Se há coisa que (des)aprendi no último dia, aqui em São Paulo, foi sobre a "calcinha brochante". Advirto, desde já, que o episódio pode ser impróprio para consumo. Claro que não se pode esperar muito de uma conversa com seis actores, uma jornalista e um director de cena experiente (provocador hormonal), à uma da manhã, num boteco em São Paulo, quando ainda não se jantou.
A Rua Augusta parece, porém, ser a única coerência deste episódio, micro-cidade da indústria do sexo dentro de uma grande metrópole como esta, onde se pode encontrar os mais variados exemplos das chamadas tribos urbanas. Há personagens como aquele de pele escura, que não chega a ser negra, de olhos azuis inquietantes, cabelo desgrenhado e roupa suja, com o bafo colado ao vidro, a ver, como se de uma vitrine se tratasse, algumas dessas tribos, encafuadas no boteco da esquina da Augusta com a Luís Coelho. Esse onde estávamos.
- “Você viu só, parece uma entidade. Baixou o Santo”, comentou R.
Mais uma, duas e não-sei-quantas-vezes de episódios semelhantes, num espaço de 5 minutos, seriam suficientes para fundamentar a tese. São Paulo é um lugar estranho. Habitável q.b., mas estranho. Estranho porque a vida acontece mais rápido do que a nossa capacidade de processamento. Talvez tenha encontrado, nisso, a explicação que me fundamenta as constantes tonturas que sinto ao deambular por ela. Fico sempre demasiado ansiosa, como se a taquicardia estivesse próxima. E se, naquela altura do personagem de olhos de azuis-penetrantes e perturbadores (não consegui encarar o olhar do homem, como se me estivesse a arrancar a alma, se existir), terá baixado uma divindade qualquer (o R. advertiu mesmo: “Se vocês derem a volta, vão perceber que aquele homem não está lá, é uma alma penada) também J. deixou cair a santidade que a pouca idade lhe atestava com um “odeio calcinha brochante”.
Não sei dizer, agora, por que razão o tema lhe veio à cabeça, mas acredito que tenha sido porque T. lhe perguntou que história era essa de ver “bonecos de banda desenhada” na hora do “vamo ver” com uma miúda, entre lençóis. A calcinha brochante tornou-se, pois, tema de debate à mesa melada do boteco. Saravá! Afinal, o que é isso de calcinha brochante? A fórmula sairia disparada da boca do “chaveirinho”:
- Ah, calcinha cor de pele, de cores pastéis, nem pensar. Já imaginou? É horrível. Se for para teatro, que a mulher precisa que não se note para estar em palco com a roupa, tudo bem. Agora no dia-a-dia, não. Depois tem aquelas que vocês usam que parecem shorts. Bom, para dormir é legal, agora para estar comigo não dá!
Ah, bom! Mas não estávamos, ainda, totalmente, esclarecidos.
Passou o caso para R.
Silêncio. Silêncio. Silêncio. Risos. Silêncio.
- Na minha opinião depende. A calcinha tem que ornar com a pessoa. Se for alguém muito clássico, formal, e nos surpreende com algo mais informal, ela tem que ter um corpo que segure o todo. Há mulheres em que as cores pastéis, ainda que eu não goste, pode ficar bem. Há lingerie que vista na mão, simples, sem corpo a moldá-la, parece vulgar. Mas, colocado num corpo que orne, pode-nos surpreender. Por, isso, na minha opinião, não podemos ser tão simplistas. Agora, cara, num momento de “não-rola-esta-lingerie” você pode sempre ter um ataque de fúria sexual e arrancar tudo. Só que aí tem um perigo, você pode perceber que o brochante não era a calcinha.
P.S. Eu avisei que este post era impróprio para consumo. E não estou certa de ter aprendido alguma coisa, ontem.
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