Os classificados do jornal anunciam que homem branco, 38 anos, chamado Kliforf Bertz desapareceu na madrugada de anteontem. Vestia calças castanhas, vincadas, gastas, puídas, cunhadas com a marca “Dos Hermanos”; camisa axadrezada, estilo toalha de mesa italiana- vermelha e branca. Foi visto pela última vez na rua Karl Marx,
às 23h09m, enquanto tentava atravessar a rua. Na altura, o rosto tinha uma barba rala de três dias, usava sapatilhas estilos anos 80 e corria “como se estivesse a fugir de alguém”. As informações foram apuradas pela polícia, a partir do relato de um mendigo que dorme no Jardim da praça Lenine, no cruzamento entre as ruas Karl Marx e Pedro II. O mendigo – mais tarde apuraram qual a chapa de cidadão nacional, embora o sujeito não portasse bilhete de identidade – gesticulava sempre que falava, como se estivesse a espirrar tinta com as mãos para a anarquia branca de uma tela virgem. As autoridades que levantaram diligentemente a informação – apenas falhando nas vírgulas e na ortografia – tiveram de acreditar, temporariamente, na palavra do homem, que se auto-intitulava Picasso. “É nome, não apelido. Minha mãe achou que era aberração da natureza, disforme e parido sem ser convidado pelas graças da Humanidade. Alguém lhe falou do pintor. E ficou Picasso, simplesmente. Mas com “kapa”: Pikasso! Sou pastor de rua. Ajudo as pessoas a encontrar o caminho para casa".
Sem comentários:
Enviar um comentário