Tenho a certeza. Os políticos são amigos dos animais. Não há nada de cínico nisto. É a verdade abnegada, factual e comprovada, sem pretensiosismos ou sequer segundas intenções. Há, sim, uma certa solidariedade com o mundo animal no seu mais puro estado. Poderia ser mais fácil dizer que, enquanto animais racionais que somos (?) resgatamos a essência da nossa animalidade intrínseca nos momentos em que nos põem à prova. E isso acontece, sabemos, quando nos esgravatam as feridas, que é a mesma coisa que nos atirarem imediatamente ao ego. Plac. As palavras são balas nele. Quando não atingem o alvo respectivo, deixam, no mínimo, efeitos colaterais. E isso pode ser coisa feia de se ver.
Na verdade, vão somos muito diferentes dos políticos. Mas acredito que temos de fazer a devida destrinça entre uns e outros. Esqueçamos a objectividade jornalística, até porque, também sabemos, rigorosamente, ela não existe. E com isso colocamo-los no seu devido lugar. São uma classe à parte, basta para isso que a “profissão” lhes atenha uma manifesta exposição pública, o que traz sempre atrelado uma pesada dose de responsabilidade. Como tal devemo-lhes cobrança. Pelas falácias, pelos erros, pelas incoerências. Só não podemos contestar medidas para o bem nação. Até por ela se pode ter um Estado de excepção, por isso, nada nos garante justiça e um sono tranquilo. Tudo pela nação. Em vão. Na retórica há sempre uma certa imunidade. É o jogo pelo jogo. O pragmatismo está fora de prazo. Fora de moda.
E isso tem tudo a ver com o facto de os políticos serem amigos dos animais. Alguns até bastante esdrúxulos para o nosso imaginário comum. São amigos dos animais por tudo isto: vejo a classe, diariamente, a imitá-los nas suas mais variadas formas. Vá, só pode haver aí uma grande dose de amor pelas espécies. O que, de certa forma, reaviva a tese de Darwin. O evolucionismo está chapado na política. Com uma boa notícia para a Antropologia, e nem por isso para nós: podemos ver esse espectáculo, gratuitamente, em qualquer parte do mundo, desde que estruturado por uma máquina política que nos permita o exercício da arte do palavreio e do logro. Quanto logro!
Estes animais, perdão, políticos gozam de um belo estatuto de impunidade e imunidade. Quase a mesma coisa, mas há que colocar as coisas no seu devido lugar. Até porque as gralhas, da classe dos que tanto falam sem nada dizerem, nada têm que ver com os vampiros, perdão os morcegos, que se escondem da luz e atacam em busca de sangue pelo breu (por falar nisso já se vacinou contra a raiva? A mordida deles é implacável). E os cães, que tanto ladram, como alguns, sem morder, como que acometidos por um daqueles ataques enraivecidos, desatam a morder para todos os lados. Há ainda os burros, os camelos, as serpentes esguias, as raposas, as lebres, as girafas que tudo espiam, as galinhas a chocá-los, as águias, os ratos, tantos ratos, doninhas fedorentas, as esquálidas minhocas, que não fazendo parte da categoria do grande porte, amigam com as pulgas, as carraças, os piolhos e, no limite, os parasitas.
Depois há os porcos. No livro de George Orwell eles triunfavam. E falavam. O mais surpreendente é que falam. E andam por aí, nos parlamentos, a dar entrevistas, com as faces rosadinhas, também. Alguns parecerão até toucinhos nesta época do ano. É o calor que voltou e parece ter vindo para ficar. Ah ainda, a nobreza da classe: os gatos, pachorrentos, oportunistas, colados à conveniência de uma negociata ou coligação velada, silenciosa. Talvez pura propaganda como a do Ignacio Ramonet. Essa oculta que todos vemos, mas não ousamos revelar. Parecer-nos-à sempre um pouco mal e despropositado porque o que vemos não pode, necessariamente ser provados. E isto porque há fortes possibilidades de o primeiro-ministro ser dessa classe de felídeo traçado com suíno. Simples de explicar: em conversa, ontem, com o meu pai confirmou-se-me um pensamento que eu e a Carolina já havíamos comentado há um ano do outro lado do Atlântico.
Dizia-me o progenitor, com cerimónia e seriedade, que ainda assistirá, sem dúvida, a uma outra ditadura em Portugal. Pus-me a pensar no óbvio da conversa, além de já o ter pensado sob outros contornos. Ele continuava: este primeiro é apenas um bode expiatório. Um pau-mandado que obedece a ordens superiores. E essas ordens superiores, pensava eu, vêm do lado tirano que uma Federação como a Europeia. A imposição, as regras rigorosas, os compromissos que não conseguimos cumprir, hoje essencialmente naquilo que é o pilar da união europeia, a económica, e a ditadura alemã, que sempre existiu, para o orçamento comunitário. Mas isso é só uma gotinha no todo. O que realmente assiste a tudo isto, sendo os porcos traçados de felídeos os grandes triunfadores da elite política é que a ditadura já existe. Explico-me: a democracia é também ela uma forma de ditadura consentida, silenciosa, mais nefasta porque encoberta que a autocracia.
Não falemos de ideologias, mas se efeitos colaterais, de actos concretos. Até pode ser que o primeiro seja um bode expiatório de algo mais concertado a uma escala macro. Que o seja, mas não deixa de ser mandatário de uma ditadura, que está aqui no nosso dia-a-dia. E que parece não haver outra forma de a vencer. Vivemos sob ela, silenciosos, porque tudo é consentido, pelo bem da nação.
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