فانيسا
domingo, abril 29, 2012
sexta-feira, abril 27, 2012
segunda-feira, abril 16, 2012
Na Cabeça de Mãe
"Na Cabeça de Mãe" é um texto sobre a fome de Valter, os filhos paridos, as malandrices da infância, um cachopo hiperactivo que mora num pátio amarelo e prefere as persianas fechadas para criar. Tentámos entrar na cabeça daquele que o Nobel da Literatura Portuguesa, José Saramago, chamou de "tsunami literário". Assino a prosa para o blog da editora brasileira Cosac Naify, a propósito da publicação de "O Filho de Mil Homens" de Valter Hugo Mãe, no Brasil.
Podem ler AQUI, oficialmente.
Wishlist 2012
Acho que me esqueci de a fazer, mas vamos sempre a tempo, porque, parece, o ano só começou para mim estes dias, depois de sobreviver a um acidente de carro e a estilhaços e despojos de uma guerra imprevista, interna, consta; de azares e outras coisas mundanas que mais parece que alguém há-de ter rogado uma praga (antítese de mim), como se estivesse destinada a dar errado. Mas vai dar tudo certo, sabemos. E eu deveria ter sabido de como seria o arranque de ano porque comecei-o a levar com uma bola, que parecia globo, forrado de espelhos, tipo anos 80, precisamente no primeiro do ano, na cuca. Foi a primeira pancada na cabeça, ou galo; a segunda viria em finais de Fevereiro num bar-café do Porto chamado Candelabro, com direito a gelo e nódoa negra e aquele alto de galo cantante. O terceiro (e de vez) depois do acidente. Cumprida a tríade de poleiro na minha cabeça, acho que estou apta para reinventar a vida e sacudir coisas velhas. Daqui em diante, recomeçamos, porque no fim, sempre o fazemos. Logo, a wishlist 2012 tem vida:
- Viajar-viajar-viajar;
- Fotografar;
- Realizar os projectos planeados (work in progress);
- Voltar ao desporto intensivo (já estou a tratar disso) e a uma arte marcial (idem);
- Fazer um curso de medicina védica (check);
- Escrever aquilo; plantar a árvore e o filho há-de vir para depois;
- Viver um grande amor (disse-me um passarinho verde).
- Mimar e continuar a ser mimada pelos amigos e meus;
- Realizar e viver algo novo, não planeado.
- Mens sana, in corpore sano.
- Ir
- Não me esquecer de me lembrar de mim acima de tudo. Está visto que ninguém merece a perda da nossa energia.
quinta-feira, abril 12, 2012
Contra o Dia
Contra o dia, Thomas Pynchon (Companhia das Letras, Brasil)
“Isso durou um mês. Aqueles que julgavam ser um sinal cósmico estremeciam ao olhar para o céu a cada entardecer, imaginando catástrofes cada vez mais extravagantes. Outros, para quem o laranja não parecia um tom adequado ao apocalipse, ficavam sentados em bancos de praça, lendo tranquilos, acostumando-se com aquele curioso brilho pálido. À medida que as noites foram se sucedendo e nada acontecia e o fenômeno em pouco tempo foi se reduzindo aos tons habituais de violeta, a maioria das pessoas já não se lembrava da tensão, da sensação de aberturas e possibilidades, que haviam experimentado antes, e mais uma vez voltaram a pensar apenas no próximo orgasmo, alucinação, estupor, sono, para que pudessem atravessar a noite e proteger-se contra o dia.”
quarta-feira, abril 11, 2012
O amor é uma droga pesada (?)
Devo ter lido este título algures, porque sinto que ele não veio do nada, mas consegui amarrar os dedos antes de cair na tentação de fazer uma procura virtual para explicar a associação livre. É, na verdade - porque, às vezes, a mentira em que vivemos também nos acomete como se fosse a realidade - toda uma dependência que nos turva a lucidez, quando misturada com paixão, mas até agora nunca me arrependi de ter amado com a toda a intensidade que a vida me permitiu, mesmo que isso signifique ter, no fim, o peito apertado, insónias, saudades, um turbilhão de memórias perdidas, mágoa, e acordar de manhã com a esperança de que tudo não passe de um pesadelo (e hoje até sonhei com vários tipos de cobras), ou de uma piada de mau gosto, porque nos dói, porque temos o peito apertado, porque parece que perdemos a respiração, porque, afinal, e é só nisso que pensamos, parece que nada fica, depois de uma intimidade partilhada. Talvez esteja errada, mas sinto sempre tudo isto à flor da pele, como uma ferida aberta, porque magoa e eu não lhe fico indiferente. Em norma, demora a cicatrizar. E a indiferença magoa-nos. Acho que é o que mais nos magoa. A incólume sensação de um nada e de estarmos, então, a sofrer em vão, pelas razões e decisões que não vêm ao acaso.
Tudo isto porque a Julie, ontem, disse algo que me assustou verdadeiramente. Que ela, agora no rescaldo do final de uma relação que durava há pouco mais de 3 anos, tinha sentido isto: começara a entender as mulheres que apanham dos maridos. Começara a entender por que razão há mulheres que se sujeitam a tudo pelos parceiros, sem coragem para uma decisão que possa melhorar a vida delas e devolvê-las àquilo a que têm direito: a dignidade a uma vida sem opressão, desprezo, maus tratos. A uma vida. Eu fiquei a remoer naquilo e ia dizer que discordava. Antes disso, ela afirmou que entendia melhor as mulheres que se sujeitam a opressão psicológica, a estarem com parceiros que as maltratam e continuou a tese. Depois rematou: - É, sabem, o Amor é uma droga perigosa. Eu discordei. Posso até nem ter razão nenhuma, porque afinal, não entendo nada do tema, porém apeteceu-me afirmar: - Não, o amor não é nada uma droga perigosa. É algo belo e digno e uma das melhores coisas da vida quando é verdadeiro. No fim da vida é só isso que importa. É que, às vezes, confundimos o que é amor. E isso minha cara não é a amor. Amor deve ser outra coisa. Um leve psicoactivo, mas em pleno direito de dignidade. É só preciso aprendermos a identificar a coisa e isso pode demorar anos. Ainda assim, no meu caso, disse-lhe, sei que era Amor, mas não podia, evidentemente, consumi-lo sozinha, e aprenderei, claro, a esquecer e a transformar os afectos.
Workshop de Escrita/Reportagem de Viagem
Tragam os blocos de notas e vontade de degustar o mundo, com os seis sentidos. Vamos apurar vidas, saborear o tempo e respirar histórias na reitoria da Universidade do Porto nos dias 10, 11, 17, 18 e 25, das 19h-21h e dia 27 de Maio (10h-13h).
Mais informações aqui:
terça-feira, abril 10, 2012
Trocar de corpo
O Flávio diz que as mulheres quando imitam os homens tendem a abrir as pernas. A Lu tentou arranjar uma explicação para o fenómeno. O Tiago diz que é impossível mudar os papéis: que um homem não poderá ser nunca mulher, e que mulher não consegue atingir o nível aceitável de uma imitação. A mim ocorre-me o seguinte para uma peça de teatro: vamos trocar de corpo só esta noite?
Não tenho Nina, mas gostaria
Há um medidor: farejamos como cães de caça uma boa história, quando lhe sentimos o olor. É um cheiro pegajoso, obsessivo, ao qual ficamos viciados de imediato, sem uma explicação aparente. É um todo sensorial, suspeito, também e demasiado íntimo; porque podemos ficar nus com os cheiros que nos incomodam, que repelimos, ou que nos magnetizam de alguma forma; e eu até sou muito esquisita com cheiros; com o da pele de um homem, com os que derramo em mim, com os que me tocam. Por isso, também tinha de o ser com as histórias que quero contar; que gostaria.
Porém, sei-o, tudo isto é já intuitivo. Posso até farejar uma boa malha a ser esgalhada, mas se não lhe gosto do cheiro, não haverá rinite alérgica ou algodão manso nas narinas que me consiga disfarçar o aroma. E, para as histórias, que é o que interessa nesta prosa, tudo começa assim: há as primeiras notas: ácidas, mas depois doces e ternurentas, como se a história já fosse nossa e, por isso, já consideramos que harmonizamos, em liquefeita poção boticária, os odores. Já imaginamos as perguntas; temos a história na nossa cabeça e esse é o tesão de escrever, de gostar de contar. Eu sou viciada em histórias, em histórias de gente, em histórias com gente, afectos, emoções, amores, desamores, paixões, vidas vividas, daquelas que conseguimos perceber que deixam cunho em árvores maduras. Adoro o som das palavras, o cheiro delas, o mofado, até, e de as pôr em causa, em improváveis combinações.
No enredo das conversas, emociono-me sempre e não consigo escondê-lo. O mesmo vale para o meu ar de asco. Já lacrimejei a entrevistar, já me envolvi demasiado na vida dos outros que estava a contar. A escritora Isabel Allende arranjou o antídoto para esta opressão: deixou de ser jornalista e passou a ficcionar. Gosto de juntar o melhor dos dois.
Ocorre-me tudo isto porque hoje outra Isabel, a viver em Nova-Iorque, e de passagem pelo Porto, pôs em alerta o meu faro. E esta história eu gostaria de contar: há uma mulher, branca, hoje com mais de 80 anos, que ela conhece que foi secretária e confidente da cantora, compositora e pianista norte-americana negra Nina Simone, ou Eunice Kathleen Waymon. Confidentes, amigas, cúmplices. Senti a campainha de Pavlov. Senti. Não me perguntem porquê. Mas talvez seja por isto: porque sou apaixonada por mitos para desmistificá-los (um evidente pretensiosismo), mas, sobretudo, para provar a tese de que a linguagem da criação é pura catárse, e aqueles que a encontram sejam um pouco mais felizes e entendam, num outro plano, o que poderá ser o melhor da vida.
quinta-feira, abril 05, 2012
quarta-feira, abril 04, 2012
A vida em fracções de segundo
É tudo muito rápido, superlativo de veloz e posso afirmar, sem dramatismos, que vivemos a vida num buraco quântico e que tudo o que agora é, poderia, por essa mesmíssima fracção de segundo, nunca mais o ser. Somos e já não somos. Desaparecemos. Vivemos a vida que nos resta, nestas circunstâncias que se seguem, em fracções de segundo. E viver a vida em fracções de segundo, em alta velocidade, é não ter tempo para pensar em mais nada a não ser nisto: morro. Pela primeira vez, vivi a vida do que me poderia restar em nanosegundos.
Não há luz no fundo do túnel, não há flashback, não pensamos em ninguém, em coisa nenhuma a não ser um vazio preenchido por fracções de tempo do que está acontecer. E o que acontece é uma morte anunciada, o fim do corpo, o fim de tudo, o fim do nada. Já o disse, foi tudo muito célere, enquanto dançava a valsa de um desastre, para voltar. Houve pancada forte na cabeça, no corpo, e um breve e célere desfoque de tudo e depois um negro fundo de apagão real (mas não neurológico) e as faíscas vivas, metálicas, dos rails da estrada a roçar no carro. A mota com sidecar atravessou-se. O meu tio conseguiu guinar à esquerda, terceira faixa, sem ter tempo para perceber se outro carro vinha de ultrapassagem; conseguiu segurar o carro, nunca travou a fundo, nunca reduziu e tomou o controlo depois da elevação da retaguarda que me projectou para o lado direito.
Sim, depois chorei muito, com a adrenalina a correr pelo corpo, tremendo ao limite do equilíbrio em pé, e sabia que a pancada na cabeça poderia ser grave; ordenei, dolorida, que tinha de ir ao hospital. Ao hospital. Ao hospital. Agarrei-me à cabeça, com as mãos quentes, às dores dilacerantes e agudas e respirei fundo. Respirei fundo, mas as lágrimas não me obedeciam. Ainda consegui pôr uma garrafa de água fria pela nuca abaixo. O raio-x tranquilizou. As dores persistem, mas isso é porque o corpo paga aquilo que a morte não levou, com a sorte de que não tinha agenda para mim, pois talvez estivesse a ouvir piano e ocupada com a paixão, como nas "Intermitências...." de Saramago.
Passadas as 48 horas não houve nem vómitos, nem náuseas, por isso foi só um susto, uma sorte, o que quer que seja, para apenas ir redescobrindo, nestes dias, hematomas e inchaços que desconhecia e um enorme galo na cabeça de ambos os lados. Se sobrevivi foi porque a carta roxa não era para mim e fico feliz por poder estar em dias de Primavera por aqui.
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