinário realmente aconteça. A Padaria do senhor Amândio, por exemplo. Um pedaço de Portugal, plantado no bairro de Perdizes. Misto quente e café para o fim de dia, naquele que seria lanche e jantar. Chapa a fervilhar. Quente-quente. E aquele homem que não pára de trautear uma música que nem ele sabe o que é. Atende-me. Põe o queijo e peito de peru na chapa. Tira o café. Corre para atender o cliente que quer pão, fiambre e queijo. Trauteia. Faz tudo de passos rápidos. Gestos céleres. Desconcertadamente céleres. Ficamos zonzos, rodopiantes, ansiosos.
Ele enrola tudo num papel reciclado. Põe dentro do saco plástico. Corre para a chapa quente. Trauteia. Assobia. Atende o cliente que quer Coca-Cola e batatas fritas. Corre para outro cliente-pão. Processo seguinte já mencionado. Trauteia. Abre o pão. Põe tampa em cima do queijo na chapa. Quase no ponto. Pão aberto. Sai batatas com Coca-Cola. Peito de peru e queijo enroladinhos no pão. Servir no prato. Trauteia. Frenético. Mais um cliente-pão. Pergunta básica: desde que horas você está trabalhando? Resposta: “A gente chega aqui umas sete, né! Falta uma hora para eu sair! Cê acredita que ainda não parei?"
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