vanessa rodrigues |
Times Square à uma da tarde é o horror dos amantes do zen budismo. À tarde será pesadelo. À noite, não há camisa de forças que acalme a alma mais tranquila, pois estará, sem sombra de dúvida, a ansiar por um tranquilizante, nem que seja o beijo postiço da cowgirl de mamas pequenas e saias curtas, à procura de um níquel para a bota, na praça.
Ao invés: a rua mais iluminada de Nova-Iorque é o delírio do mundo da modernidade líquida; da euforia do pós-pop, neo-pós-modernismo; a quinta vaga; Saravá ao Andy Warhol que nos faz ansiar por 15, uns 15 minutinhos de ribalta. E ficará sempre bem dizer que tudo isto é um admirável mundo novo, para quem nunca viu nada semelhante. A luz piscante, vestida de anúncios high tech a imitar tijolo, painéis gigantes. O futuro é agora e está na praça Times.
A cow girl já nem repara, porque tem a percepção viciada. Quando as coisas nos são demasiado próximas e familiares, ficamos como que cegos ao redor, porque tudo é demasiadamente comum e entranhado.
E há profissões mais difíceis, convenhamos, embora esta não tenha parecido, razoavelmente fácil, ainda que ela sempre possa poupar no uniforme. Mas sempre tem a incoveniência de beijar homens bafo-de-onça por um dólar. Dizem as más línguas que a moça faz uma pequena fortuna diária. Dizem. Não tive tempo de averiguar (falhei no artifício da verification) e, à uma da tarde, não imaginava sequer que pudesse vir a exercitar a técnica do zen budismo para encontrar alguma coerência.
A Sofia arranjou um mapa. O Victor entretêve-se a fotografar. Minutos depois cada um para a sua coordenada e a Ana, a minha anfitriã inexcedível, já estava à minha espera.
vanessa rodrigues |
Primeira descida aos infernos, linha vermelha, linha expresso, rua 95, sair à esquerda, atravessar, depois do semáforo verde, procurar o número e voilá, em menos de 15 minutos estava à porta de casa. As escadas de emergência a ilustrar o cliché das casas de Manhattan. A cor de tijolo escuro a pincelar a palete; um azul-technicolor maravilhoso, apenas três escadas até à porta e: então? Cadê a campaínha? Olho, investigo, explora com afincado esmero national geographic e nada. O prédio, pois parecia, estava desprovido de tecnologia sonora para avisar quem nos espera que chegamos. E olho para cima. E olho ao redor. E tento telefonar do telemóvel português, mas por alguma razão, ainda não estou familiar com a técnica. E sento-me. E espero. E ocorre-me: uma cabine telefónica. Conhecer, por isso, o redor à força, com o empurrão das circunstâncias. Ao virar da segunda esquina: uma espécie de salvação de emergência: a loja de conveniência, e $ 5 por um cartão telefónico. Na outra esquina, a cabine. Dial 1, Dial 2, Dial 2. Forget it! Nada. Algo acontece. E não é para dar certo.
Segunda eureka em 5 minutos: se houver Starbucks por perto, pode ser que ela veja o e-mail. Acontecesse isto diad depois e a Ana não teria mesmo acesso aos e-mails, nem net, apenas um quid pro quo entre ela e a superintendente. Amigas para sempre!
Vem a primeira starbucks e faço aquela figura típica da comunicação não verbal que a maioria faz se não estiver sentada espetada a olhar para um computador: estou em pé com o meu iphone à procura de wireless gratuita para ver os e-mails e avisar a Ana de que já cheguei. Nisto passou meia hora. Mensagem enviada. Mensagem recebida. Missão cumprida. Tivesse eu Whistle e o mundo teria sido mais fácil nesse dia. Ainda assim, teremos sempre Starbucks...uma espécie de kit de emergência wi-fi. God save the wi-fi, then!
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