O lirismo da vida, aquele que mexe connosco e estremece o peito para que tenhamos a certeza que a vida também está ali, tem apêndice certo, também, na bossa nova
terça-feira, agosto 31, 2010
Hilda e Deliza. Caiu na privada!
Noto aqui um padrão. É a segunda vez que acontece num espaço de uma semana. Tenho até receio da próxima semana. O mesmo poderá acontecer a Yasmina, Clarice e outras. Não sei. Talvez seja desculpa, talvez seja um inevitável padrão feminino e poderá a todas acontecer. Vá! Tenham cuidado quando levam o telemóvel para o WC.
Para quê? Caiu na privada? Puxa.
A Hilda ficou atrapalhada. Quis ler aquela mensagem deliciosa e entre o papel higiénico e autoclismo e ploc-flussh deixou escorregá-lo. Deve estar agora a navegar em águas escuras e desconhecidas, ou talvez afundado de vez. O mais provável é estar afundado de vez. Voilá. Tinha um encontro com um possível-quase namorado e o roteiro para entregar ao director de cena, depois que ele acabasse o ensaio. Claro. Eles ligariam.
- “Amiga, você acha que alguém vai acreditar nesta parada? Puxa, é muito bizarro. Celular cair na privada, parece pegadinha. Fala sério. Desculpa de nada, né? Você é o único número de celular que eu sei de cor. Pôxa, ainda bem. Mas a vantagem é que a essa hora o celular já desligou né. Tem o silêncio a meu favor. Tem o silêncio como meu alibi”.
É, o alibi-silencioso. Não haveria por que não acreditar.
Com a Deliza foi mais ou menos a mesma coisa. Ela quis justificar o silêncio e mandou-me uma mensagem quase em código. Achei que ele se tivesse mudado para algum país árabe, sem me avisar. Obrigou-me a ler a mensagem da direita para a esquerda, várias vezes, que é o mesmo que dizer que tive de voltar atrás para a entender. Mesmo assim, estou com dúvidas e só consigo entender “cluhar prvada, stu s nmeros”. Privada. Que de privada agora não tem nada, desde este post, público!
quinta-feira, agosto 26, 2010
Devia ter uns 12 anos. A professora pediu que decorássemos um poema de Fernando Pessoa. Lembro-me bem daquela lombada preta e dourada, a imagem de Pessoa a azul, na capa, e o livro denso, paginado a um universo incrível que agora tenho vontade de revisitar. Devo voltar. Preciso, urgentemente de lá voltar, Agora, sim, talvez esteja um pouco mais preparada para o périplo de voltar a ser o Pessoa. Desta vez só o Pessoa, com o mundo todo nele. Com a física quântica a sair-lhe de dentro para se verter em palavras, que são dúvidas; dúvidas que são ponteiros escangalhados, às vezes omissos, outras acelerados como os dos segundos, ou uma espécie de não tempo.
Era nessa procura-inquieta, nessa dúvida de questionador que encontrava um pouco mais de paz em si e se resolvia com o mundo por um dia. No seguinte, tudo começava. Transformou todas essas dúvidas em criação e, por isso, talvez hoje o conheça um poucochinho melhor. Tenho, assim, essa relação íntima com o Pessoa. Com o Tempo. Que coisa esta de pensar tanto no Tempo. Até porque, falamos a mesma linguagem, que é o mesmo que dizer que a gente se entende direitinho. Até nas dúvidas. Até nas horas mortas, como este poema que decorei sem pestanejar em minutos. Devo tê-lo acabado de ler com vontade de ligar ao Pessoa e dizer-lhe: como foste capaz de decifrar?
Lenta e lenta a hora Por mim dentro soa (Alma que se ignora !) Lenta e lenta e lenta, Lenata e sonolenta A lua se escoa...Tudo tão inútil ! Tão como que doente Tão divinamente Fútil - ah, tão fútil Sonho que se sente De si próprio ausente... Naufrágio ante o ocaso... Hora de piedade... Tudo é névoa e acaso Hora oca e perdida, Cinza de vivida (Que Poente me invade?) Porque lenta ante olha Lenta em seu som, Que sinto ignorar ? Por que é que me gela Meu próprio pensar Em sonhar amar ? |
quarta-feira, agosto 25, 2010
Um pouco de Hilda
Hilda está namorando. Sério. Hilda está mesmo namorando. Há melhor anti-depressivo do que o amor? Vês? Começou com um encontro. Depois outro. Outro e outro. E mais outro que significou mais que todos os outros.
Quem vê Hilda, agora, não diz que é a mesma, mas ainda continua a ver Hilda. Essa Hilda. A minha Hilda, que não é de ninguém. Precisava aprender com Hilda. Já disse que todas temos inveja dela. Um pouco mais, às vezes nada, outras vezes muito! Oh, Hilda! O que deixas sempre em nós! É Hilda, assim deixas-nos sem saída, na noite, na rosa, na noite perdida. E essa dos de que estás jogando uns brincos no lixo e vais tirar o esmalte e pôr um outro parecia metáfora sobre o teu amor antigo para começar um novo.
Hilda, já viste? Estás namorando! Parece que ele, agora, até vai começar a correr contigo. Vá, correr, ali no calçadão. Ali, entre o Leblon, Ipanema até, quem sabe, Copacabana. O amor pode começar em Copacabana e nunca terminar, mesmo que chegue até Ipanema.
Será que um amor que começa em Copacabana dura mais do que o que começa em Ipanema? Ah, moça do corpo dourado desse sol de lá. Samba que passa. Uma bela festa!
O amor de Hilda parece, agora, uma bela festa. Mas o mais sincero deste amor de Hilda é isto e, somente isto. É tudo o que importa: "Ele acha a loucura dela normal". Encontrou alguém que acha a loucura dela normal. E a loucura de Hilda é fome de vida. Só fome de vida, como andava com fome de amor. Que bom, Hilda, que estás namorando!
Quem vê Hilda, agora, não diz que é a mesma, mas ainda continua a ver Hilda. Essa Hilda. A minha Hilda, que não é de ninguém. Precisava aprender com Hilda. Já disse que todas temos inveja dela. Um pouco mais, às vezes nada, outras vezes muito! Oh, Hilda! O que deixas sempre em nós! É Hilda, assim deixas-nos sem saída, na noite, na rosa, na noite perdida. E essa dos de que estás jogando uns brincos no lixo e vais tirar o esmalte e pôr um outro parecia metáfora sobre o teu amor antigo para começar um novo.
Hilda, já viste? Estás namorando! Parece que ele, agora, até vai começar a correr contigo. Vá, correr, ali no calçadão. Ali, entre o Leblon, Ipanema até, quem sabe, Copacabana. O amor pode começar em Copacabana e nunca terminar, mesmo que chegue até Ipanema.
Será que um amor que começa em Copacabana dura mais do que o que começa em Ipanema? Ah, moça do corpo dourado desse sol de lá. Samba que passa. Uma bela festa!
O amor de Hilda parece, agora, uma bela festa. Mas o mais sincero deste amor de Hilda é isto e, somente isto. É tudo o que importa: "Ele acha a loucura dela normal". Encontrou alguém que acha a loucura dela normal. E a loucura de Hilda é fome de vida. Só fome de vida, como andava com fome de amor. Que bom, Hilda, que estás namorando!
quarta-feira, agosto 18, 2010
O inquilino I
Vivo no fim de mim, que é o mesmo que dizer que não há mundo, como o vemos, que caiba no pouco que vivo. Não saio, não me dou com os vizinhos, não os conheço, nunca os vi, nem sequer faço questão de ter qualquer convivência com a orgânica de uma comunidade fingida e forçada como pode ser a de um prédio.
Não escolhi os meus vizinhos e, se pudesse escolher, não os escolheria. Andamos todos aqui a fingir que nos toleramos, quando, no fundo, o que desejamos é apagar vidas da nossa, e que nunca mais nos apareçam à frente. Só que, por um certo decoro do código social, aprendemos a imitar os gestos e a ensaiar as respostas da boa convivência. Uma treta. Somos uns farsantes. E a mesma palavra proferida por bocas diferentes pode ter gravidade de verdade ou mentira, conforme a formação avançada do farsante. Só que, como não andamos por aí com medidor desses níveis, acabamos por fingir que acreditamos, embora a intuição, o melhor dos medidores, e que ignoramos, nos diga o contrário. Foi por isso que decidi, há três anos, circunscrever-me, voluntariamente, a quatro paredes, com dois pilares principais que seguram a estrutura deste habitat. Houve outras razões, mas isso nada importa agora. Estariam a querer saber mais do que estou preparado para vos contar. O passado pode tornar-se um livro queimado: fi-lo, e orgulho-me de o ter feito com isenção das queimaduras que pode deixar a heresia de se o fazer o mental Fahrenheit 451 (o calor ideal para queimar a literatura).
É, a memória é um livro volátil e perecível, melhor se o pudermos liquidar. E a nossa literatura mental tem lugares muito mal-frequentados. Se aprendermos a dar-nos com o cérebro, podemos convencê-lo a apagar esse livro biológico, queimando-o.
Quanto aos vizinhos, se tivesse que escolher, reforço, não escolheria nenhum deles, porque preferia viver sem anexos ao redor. Não me incomoda o barulho da rua, da avenida, as motos a passar, aceleradas, às quatro da manhã, os travões dos autocarros velhos a chiar e o inferno sonoro à hora de ponta. Juro, não me incomoda esse estrondo de urbanidade. Incomoda-me mais a algazarra doméstica. Os cães a ladrar (nunca entendi como é que alguém pode ter um animal num prédio: fora com eles) os berros das crianças mal-educadas que saem do 5ºC como se lhes estivessem a arrancar os cabelos (não posso assegurar que isso não possa estar, realmente, a acontecer; mas mesmo que estivesse estar-me-ia pouco nas tintas), as conversas vazias sobre a telenovela e queixumes das beatas do 5ºA e 5ºB.
E, depois, há os insultos do burgesso do 6º D, bem por cima de mim, que resolve bater na Jasmina – ouço-lhe da boca- sempre que chega a casa, como desporto - apercebi-me - escancarando, religiosamente, a garrafa de cerveja do chão quando ela lhe bate a porta do quarto. Ou o óbvio ruído das molas da cama a chiar de luxúria-animal, sempre cadenciadas pelo treme-treme do meu candeeiro do quarto, todos os dias. Resolvi, por isso, mudar o colchão onde durmo para outra divisão. Só tinha três hipóteses: o WC, a sala ou cozinha. Rendi-me ao mais óbvio, que esfria sempre um pouco quando chega o Inverno rigoroso do Norte (mas não pensem que esta será alguma coordenada para decifrarem onde moro), pois a corrente de ar dos anexos, trespassa as frinchas das janelas da cozinha.
Nunca as arranjei, nem permito, agora que algum marmanjo, estranho, me entre pela casa e me invada. Precisaria de um mês para me recompor do contacto, que é o mesmo que dizer, para me purificar de uma certa ideia de humanidade, que não passa de uma grande léria. Nós não somos todos humanidade, e não deixamos legado nenhum. E um mês é demasiado tempo para o perder a recompor-me no contacto, quando o tempo é um fio ténue e esgarçado, que se esfiapa cada vez mais, dia-a-dia, até ao rompimento final.
Apercebo-me que se, por acaso tivesse de conviver com alguns desses palermas que formam o microcosmos da minha vizinhança, que para mim não passam de maiores parasitas do que eu (não faço mal a ninguém e ainda os poupo à minha insignificante, porém perturbante presença), não saberia como fazê-lo, limitando-me a grunhir alguma coisa e virar costas, arrastando-me - que foi a melhor forma que encontrei de me deslocar. Sou uma figura arrastada, já perceberam.
E se perceberam, há uma coisa que gostaria de rectificar neste discurso. Há pouco equivoquei-me. Não fui absolutamente sincero quanto aos vizinhos. Em três anos, por aqui, muita coisa mudou, e desde que arranjaram o elevador já não sei dizer ao certo quais os supostos contíguos que vi, no início, antes da minha reclusão, para poder, com acuidade, cruzar o conhecimento sobre a genealogia da vizinha actual. Mas rectifico: recordo-me que conheci uma vez a velha do rés-do-chão. Uma louca macilenta. Que me pedia sempre para lhe ir comprar pão. Parece que me esperava.
De todas as vezes, como não estava para aturá-la, respondia-lhe torto e dizia-lhe que, se ela tinha pernas e ainda poderia fazer bom uso delas, para alguma coisa serviam. Ela baixava a cabeça, recolhia-se e trancava a porta. Só que, no dia seguinte, ela voltava a fazer o mesmo. E foi assim por dois anos, até me recolher. Era uma mulher esquisita, que, como eu, não deveria andar por aí solta, fora de portas de um certo habitat. Aliás, deveria ser feita uma lei que assim o determinasse. As pessoas esquisitas, estranhas e sem boa figura para se mostrar, deveriam ser proibidas de sair à rua.
segunda-feira, agosto 16, 2010
Obnóxio
Não sei muito bem o que fazer com isto. Atropelo uma carpa. Nagib Nagme, Loterias paralelas, sorte, arre, FUTUROᴙUTU₣ (éfe-invertido). Vivendo do ócio, negócio, negar o ócio, Tatuagens, Fiscalização de velocidade de semáforo. Material obnóxio, uma Augusta rua, uma rua Augusta, Lavenderia. Tac.
Da São Luis, domingo-pasmo às cinco da tarde, depois da morrinha-cinzenta, sofá de um céu: “Arranque meus olhos com um broche”. “A sabedoria é mais preciosa do que as jóias, tudo o que agente deseja não se pode comprar com elas. Provérbios 3:15.
Parede rugosa, dilatada, fendida, reentrância, zerbada. Glac a fender, fede, como a cidade ferve! O inimigo. Muros de betão, concreto armado, blocos à porta da casa judaica, ali. Augusta-rua. E a polícia na fiscalização da velocidade de semáforo. Eu disse que era céu-cinzento, sofá de infinito. Paredes fedidas, deslizantes, quase repetidas de papéis lambe-lambe: Verdurada, o inimigo Live by the fistt. Leptospirose, o cúmplice. Obnóxio, demasiado obnóxio. Speedkills +debate/palestra. Amanhã,hoje, aqui. A rua como palestra, debate silencioso fervilhante. Micro-short: 12,90 reais. Medo de dirigir: treinamento para habilitados.
ENQ TO
ALG M
FE TA
AINDA
QUER MOS
MOTIVOS
Plastificação, recargas de cartuchos, XEROX, OX, OBNOXIOUS. Massagem, drenagem linfática. Edifício Marachá, Bar do Matão. Atropelo a carpa, de novo. Soutiens pretos no lixo. Verdade. Preto. No lixo-chão, com beatas e cigarros, cigarros e beatas. Cego que fuma à porta do boteco. E as paredes reentrâncias. É domingo à tarde chuvoso, meloso, pachorrento, melancólio, obnóxio. Riso. Vermelho-semáforo. Vermelho-nariz. Dizer vermelho não é a mesma coisa que vertê-lo assim, humano.
FUTUROᴙUTU₣ (éfe-invertido) ex-Bush. Vivendo do ócio. Negócio.Negação do ócio. A repetição não é atestado de incompetência, limitação, handicap, é org|ânica-cidade-crônica-crónica. Vá, acorda-me na ortografia. Corrector ortográfico-humano. Ortografia Corretora.Horto-grafia, corre-tora, cor-re-to-ra, acordo-rotográfico. Língua em pornografia, exposta, deposta, caída, maniqueísta, maquiavel urbano vertido em língua, fala, axial, eixo. Tatuagens, body piercing, 1388 (um-três-oito-oito) Veja que. Vejo? Iacoooooo. Reflexões de um liquidificador. Service Unavailable...zip
domingo, agosto 15, 2010
Chegamos aos 40 e achamos que já sabemos tudo da vida. Não queremos ouvir as histórias dos outros porque já achamos que todas vão dar ao mesmo. Começam com a e acabam em z. Um alfabeto de vida tão simples quanto isso. Como se tudo fosse tão linear assim. Sabemos.
Chegamos aos 40 e somos donos das palavras e dos conselhos caros. Serão sempre caros, porque esse ar galante com que os dizemos torna-nos uma espécie de psicologia de botequim, mas com cadeiras forradas a pele. E um botequim com cadeiras forradas a pele exige uma certa elevação a categoria superior.
É. Chegamos aos 40 cheios de certezas, infladas, que a vida se resume a uma fórmula homogénea: sabemos-lhes as cenas, os episódios e até mesmo que o material em bruto sofreu cortes significativos. Sabemos sempre, até, quais foram essas edições propositadas. Chegamos aos 40 e temos receitas para as relações dos outros, e achamos que ingenuidade é tudo aquilo que não é igual às nossas fórmulas. Sabemos e achamos que temos de catalogar indelevelmenre a psicologia alheia.
-"Tens 30, com mentalidade de 30. Tenho uma amiga com 33 com sabedoria de 80."
É chegamos aos 40 e tornamo-nos ainda mais chatos, pois na verdade não sabemos realmente nada da vida. Estaremos sempre longe de o saber.
Aviso: resolvi parar nos 29. Tudo o que vier daqui em diante, será lucro de tempo que passará, sem passar.
terça-feira, agosto 10, 2010
Minimais
Diz qualquer coisa inteligente. Minimais. Inteligente? Minimais. O que é que isso tem de inteligente? Minimais é, por si, uma palavra inteligente: faculdade de ligar-algo-a... para estabelecer uma hipótese de compatibilidade. Como a inteligência: passar algo de um lado para o outro: vá lá: conhecimento. Uma hipótese de conhecimento. Minimais é o todo, pela parte do que queremos que seja o todo, ou que achamos que é o todo. É o mundo aí contido, porque as relações um-e-outro-todos-nós-outros-quaisquer-que-sejam são minimais. As pessoas também são mundo. E elas são minimais. Essa coisa de inventares palavras e de as colares à tentativa de realidade é uma coisa arrebatadora. Problemática. Tens sempre de explicar para te entenderem. Não é bem colar. É organizar o pensamento no espaço-tempo convencionado com o espaço-tempo de dentro. É sempre de dentro-para-fora-e-de-fora-para-dentro. Inspira-expira-inspira-expira. E é muito fácil de entender. Até mais explícito no exercício de entender, se lermos com atenção o óbvio. Desaprendemos a ler o óbvio. E perdemo-nos nas palavras.
Acordamos-vivemos-dormimos, acto contínuo, e achamos que a vida é isto, que nos entendemos todos muito bem, porque falamos todos a mesma linguagem. É uma ilusão. Não nos entendemos porque falamos todos linguagens muito diferentes. E essa não tem tradução, ilustrações, desenhos animados. Há-de haver um dia em que o cérebro dispara em circuito electrónico e temos no ecrã a reprodução dessa neblina cerebral todo o processo do-que-penso. Com todas a suas perversidades e angústias. Outra ilusão: primeiro a dos códigos que organizamos para processar essa informação, sempre baseada naquilo que conhecemos, restringindo o universo infinito do conceptual. O que existe para lá do infinito? Depois, a ilusão evidente da interpretação. Ela depende sempre da linguagem pessoal. A que construímos, que muda diariamente, e que se desajusta sempre um pouco- e ainda mais, por isso – aos outros-esses-nós-eu-tu.
E é aí que entram os minimais. São plataformas possíveis de entendimento. Ouve: plataformas, por isso, coisas fabricadas. Escadas; peças de leggo; chave-fechadura; tomada-ficha-eléctrica (alta-baixa-voltagem); sapato-38-pé-37;ião-positivo-negativo-positivo-positivo. Todos fazem parte do mesmo esquema funcional (disfuncional), mas não falam a mesma linguagem. São extensões naturais de um mesmo média, mas não compatibilizam. E em minimais fazemos sempre um esforço para forçar a entrada-a-saída. Sobretudo a saída!
Acordamos-vivemos-dormimos, acto contínuo, e achamos que a vida é isto, que nos entendemos todos muito bem, porque falamos todos a mesma linguagem. É uma ilusão. Não nos entendemos porque falamos todos linguagens muito diferentes. E essa não tem tradução, ilustrações, desenhos animados. Há-de haver um dia em que o cérebro dispara em circuito electrónico e temos no ecrã a reprodução dessa neblina cerebral todo o processo do-que-penso. Com todas a suas perversidades e angústias. Outra ilusão: primeiro a dos códigos que organizamos para processar essa informação, sempre baseada naquilo que conhecemos, restringindo o universo infinito do conceptual. O que existe para lá do infinito? Depois, a ilusão evidente da interpretação. Ela depende sempre da linguagem pessoal. A que construímos, que muda diariamente, e que se desajusta sempre um pouco- e ainda mais, por isso – aos outros-esses-nós-eu-tu.
E é aí que entram os minimais. São plataformas possíveis de entendimento. Ouve: plataformas, por isso, coisas fabricadas. Escadas; peças de leggo; chave-fechadura; tomada-ficha-eléctrica (alta-baixa-voltagem); sapato-38-pé-37;ião-positivo-negativo-positivo-positivo. Todos fazem parte do mesmo esquema funcional (disfuncional), mas não falam a mesma linguagem. São extensões naturais de um mesmo média, mas não compatibilizam. E em minimais fazemos sempre um esforço para forçar a entrada-a-saída. Sobretudo a saída!
domingo, agosto 08, 2010
sábado, agosto 07, 2010
quarta-feira, agosto 04, 2010
Cenas de Padaria
Tenho saído pouco à rua. De cada vez que abro a porta de casa e percebo que o mundo é uma possibilidade, outra vez, é como se ele se tornasse um contínuo psicoactivo. Tudo me parece novo. Alucinadamente novo e deslumbrante, sem que nada de extraordinário realmente aconteça. A Padaria do senhor Amândio, por exemplo. Um pedaço de Portugal, plantado no bairro de Perdizes. Misto quente e café para o fim de dia, naquele que seria lanche e jantar. Chapa a fervilhar. Quente-quente. E aquele homem que não pára de trautear uma música que nem ele sabe o que é. Atende-me. Põe o queijo e peito de peru na chapa. Tira o café. Corre para atender o cliente que quer pão, fiambre e queijo. Trauteia. Faz tudo de passos rápidos. Gestos céleres. Desconcertadamente céleres. Ficamos zonzos, rodopiantes, ansiosos.
Ele enrola tudo num papel reciclado. Põe dentro do saco plástico. Corre para a chapa quente. Trauteia. Assobia. Atende o cliente que quer Coca-Cola e batatas fritas. Corre para outro cliente-pão. Processo seguinte já mencionado. Trauteia. Abre o pão. Põe tampa em cima do queijo na chapa. Quase no ponto. Pão aberto. Sai batatas com Coca-Cola. Peito de peru e queijo enroladinhos no pão. Servir no prato. Trauteia. Frenético. Mais um cliente-pão. Pergunta básica: desde que horas você está trabalhando? Resposta: “A gente chega aqui umas sete, né! Falta uma hora para eu sair! Cê acredita que ainda não parei?"
nota de rodapé
Justificação para a quantidade de visitas deste blog, sem nenhum comentário: está escrito numa língua esquisita...
High-Tech-High-Tech-High-Tech-humpf....!!!
Não tanto quanto gostaria. Demasiado para o sossego da minha cabeça. Não-sou-high-tech-sou-high-tech. O Nitin é quem melhor entende do assunto: I´m a low tech man in a high tech world. Como será que se diz high-tech, quando o high tech já se ultrapassou, já não chega, já não é? Desculpa? Pré-História é o quê mesmo? Tem antes? Ah sim? Era? Foi? Como? Seu Gadget!
Não me lembro bem quando a minha vida high-tech terá começado. Mas talvez tenha sido quando o médico que fez o parto me bateu na pele flácida, enrugada, sangrenta, visceral, acabada de sair do quente e me pôs a chorar. É uma forma de tecnologia, milenar, mas que funciona, como quem diz “bem-vinda-miúda-o-mundo-é-isto-agora-aprende-a-respirar”. À bruta, claro. Sempre à bruta, como toda a tecnologia. (E, às vezes, até nos falta o oxigénio). Terá vindo, depois, não por esta ordem, mas por alinhamento evidente, o cobertor, outra tecnologia (nasci em Janeiro, em Portugal, por isso, certamente faria frio), o berço, o biberão, a chupeta, os tarecos-a-que-se-chama-brinquedos e outras coisas menos óbvias que a memória imberbe me ocultava. Salto, por isso, todo o resto da biografia garimpada de alta tecnologia que se transmuta em tecidos artificiais, para aquele écran negro, com espectros verdes para jogar computador que havia em casa dos primos. Ah: abrir-tampa-colocar-cassete-fechar-tampa-play erzzzzzzzzzzzzztziiiiiirzzzzzzzzzzzz: aquele barulho metálico e de contacto com extraterrestres (poderia jurar que deveria ser uma ligação intergaláctica; como é que será que eles nos chamam? "Terráqueos" não me convence) que poderia demorar entre 30 minutos a uma hora. Voilá: haveria todo um (admirável) mundo novo no ecrã – e sem extraterrestres, talvez da próxima. Agora, a coisa - a tecnologia pah-, até me deixa zonza. Não vou entrar em detalhes (são demasiados botões; demasiados manuais de instruções; "demasiado" em hipérbole-da-hipérbole-da-hipérbole). Gosto deles para a vida, e não para os acessórios artificiais que a fazem rodopiar (mais uma voltinha-mais-uma-viagem). Mas os meus detalhes são outros. As manhãs de inverno com sol, as surpresas e as vontades espontâneas. Preciso desses lembretes mentais para justificar a minha inércia anti-sofreguidão (embora caia nela, opostamente, todos os dias) para que não me sinta tão alienada desta bolha. (Fim de citação)...
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